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Sem piscar os olhos

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Paulo Coelho – escritor

Durante uma guerra civil na Coréia, certo general avançava implacavelmente com suas tropas, tomando província atrás de província, e destruindo tudo o que encontrava a sua frente. O povo de uma cidade, ao saber que o general se aproximava – e tendo ouvido histórias de sua crueldade – fugiu para uma montanha nas cercanias.

As tropas encontraram as casas vazias. Depois de muito vasculhar, descobriram um monge Zen, que havia permanecido no local. O general mandou que ele viesse a sua presença, mas o monge não obedeceu.

Furioso, o general foi até ele:

– Você não deve saber quem eu sou! – esbravejou. – Eu sou aquele capaz de perfurar o seu peito com a minha espada, sem piscar os olhos!

O mestre Zen virou-se e respondeu serenamente:

– O senhor tampouco deve saber quem eu sou. Eu sou aquele capaz de ser perfurado por uma espada, sem piscar os olhos.

Ouvindo isso, o general curvou-se, fez uma reverência, e se retirou.

É tudo uma questão de tempo

Um judeu ortodoxo aproximou-se do rabino Wolf:

– Os bares andam cheios, e as pessoas varam a madrugada divertindo-se!

O rabino nada respondeu.

– Os bares andam cheios, as pessoas passam a noite em claro jogando cartas, e o senhor não diz nada?

– É bom que os bares andem cheios – foi o comentário de Wolf. – Todo mundo, desde o princípio da criação, sempre desejou servir a Deus. O problema é que nem todos sabem a melhor maneira de fazê-lo. Procure julgar o que acha pecado, como se fosse uma virtude. Estas pessoas que passam a noite em claro estão aprendendo a permanecer despertas e persistir em algo. Quando se aperfeiçoarem nisso, tudo que terão que fazer é voltar seus olhos para Deus. E que servos excelentes eles serão!

– O senhor é muito otimista – disse o homem.

– Não se trata disso – respondeu Wolf. – Trata-se de entender que qualquer coisa que fazemos, por mais absurda que pareça, pode nos levar ao Caminho.

É tudo uma questão de tempo.

Asuspeita que transforma o ser humano

O folclore alemão conta a história de um homem que, ao acordar, reparou que seu machado desaparecera. Furioso, acreditando que seu vizinho o tivesse roubado, passou o resto do dia observando-o.

Viu que tinha jeito de ladrão, andava furtivamente como ladrão, sussurrava como um ladrão que deseja esconder seu roubo. Estava tão certo de sua suspeita, que resolveu entrar em casa, trocar de roupa, e ir até a delegacia dar queixa.

Assim que entrou, porém, encontrou o machado – que sua mulher havia colocado em outro lugar. O homem tornou a sair, examinou de novo o vizinho, e viu que ele andava, falava e se comportava como qualquer pessoa honesta.

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