sexta-feira, 19 de abril, 2024
28.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

“Sempre gostei de canções de estrada”

- Publicidade -

ON THE ROAD: “Eu me sinto filho desta beat generation”

O maranhense Zeca Baleiro pega o vácuo da história na estrada que imortalizou a geração de poetas americanos lançados no final dos anos 40, batizada de beatnik. Embora admita que o primeiro contato com os beats ocorreu depois que o surto da poesia já havia passado, a influência de Jack Kerouac, Alan Ginsberg e cia, está impregnada do início ao fim no mais recente DVD, “Baladas do asfalto e outros blues”, lançado em novembro passado.

Um pouco desse momento de contemplação ao passado pode ser sentido pelo natalense hoje, a partir das 22h, no Boulevard, em Nova Parnamirim. 

Nesta entrevista por telefone ao VIVER, Zeca Baleiro coloca a geração beatnik como uma das maiores influências da carreira, fala de projetos para o futuro, e da importância da saída da família Sarney do poder no Maranhão.

Tribuna do Norte: Na apresentação do DVD “Balada do asfalto e outros blues” você aparece descrito com estilo “On the Road”. Até que ponto o clássico livro On The Road, de Jack Kerouac, influenciou este trabalho?
Zeca Baleiro: Quando li On The Road era um outro tempo, vivia a minha adolescência. Já era história. Mas fui muito influenciado pelos poetas beats. Inclusive musiquei vários poemas de Gregory Corso, um poeta beat nem tão conhecido daquela geração que viveu pelas ruas de Nova Yorque, morreu recentemente e se valeu dessa filosofia.

Mas você não chegou a lançar esse trabalho…
ZB: Não, não… ainda não. Tenho um projeto de fazer um disco com poemas musicados. Musiquei um agora da Hilda Hilst, tenho outros guardados do Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Cruz e Souza. Nesse DVD que lancei em novembro, gravei um de Murilo Mendes (“Mulher Amada”). Meu sonho é compilar isso tudo e fazer um disco. Às vezes a gente está sem assunto e fica legal colocar isso para frente.

Voltando ao seu lado beat. On The Road chegou a influenciar você como ocorreu com o Jim Morrison, que falou que fugiu de casa depois que leu o livro?
ZB: (Risos) Eu fugi de casa muito tempo depois. Acho que é mais uma influência de pensamento mesmo, na forma de escrever. Minha juventude, no começo dos anos 80, já tinha passado. Embora tivesse muitos amigos que guardavam uma certa rebeldia, a estética beat já estava fora de moda, mas sei que ainda tem gente que gosta de cultivar isso.

E de que forma essa filosofia aparece na sua obra?
ZB:  Eu me sinto filho dessa beat generation. De certa maneira, o beat foi a mãe da cultura pop. Sempre gostei de canções de estrada, de Roberto e Erasmo, quis dedicar um disco em parte feito sobre essa momento.

Mas como a filosofia beat aparece em Roberto e Erasmo?
ZB:  Não é bem isso, é outra coisa. Mas é uma derivação daquilo também embora eles não tivessem essa consciência. É uma coisa intuitiva. Por exemplo: “Quero que tudo vá para o inferno” é puro beat, uma contemplação. Eles sempre falaram da estrada, do imaginário da estrada, em “As curvas da estrada de Santos”.

O DVD vem em formato de filme e mostra imagens da banda pegando a estrada até a hora do show. Isso também tem a ver com essa sua influência?
ZB: Acho que tem mais da época de hoje, mas muito romantizado. Os músicos, por exemplo, não andam de Belina, vão de Van. Mostra mais o lance do convívio até porque eu só toco com meus amigos. Essa coisa de parar para tomar uma cerveja, fumar, mas é uma versão mais romantizada. Eu dirigindo, pegando a banda, quis fazer algo assim para criar um atrativo. O DVD só com um show fica um pouco entediante.

Você é um dos únicos artistas que se manifesta dessa forma. É curioso porque hoje existe um boom de produção na área de DVDs e você mesmo já lançou cinco…  
ZB:  Mas se dependesse de mim a indústria de DVDs estava falida (risos). Eu vejo os meus para procurar os erros e mais nenhum. Não tenho paciência. Sou do disco, tenho mais de mil vinis. Para mim a coisa tem que ser mais sonora e o DVD é visual, documental. O show é um registro. A gente vai chegar, as menininhas vão gritar na nossa direção dizendo que somos lindos, vamos para o hotel, passar o som… mas acho que isso vai evoluir.   

E você está encarando esse trabalho como uma nova fase?
ZB: Vejo como uma coisa pontual. Não sinto que estou dando continuidade. Daqui por diante em algum momento faria isso. Essa atmosfera On the Roud, lírica era de estrada. Várias canções ganharam um up grade nesse ambiente.

O que o Zeca Baleiro está preparando para o futuro?
ZB: Projetos tem muitos, o que falta é dinheiro (risos). Além do disco com poemas musicados, estou vendo um disco infantil, de samba e outro brega, mas com composições minhas. Recentemente fui a um show de Waldick Soriano e fiquei maravilhado.

Mas se você chamar o Waldick Soriano de brega vai ficar ruim para o teu lado…
ZB: (Risos) Mas esse tipo de música não tem como escapar. Quero mergulhar nesse brega que a gente houve nas rodoviárias do RN, de outros lugares do país, que é uma coisa brasileiríssima. Estou voltando a ouvir Barthô Galeno, Evaldo Braga.
  
No meio desses projetos pode pintar um dueto como o que ocorreu com o Fagner?
ZB: Não descarto, mas aquele foi eventual, o disco pediu para nascer. Quando a gente viu já tinha mais de um disco pronto. Tenho parceria recente com o Ednardo, o Frejat. Tem que ser uma coisa espontânea, mútua. Tenho um carinho muito grande pelo Chico César e acho que pode acontecer. Surgimos na mesma época, com estéticas parecidas.

O que representa para um artista maranhense como você a saída da dinastia Sarney do poder no Maranhão? 
ZB: Uma nova era. Porque, sobretudo, o cara que assume tem uma história de esquerda, as nossas famílias se conhecem. O Jackson Lago tem bom senso. É uma oportunidade histórica. Sem querer entrar no mérito, qualquer tipo de domínio – e vocês no Rio Grande do Norte também passaram por isso – paralisa certos setores. Houve uma certa estagnação no processo cultural, a coisa não andou como deveria ter andado. Os Sarney criaram uma estrutura de clientelismo que ninguém faz nada se não rodar o pires, é a manutenção da miséria. Temos a chance de fazer uma pequena revolução apesar de estar 40 anos atrasado.

Serviço:
Zeca Baleiro apresenta o show “Baladas do asfalto e outros blues” hoje, a partir das 22h,
no Boulevard, Nova Parnamirim. Ingressos: R$ 30 (inteira),
R$ 15 (meia) e R$ 150 (mesa).
Locais de venda: Eltoro Grill (praça de alimentação do Shopping Orla Sul) e Digizap (apenas estudante). Mais informações: 3236.3519/ 3081.5760

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas