Os protestos de trabalhadores rurais ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST) recrudesceram ontem, início da Jornada Nacional de Luta, com a invasão de fazendas, bloqueios de rodovias e ocupação de prédios públicos em vários estados. No Rio Grande do Norte, integrantes do MST ocuparam, mais uma vez, a sede do Incra. Eles estão acampados na frente e na entrada da sede do instituto, em Petrópolis.
No final da tarde de ontem, os líderes do MST estavam reunidos com a direção do Incra. Entre as reivindicações estão a desapropriação de áreas próximas localizadas em Mossoró; construção de casas, perfuração de poços e melhor infra-estrutura nos assentamentos. O grupo que ocupou o Incra tem 200 integrantes. Eles disseram que só sairão o local após terem atendidas suas reivindicações.
Em Fortaleza, 1.200 sem-terra invadiram, a sede do Incra. Sem prazo para deixar o prédio, eles exigem o cumprimento do plano nacional de reforma agrária, a desapropriação de 27 áreas, a renegociação das dívidas e a liberação de obras de infra-estrutura para os assentamentos.
O ato faz parte da Jornada Nacional de Luta, liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). A direção do movimento entregou, à tarde, a pauta de reivindicações para a superintendência estadual do Incra. Já está marcada também para esta semana, em Recife, uma reunião para discutir a situação no Nordeste.
Na Bahia, os sem-terra invadiram a fazenda São Mateus, no município de Araçás, a 100 quilômetros de Salvador. A área foi ocupada por 150 famílias ligadas ao Movimento de Luta pela Terra (MLT), uma dissidência do MST. Os 2.400 hectares pertencem à Companhia de Ferro Ligas da Bahia (Ferbasa) e estariam abandonados há mais de vinte anos, embora lideranças do MLT digam que a fazenda interessa a um a empresa de celulose para o plantio de eucalipto.
Em Sergipe, os trabalhadores bloquearam ontem, por duas horas, a BR-101, próximo ao município de Estância, a 73 quilômetros de Aracaju. O bloqueio provocou um enorme engarrafamento na rodovia, que liga Sergipe a Bahia, e foi acompanhado pela Polícia Rodoviária Federal. Antes de fecharem a BR, os sem terra foram até a agência do Banco do Nordeste, também em Estância, e fizeram uma manifestação. Os manifestantes criticaram a política de reforma agrária do governo Lula e pediram que os assentamentos sejam feitos o mais rápido possível.
Em Mato Grosso do Sul, o MST também bloqueou uma rodovia federal. Os militantes invadiram a sede do Incra e entregaram a pauta de reivindicações ao superintendente regional, em Campo Grande.
Sábado, durante palestra no 2º Encontro de Prefeitos do Nordeste, realizado num hotel de Ponta Negra, o ex-senador Geraldo Melo criticou a forma como o governo federal se relaciona com os prefeitos brasileiros. Lembrou que Ceará-Mirim enfrenta problemas nos 30 assentamentos rurais porque os trabalhadores foram colocados pelo Incra nas áreas desapropriadas, sem qualquer infra-estrutura que permita uma melhor qualidade de vida. “Por isso há uma demanda enorme por escolas, postos de saúde, energia elétrica e estradas”, disse Geraldo.