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Sem pai

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Rubens Lemos Filho

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O mínimo a ser feito no domingo de saudade é ser solidário aos amigos que perderam o pai. Temos, todos os órfãos, o sentimento comum do desamparo, seja a idade de cada um de nós. Sou pai sem pai. E sei que há 23 anos, me acompanha um buraco na alma. 
Meu pai não foi provedor, deixou a desejar no comando familiar, mas me amava. Não posso cobrar dos meus filhos, frutos de uma geração digital e seca de afeto, tratamento sequer parecido, embora sinta a ausência de maior carinho. 
Perdi meu pai aos 29 anos, idade que tem meu filho mais velho. Enquanto ele  me tem às ordens, eu gostaria de dois dedos de prosa com Rubens Lemos nem que fosse em sonho ou em aparição quando o visito no Cemitério do Alecrim, ele acompanhado do seu amor maior, minha mãe Isolda, falecida em janeiro deste ano, vítima de Covid-19 e outras complicações dela decorrentes. 
Ao escrever, vou fazendo um encontro de contas com o tempo, concluindo que, desde determinado período,  não tão distante, minha rotina é acordar e buscar notícias, tornando o Dia dos Pais tão banal quanto uma terça-feira, o mais comum do calendário.  A terça nem é começo nem fim. É a preguiça do fim de semana se esvaindo para o fôlego da reta final tomar um gole de renovação. 
Tenho problemas de saúde que expõem o desconsolo. Me sentir sozinho é desafio que estou enfrentando ao procurar no passado as companhias leais que a vida substituiu em períodos ocasionais de poder, pelos oportunistas ou traíras. Culpa minha, pela ingenuidade. Não deles.
Falta aquele cochicho com a referência paterna para apontar caminhos, quesito que certamente Rubão cumpriria à risca, pois, se nunca soube o que era material na acepção da palavra e da prática, conhecia com olhar terno e lacrimoso, as bondades e bandidagens da espécie humana. 
Sem ele, caminho com tensão e atenção redobradas. Olhando teto, espiando o chão, na travessia da fé em um futuro digno e uma morte sossegada. Quem não tem pai, esquece de dar importância a cronômetros e projeções além do otimismo simplório. Deixa a vida assumir o leme, cantando baixinho o verso da canção-poema de Zeca Pagodinho. 
O samba é uma estocada nas recordações do meu pai, especialista, quem sabe dos maiores de Natal, em batuques e versos de homens simples como Jorge da Silva, compositor de morro que escreveu versos sobre jornais sanguinolentos como tivemos em Natal: “Vejam só este jornal, é o maior hospital, porta-voz do bangue-bangue e da Policia Central”. Quem escreve algo tão primoroso, sendo analfabeto, mereceu  a honra da paternidade. 
O futebol também e sobretudo me põe a pensar no meu pai, comentarista e editor de jornal especializado no assunto na época de estádio superlotado com 50 mil pessoas numa tarde de ABC x América em 1976, recorde de público local. O futebol de hoje não será jamais o futebol que o meu pai me ensinou a amar. 
Lírico e boêmio, apreciava a suavidade, a magia do que chamava de balé-bola, arrebatado pelas jogadas de Jorginho, o Professor, Cileno, Cadinha, Cocó, Ney Andrade e o maior entre todos, Alberi, no sítio do Estádio Juvenal Lamartine. Petinha, o artilheiro que levou ao Paraná. 
Apaixonado pelo talento de Véscio, Saquinho, Assis, Pancinha, Cezimar Borges, Wallace Costa, do América, Pedrinho, Valdomiro, Vasconcelos, no guerrilheiro Alecrim dos anos 1960. Todos eram pais do meu pai que também entrou no redemoinho sem meu avô. 
No Castelão (Machadão), Rubão era filho e me levava de neto informal de Danilo Menezes, Marinho Apolônio, Silva, Dedé de Dora(ah, como ele amava a canhota de Dedé), Scala, Djalma, Hélcio Jacaré, Humberto Ramos, Ivanildo Arara, Ailton, Valério, no América, Odilon, pequenino tal filho menor, pelo Alecrim, no qual admirava a raça de Edmo Sinedino, seu companheiro de concepção de mundo. 
Que Deus me dê, neste domingo, o anestésico emocional para não chorar. De tristeza, solidão e cansaço. De verdade, exaustão. Sei, como todos os que não podem abraçar quem querem, o quanto a presença para nós seria o presente. Impossível de ser encontrado no comércio onde  não vende sentimento.
Grana 
Sou intransigente na defesa dos torcedores humildes, até porque minha vida sempre foi modesta. Ocorre que o ABC, se quiser a classificação para a Série B, precisa de grana e grana não cai do céu. 
Despesas 
O ABC trouxe reforços para compensar contratações ridículas indicadas pelo técnico Fernando Marchiori. Com os indicados dele, o ABC teria dificuldade de passar de fase. 
Melhores 
Os novos nomes são melhores. São caros. Daí a necessidade de se majorar o valor dos ingressos. 
Dor 
Dói no bolso e no coração de quem não pode pagar. A Série C deste ano é das mais difíceis da história do ABC,  até do que a do título de 2010. 
Recompensa 
O acesso fará esquecer qualquer aumento de preço. Tomara. 
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