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Sempre no futuro

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Tomislav R. Femenick
Contador e Economista
Há quase setenta anos, quando ainda jovem, convalescendo de uma forte gripe (hoje seria chamada de virose), minha mãe permitiu que eu faltasse a aula, desde que cumprisse uma outra tarefa; a leitura de um livro fácil e bonito: “Brasil, um país do futuro”, do austríaco Stefan Zweig. Realmente foi uma boa leitura que me fez saber que o povo brasileiro tinha uma tendência natural pela cordialidade e conciliação e que “quem quer que governe o povo brasileiro, inconscientemente é forçado a adaptar-se a seu espírito conciliador”. Nas entrelinhas e no final do livro, o autor previa um belo futuro para a nossa pátria amada.

Futuro belo que fiquei esperando nos governos de Juscelino, Jânio, no tempo do milagre econômico, quando Tancredo Neves foi eleito, quando Collor prometeu caçar marajás, quando o Real foi implantado e no governo FHC. Tive uma leve esperança no início do primeiro governo Lula, apesar de não ter votado nele. Porém ela, a esperança, se desvaneceu e quase faleceu de vez nos tempos dos governos de Dilma e de Temer. Quanta decepção. Foi tropeços sobre tropeços. Vez ou outra dava aquela impressão de que “agora vai”. Mas não ia e, se fosse, era uma espécie de um passo para a frente e dois passos para atrás.

No início deste ano houve prenúncios de um futuro melhor. Trocamos o governo federal, sob a bandeira da moralidade da administração público. Velhos atores dos cenários anteriores – PT, PSDB, MDB, PTB – foram “escanteados” dos principais postos de comando da nação, onde ainda aparece fantasmas do DEM, PSD e de outros mais. Lula estava preso e Renan Calheiros não comandava o Congresso Nacional.O Sérgio Moro deixou as lides de juiz de primeiro grau para ser ministro da justiça e da segurança pública.

Por outro lado, políticos e empresários, de grosso calibre estão presos ou“foram aderidos” à moda de usar da tornozeleira eletrônica. Embora o desemprego ainda seja um problemão, a B3 (antiga Bovespa) apresentou crescimento positivo de novembro para cá, período em que o dólar apresentou crescimento negativo. Como diz um amigo meu, “tava bom de mais da conta”. Era um começo de ano dos sonhos. As únicas preocupações no céu de brigadeiro eram aquelas de sempre, de todos os anos: pagar o IPTU, o IPVA, as anuidades dos Conselhos Regionais de profissões liberais, das associações e institutos – e a saúde do presidente que emperrava o andamento do governo. E a mais pesada para a classe média: comprar toda a lista de material escolar e pagar a matrícula da molecada na escola.

De uma hora para a outra a casa começou a desmoronar. Na maior cidade do país, viadutos ameaçaram cair na cabeça dos paulistanos; as estripulias financeiras de um dos filhos do presidente empanou o brilho do início do mandato do pai; em Minas Gerais ninguém aprendeu a lição e mais uma barragem de rejeitos desmoronou, acabou com 350 vidas e a vida das fazendas, plantações e de mais um rio, agora um da bacia do Velho Chico; no Rio de Janeiro, primeiro houve uma chuvarada que matou sete pessoas e depois um incêndio tirou a vida de dez crianças e fuzilou o sonho de dez famílias e das torcidas de todos times brasileiros; em Roraima uma ponte desabou e deixou o estado isolado; em Brasília, alguns novos e velhos senadores e deputados começaram a botar as manguinhas de fora –se declaram franciscanos convictos, já que continuam (ou são) adeptos da máxima “é dando que se recebe”. E as autoridades que deveriam fiscalizar e punir os descompassos éticos e legais o que fizeram? Primeiro assumiram“cara de paisagem” com os descasos e os crimes. Depois montaram uma série de desculpas moles, dessas que não passariam em nenhum detector de mentiras, mesmo aqueles mequetrefes quebrados.

E por que o Brasil não tem dado certo? A resposta que tenho mais ouvido, e que todo mundo diz, é que o povo não sabe votar e sempre escolhe os piores candidatos para serem seus representantes. Não é bem verdade. O problema é que os partidos políticos brasileiros têm donos, principalmente nos Estados. São esses donos que impõem sua vontade na escolhem dos candidatos, desde para o cargo de presidente da República até para vereadores dos menores municípios;no caso Santa Cruz de Minas (MG),com mais ou menos três quilômetros quadrados, e Borá (SP), com apenas 804 habitantes.Assim entendido nós brasileiros não temos verdadeiramente a liberdade de escolher o melhor, porém o menos ruim entre os indicados pelos donos do poder.

Há que acontecer uma reforma política de verdade – além da fiscal, previdenciária etc. –, senão nada mudará e aquele futuro brilhante nunca chegará.

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