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Senador Jefferson Péres morre aos 76 anos

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DESPEDIDA - Franco, duro e ético eram os adjetivos mais usados para referir-se a Jefferson Péres

Manaus (AE) – Vítima de um enfarte fulminante, o senador Jefferson Péres (PDT) faleceu por volta das 6h10 da manhã de ontem, em sua residência, no bairro Adrianópolis, na Zona Centro-Sul de Manaus. Ele morreu ao lado da mulher e de dois filhos. Péres não tinha netos. O terceiro filho do parlamentar estava nos Estados Unidos a passeio. Por meio da assessoria de imprensa do parlamentar, a esposa do senador, juíza aposentada Marlídice Péres, 60, contou que ele acordou no horário habitual, por volta das 5h30, fez a barba, tomou banho, tomou café e desceu as escadas de sua casa, de dois andares, para desligar as luzes do jardim. Ele não fez a costumeira caminhada ao redor da piscina de sua residência, exercício que praticava todas as manhãs, quando estava em Manaus. Em Brasília, ele também mantinha o hábito.

Ao retornar para seu quarto, a esposa do parlamentar afirmou que Péres sentou na cama e reclamou de uma forte dor no peito. “Estou passando mal”, teria dito. Marlídice Péres chamou os dois filhos que estavam em casa, Ronald, 39, e Roger, 34, e ligou para o médico da família, César Cortez. “Ele era hipertenso arterial. Teve enfarte agudo fulminante que causa parada cardíaca e respiratória”, explicou o médico ,que, quando chegou à residência do casal, já encontrou Jefferson Péres morto, deitado em sua cama.

Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto acompanhou Péres em sua última viagem de Brasília para Manaus. Segundo Arthur Virgílio, durante o vôo os dois conversaram sobre política, filmes e literatura. Jefferson Péres e Arthur desembarcaram em Manaus por volta das 13h30 de quinta-feira. “Ele aparentava estar muito bem”, relatou o senador tucano. Na tarde do mesmo dia Péres acessou sites de notícia, colocou em dia artigos que publicava em jornais e dedicou-se a organizar sua agenda do fim de semana. “Foi um nome que o Amazonas doou para o País. Uma referência de ética e de moralidade”, lamentou o senador Arthur Virgílio Neto. A assessora de imprensa do parlamentar, Terezinha Torres, não soube dizer quais eram os compromissos que Péres tinha neste final de semana. “Há 12 anos acertávamos isso todas as sextas-feiras. Hoje, infelizmente, isso não ocorreu”, disse a jornalista. O corpo do senador Jefferson Péres será sepultado no cemitério São João Batista, que fica no mesmo bairro onde o senador morava.

O horário do enterro, marcado para hoje, dependia da chegada do filho do parlamentar, Rômulo Péres, 32, que estava nos Estados Unidos a passeio, juntamente com a esposa. O velório do senador acontece no Centro Cultural Palácio Rio Negro, antiga sede do governo do Amazonas. No lugar de Péres assume o ex-vereador e ex-secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico Local, Jéferson Praia.

No fim de março, Praia se desincompatibilizou do cargo de secretário da Prefeitura de Manaus para concorrer, este ano, a uma das 37 vagas da Câmara Municipal de Manaus (CMM).Até o final da tarde de hoje ele não havia sido localizado. Praia estava em Presidente Figueiredo, município no interior do Amazonas, a 100 km de Manaus.

Garibaldi lembra empenho de Perés em defesa da democracia

Ao anunciar em Plenário a morte do senador Jefferson Péres (PDT-AM), ocorrida na manhã de ontem, o presidente da Casa, Garibaldi Filho (PMDB-RN), declarou que Jefferson era um defensor intransigente da democracia e de seus ideais. O presidente da Casa afirmou ainda que “sempre contava com o apoio de Jefferson no esforço pela recuperação da credibilidade do Legislativo, pois ele era sempre um dos primeiros a se levantar na defesa do Senado”.

Garibaldi destacou a atuação de Jefferson – que era advogado – nas diversas comissões da Casa, como a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a de Assuntos Econômicos (CAE), a de Educação, Cultura e Esporte (CE), a de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) e a de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A experiência anterior ao Senado também foi lembrada por Garibaldi, que ressaltou a atuação de Jefferson como vereador e também em vários cargos da administração pública no estado do Amazonas – o de secretário da Corregedoria-Geral da Justiça, o de diretor da Companhia Siderúrgica da Amazônia (Siderama) e o de professor da extinta Faculdade de Ciências Econômicas daquele estado, entre outros.

Garibaldi recordou ainda que Jefferson havia discursado no Senado na última quarta-feira (21), quando seu tema foi a região amazônica – “uma de suas principais paixões”. Na ocasião, Jefferson declarou que o debate sobre a internacionalização da Amazônia deveria ser tratado com bom-humor. E que não se preocupava “com a cobiça internacional, mas, sim, com a [cobiça] nacional, com as ações de pecuaristas e madeireiros que poderão levar ao holocausto ambiental da região”. “Ele foi um grande lutador”, disse Garibaldi, acrescentando que “Jefferson exerceu seu mandato com o brilhantismo que todos puderam constatar”.

Decepcionado, não voltaria ao Senado

Brasília (AE) – Jefferson Péres morreu decepcionado com a política e seus sucessivos escândalos de corrupção. O senador, que tinha a ética como uma de suas principais bandeiras, já havia anunciado que não mais se candidataria. Apenas pretendia exercer até o fim, em 2011, seu atual mandato. Franco, duro, exigente, probo e profundamente ético eram os adjetivos mais usados, até mesmo por seus opositores, para referir-se a Péres.

Formado em Direito e Administração, ingressou na carreia política em 1988, quando foi eleito, pela primeira vez, vereador em Manaus. Quatro anos depois foi reeleito e em 1995 estreou no Senado. Atualmente, era líder do PDT, partido do qual é integrante desde 1999, na Casa. Profundo conhecedor das leis, Jefferson Péres era integrante de uma das mais prestigiadas comissões do Senado, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e do Conselho de Ética. Neste colegiado, se destacou ao relatar o processo de cassação do ex-senador Luiz Estevão.

No ano passado, Péres comprou briga com o então presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Foi um dos primeiros senadores a se dirigir ao peemedebista e recomendar seu afastamento até que todas as irregularidades fossem apuradas. Acabou sendo relator do terceiro processo contra Renan no Conselho de Ética. E recomendou a cassação do colega por uso de laranjas para comprar emissoras de rádio em sociedade com o usineiro João Lyra. Na iniciativa privada, se destacou como diretor administrativo da Companhia Siderúrgica da Amazônia (Siderama).

No Plenário, fazia discursos curtos e extremamente objetivos. Era frio, extremamente racional. “Tinha um poder de síntese de poucos. Com cinco ou seis frases era capaz de dizer tudo o que eu nem com uma hora conseguia falar”, afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos mais próximos de Péres. “Ele não tinha amigo nem inimigo. Não tinha nem companheiro nem adversário. A vida dele era uma linha. Se a pessoa estava na linha ele era a favor se em determinado caso estava fora da linha, ele era contra.” Para Simon, Péres era a consciência crítica do Senado. “Era um bom amigo, um irmão, uma pessoa a quem eu muito estimava.” Péres e Simon participavam juntos de um grupo de parlamentares de diferentes partidos, que se reúne periodicamente para discutir problemas e assuntos de interesse nacional.  No último dia no Senado, na quarta-feira (21), Péres subiu à tribuna para falar sobre a Amazônia. Rebateu matéria do “New York Times”, que reforçava a internacionalização da Amazônia.

Depoimentos

“Jefferson Péres foi um político que sempre pautou suas ações pela defesa intransigente da democracia e da ética. Sempre procurou guiar-se pelo que julgava ser o interesse público, mesmo nos momentos de divergências com o Governo”
Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente da República 

“Era um homem extremamente correto, probo e dedicado às causas e interesses do País”
Gilmar Mendes – Presidente do STF

“Perdemos um grande senador, um grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia e que era um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado. Era um grande peregrino em defesa da ética”
Garibaldi Filho (PMDB-RN) – Presidente do Senado

“Era um homem importante, um grande amigo. Desempenhava um papel dentro do Senado que tinha uma funcionalidade muito forte. É uma grande perda para a política brasileira”
Nelson Jobim – Ministro da Defesa

“Com o falecimento do senador Jefferson Péres morre também a moral da política brasileira”
Cristovam Buarque – Senador pelo PDT-DF

“Jefferson Péres entra para a história brasileira como um dos homens que honrou a atuação como parlamentar levando às últimas conseqüências a honrosa tarefa de representar com altivez seus conterrâneos”
Aécio Neves (PSDB) – Governador de MG

“Ao longo de sua vida, Jefferson Péres não apenas defendeu os legítimos interesses da população do Amazonas, mas exerceu a política com ética e honra, tornando-se, assim, uma referência para o Senado, o Congresso e o Brasil”
Geraldo Alckmin (PSDB) – Ex-governador de SP

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