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Sem palavras

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Os políticos são habilidosos na escolha da hora da fala e do silêncio, mas hoje já não é deles o domínio da retórica. Naquele sentido aristotélico que deu ao mundo, bem guardadas as proporções, a arte de falar a poucos ou muitos, nos salões ou a céu aberto. A vida política é hoje, quase sempre – feitas as exceções – uma conquista do poder econômico. Ter ou não ter é a questão em jogo na busca de um ofício importante e cercado de privilégios por todos os lados.
Ainda vivi, como repórter, um resto daquele tempo dos últimos oradores no fulgor do manejo brilhante das palavras. Ouvi Aluízio Alves, Cortez Pereira, Odilon Ribeiro Coutinho, Djalma Marinho. Guardo pedaços de frases que ficaram pregados na memória. Quando foi receber o navio Hope, no cais do porto, sob o sol de uma tarde azul, ouvi Cortez Pereira tingir a luz verânica daquela hora ao dizer, sublime: “Grande navio branco que se chama esperança”. 
Quando Aluízio Alves foi derrotado por mais de cem mil votos, ocupou uma cadeia de emissoras de rádio, no domingo seguinte às eleições, ao meio-dia. Dos estúdios da rádio Cabugi começou seu discurso, para reconhecer a vitória de José Agripino. Assim: ‘Nunca desejei tanto vencer”. Ou Djalma Marinho, vendo Natal fugir de suas mãos, mas vendo aquela fuga de votos como o forte e inevitável canto de rebeldia: ‘Natal não é de ninguém. Natal é da liberdade!”. 
O despreparo intelectual dos jovens políticos, a função apenas de porta-vozes de grupos étnicos, econômicos ou religiosos, e o marketing, foram contribuindo, nos últimos anos, para a degradação da retórica. Prevaleceu o fulgor do poder econômico a transforar o mandato numa forma de vaidade. Para alguns, não basta a sólida condição financeira. É preciso ostentar um broche dourado de senador ou deputado federal na lapela, do abre-te portas ao abre-te, césamo!
Aliás, se há uma gloriosa nobreza é a arte de bem declarar. Hoje, quem declara bem no Rio Grande do Norte, se não é petulante desafiar? Quem? Se há, não leio nos jornais que chegam aqui, nem ouço nos noticiários que enchem os ouvidos. Nossos políticos com razão ou desrazão primam pela banalização da palavra, a construção vulgar. Raramente vem à boca o gosto bom e forte da declaração sob medida, nem mais nem menos, com o ritmo e a força das metáforas. 
A retórica será sempre um jogo arriscado e sensual. Feito de acertos e erros. Se para Aristóteles, na sua Retórica, a metáfora é a grande marca da elegância, é justamente no jogo metafórico que a palavra acende a chama da emoção ou da ira, o fogo do sagrado ou do profano, o leite da virtude ou o fel do pecado. Como no exemplo de Péricles, quando culpa a guerra por roubar dos olhos a beleza da primavera. Um dia, quem sabe, a palavra voltará como uma arte.
CRISE – Enquanto o trade oficial, como sempre, ensaia a euforia do seu velho e tão carcomido ‘tudo bem’, 41% dos restaurantes e bares fecharam o mês de junho com a marca do vermelho.
SERTÃO – A antropóloga Lilia Schwarcz elogiou a UFRN pela edição de ‘O sertão de Oswaldo Lamartine’, em cinco volumes. O mais importante lançamento deste ano. Pelo menos até agora. 
DÚVIDA – Depois de meses desaparecido, JLM ressurge na tela com uma pergunta enviesada e capciosa: “Se o segundo turno for entre Fátima Bezerra e Styvenson Valentin, quem vence?”.
PIOR – Achou pouco, faz outra mais cabreira que a coluna passa ao leitor e confessa não saber responder: “O eleitor puniria o PT, derrotando Fátima; ou a si mesmo, elegendo Styvenson?”. 
CHARME – Na capa da Marie Claire, nas bancas, a atriz Isabel Teixeira, intérprete da ‘Bruaca’. Com charme e sensualidade que os telespectadores da novela Pantanal nunca viram na telinha. 
ERRO – O porto será em Caiçara do Norte pelo erro que foi erguer a Ponte Newton Navarro na boca-da-barra e sem permitir a passagem dos grandes navios. Cargueiros e de passageiros.    
POESIA – Do poeta Ricardo Silvestrin, três versos do poema ‘Sacos’, da sua ‘Carta Aberta ao Demônio’: ‘Em quantos sacos de lixo, / sacos grandes de cem litros / vai caber todo o passado?’. 
TRAIÇÃO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, na tarde bêbada, olhando o andar da figura que passava pelo beco: “A inveja é o penúltimo fracasso. O último é a traição”.
ALUIZIO – Depois de mais de cem anos do seu nascimento (1921-2006), mais de cinquenta do seu governo (jan/1961 a jan/1966), as ideias de Aluízio Alves continuam mantidas pela História, acima das críticas dos contemporâneos e garantidas pelo julgamento isento do tempo.  
HISTÓRIA – É o que fica demonstrado no livro “A Aliança para o Progresso e o Governo João Goulart (1961-1964)”, de Felipe Pereira Loureiro, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de S. Paulo (USP), quando estuda, também, o papel dos governadores brasileiros.  
POSIÇÃO – Com Aluízio, o RN liderou nos valores transferidos pela Usaid para o Brasil, entre janeiro/62 e julho/63. Para o professor Loureiro, “Aluízio era um político conservador, porém defensor de uma abordagem modernizante”. E afirma: “Já despontava como um líder regional”.   
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