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Serra Negra do Norte, uma bela cidade

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Nelson Mattos Filho
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Nem só de vento e mar vive um velejador de cruzeiro, porque na vida são infinitos os horizontes a serem navegados. No final do mês de maio deixamos o Avoante descansando nas águas da Bahia e pegamos a estrada para uma viagem entre roteiros que cortam dunas do litoral, serras, campos e caatingas do sertão brasileiro. Uma viagem que reflete a imagem de um pais multifacetado e que passa muito distante das certezas. O Brasil é lindo, o que é feio é a esperteza encravada e cultuada entre as paredes enlameadas dos seus palácios.
Serra Negra do Norte, uma bela cidade
Serra Negra do Norte, município localizado na região do Seridó do estado do Rio Grande do Norte, distante 330 quilômetros de Natal, com uma população de pouco mais de 7.500 habitantes e dotado de clima semi-árido. Cercada de serras, que lhe dá um charme especial, e de vegetação com predominância da caatinga.

A cidade se formou nas margens do Rio Espinharas e sob a proteção de Nossa Senhora do Ó, padroeira da cidade. Chegar até lá partindo de Natal é muito fácil: Basta seguir pela BR 226 até a cidade de Currais Novos e de lá pegar a BR 427, que cruza a cidade de Caicó, numa viagem de pouco mais de quatro horas. Ficamos hospedados no hotel Fazenda Chácara Nova Vida, que dispõe de uma excelente infraestrutura. Serra Negra fica parede e meia com a Paraíba e para a turma que gosta de exatidão, ai vai o waypoint: 6° 39? 57? S / 37° 23? 49? W

Fomos até lá para assistir o casamento de um sobrinho e fiquei encantado com a pequena cidade seridoense. Limpa, bem organizada e valorizando seus antepassados, que tem como um dos principais personagens Dinarte de Medeiros Mariz, ex-governador do Rio Grande do Norte, ex-senador da república e que por mais da metade do século XX foi um dos mais influentes políticos do estado. Dinarte Mariz faleceu em 1984, aos 84 anos. Os alpendres da fazenda Solidão, de sua propriedade, são testemunhas de boa parte da história do RN. Já disse aqui que sou um apaixonado pela história e ao caminhar por paisagens como o Seridó, me vejo diante do futuro.

Gosto de fazer os caminhos do interior mesmo reconhecendo que a paisagem e a vida do campo estão descaracterizadas por um modernismo destoante. Caminho com os olhos atentos em busca da pureza que um dia foi exposta e hoje resiste apenas na saudade. Gosto de sentir o cheiro do chão, do mato, dos animais, da chuva, do estrume do gado, do calor e do frio. Gosto do silêncio da paisagem e do voo livre dos pássaros. Gosto daquela visão que parece parada no tempo, mas que conta um enredo maravilhoso e tão cheio de personagens. Adoro a paisagem do interior!

Passei pouco menos de vinte e quatro horas em Serra Negra, mas deu para ver um pouco de sua história e saber um pouco de suas lendas. Tudo começou com uma grande sesmaria doada ao capitão Francisco de Oliveira Toledo e que foi sendo repassada de mão em mão, entre parentes e aderentes, até chegar às mãos de um certo Francisco Solteirão, que devido a sua grande religiosidade doou tudo para os domínios da igreja nos idos anos 1700. Igreja que já havia erguido a capela de Nossa Senhora do Ó.

Dizem que o nome da cidade veio da vegetação rasteira e escura que domina o contorno montanhoso, porém, existe uma lenda que conta ter existido uma negra mestiça, de má índole e nômade, que havia sido trazida por Manoel Pereira Monteiro, um dos fundadores da cidade, e que certo dia foi morta por uma onça. Por isso chamavam o lugar de Serra da Negra. É sempre assim: Entre verdades e lendas existe um mundo obscuro e incrivelmente verdadeiro.

Me encantei sim com Serra Negra do Norte e sua geografia típica de um nordeste mais belo. Tive a felicidade de sentir a alegria do sertanejo diante de uma chuva inesperada, bem vinda e que refrescou a nossa noite. Estive a poucos metros de um magestoso, generalista e oportunista Carcará, ave imortalizada nos versos do saudoso compositor João do Vale e desejei um dia rever tudo isso.

O sertanejo é um povo de alma boa e o seridoense do Rio Grande do Norte é um verdadeiro apaixonado por suas raízes. É uma alegria vê-los falando, com o brilho saltando aos olhos, daquele rincão tão cheio de calor para dar.

 Traçamos um projeto de conhecer todo o estado do Rio Grande do Norte e consequentemente as entranhas do Brasil, principalmente os pequenos povoados. Não queremos seguir pelas veredas oficiais, desejamos ter uma visão mais real e que passe distante dos reclames publicitários e turísticos. Queremos o simples, o natural, o verdadeiro, caminhar com o pé no chão, sentir o sabor da culinária, o calor da feira livre, o povo em sua mais pura essência. Quem sabe um dia…!

Por enquanto vamos seguindo assim.

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