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Sertanejo revive o espetáculo das águas

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PATAXÓ - Sangria do açude foi a principal atração do fim de semana

A rodovia que leva à barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, diferente da vegetação e a terra seca, como de costume, está com um cenário diferente. As árvores estão verdes e os pequenos açudes das estradas estão todos cheios. Longe de ser apenas uma visão simplista de viajante, a região de Assu está diferente. As últimas chuvas na área trouxeram a sangria dos três açudes, a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que sangrava domingo com 70 centímetro, o açude Mendubim, sangrando com 40 centímetros, e o Pataxó, com 15 centímetros.

A sangria desses reservatórios representa uma verdadeira festa para a  população. A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, conhecida como a barragem de Assu, atrai pessoas de várias outras cidades para ver, literalmente, o espetáculo das águas, um reservatório que atingiu 2,4 bilhões de metros cúbicos. Uma sangria que há dois anos não acontecia.

Uma mostra do que isso representa para a população, sempre tão sofrida com a seca, é o número de pessoas que visitam a sangria da barragem. No último domingo, o fluxo de pessoas era tanto que o tráfego de veículos na parede da barragem foi proibido. Passavam apenas pedestres ou ciclistas. Um percurso de três quilômetros até chegar ao sangradouro. Longe?

Não. Para essas pessoas difícil é a chuva, mas para contemplar a sangria do açude vale qualquer sacrifício. Antônio Domingos de Alencar, vigilante morador da vizinha cidade de Ipanguaçu, caminhou durante 30 minutos para contemplar o espetáculo. “Estou muito feliz. É muito bonito ver isso aqui (a sangria)”, completou.

Marco Aurélio da Silva, funcionário de uma cerâmica, não se contenta em ver apenas uma vez a sangria. Desde que a última quinta-feira, quando a barragem sangrou, ele já foi quatro vezes ao local. “Hoje (domingo) a sangria já está mais forte”, observou ele, sem esconder o entusiasmo com as águas. “É uma alegria muito grande. Traz fartura para quem vive da terra. A água em abundância é alegria para muita gente e ajuda a todos”, completou Marco Aurélio. Palavras simples, mas que expressam o sentimento desse povo. Gente que depende da água para ter trabalho. 

Mesmo morando na cidade de Ipanguaçu, vizinha à barragem, a dona-de-casa Angelina Nóia, 54 anos, nunca tinha visto a sangria. Ela explica que não sentia vontade de ver o que “todos comentavam”. Mas com a insistência do marido, resolveu ir até à barragem no último domingo. E o que viu? “Lindo, lindo, lindo”, diz a simples e emocionada senhora.

A sangria da barragem de Assu se transformou num verdadeiro programa para a população. Independente da classe social, da idade ou do sexo, milhares de pessoas foram contemplar o espetáculo das águas. João Alves Filho, comerciante da cidade de Angicos, desde 1985 não via a sangria. Ele aproveitou o final de semana para ver e levou também o filho, o pequeno Nailson Gedson Alves, de 11 anos. Pai e filho saíram de lá maravilhados com o que viram.

Mas para um grupo de pessoas as chuvas trazem um motivo especial. Além de poderem ver a sangria da barragem, as águas também trazem a colheita do roçado. O agricultor Ailton Barbalho levanta a mão para o céu e agradece pelas águas. “Vou começar a colher esse mês”, comentou o senhor, agradecendo também por outro motivo: a sangria da barragem. A plantação de milho e feijão de Ailton é feita atrás da parede da barragem de Assu. “Está tudo bonito. Ano passado a gente não teve a sangria da barragem, mas esse ano sim”, disse.

Colheita é esperada para maio

Os agricultores da região de Assu festejam a sangria da barragem, mas também a colheita que se aproxima. As chuvas das últimas semanas garantiram a plantação. Manoel Saraiva, 78 anos, agricultor de Pataxó, município de Assu, só tem motivos para comemorar. “A chuva deixou a terra muito molhada, mas dá para colher. A chuva chegou tarde, mas ainda bem que veio”, comentou o agricultor, que plantou milho e feijão em 4 hectares.

A expectativa de Manoel Saraiva é colher 3 mil quilos de milho e 800 quilos de feijão. “Ano passado não plantei porque o inverno estava todo atrapalhado, mas esse ano está bom”, disse o agricultor, sorrindo com a satisfação de ter a colheita garantida.

Pedro Alves de Souza, 54 anos, agricultor espera começar colher o melão até o final do mês. Diferente do ano passado quando colheu 9 mil quilos de melancia, nessa safra ele não está tão animado com o melão. “Plantei melão porque está mais caro no mercado, mas dá muito trabalho. A despesa com veneno é grande”, comenta o agricultor que venderá a produção para comerciantes de Natal e Recife.

A sangria da barragem de Assu não trouxe problemas para a plantação de Pedro Alves, no entanto, colocou obstáculo para chegar até o roçado. A área do agricultor ficou ilhada com a cheia da barragem, com isso para ir até o plantio ele necessariamente tem que ir de canoa.

Gilberto Cabral de Assis, 49 anos, agricultor, não teve a mesma sorte dos seus outros colegas. A cheia do rio Piranhas invadiu as terras que ele plantava. “Vou esperar baixar a água para poder plantar”, comentou ele, planejando plantar milho e feijão.

Comerciantes aproveitam o movimento

A sangria da barragem Armando Ribeiro Gonçalves não traz alegria apenas para os agricultores e para a população da cidade que pode contemplar um belo espetáculo da natureza. Os vendedores ambulantes têm um motivo a mais para festejar. A cheia da barragem atrai muitos visitantes eles aproveitam para ganhar uma renda extra.

Que o diga João Batista Albano. Ele e a esposa, Maria Nereide Albano, trabalham como ambulantes em festas vendendo churrasquinho. No último domingo, o casal não perdeu tempo e instalou uma barraquinha na entrada da parede da barragem de Assu. “Essa barragem sangrando é uma festa. Vem muita gente para cá e dá para vender churrasquinho”, disse João Batista, que estimava uma venda de 100 churrasquinhos durante o domingo.

Maria Nereide observa que já estava quase perdendo as esperanças do inverno ser suficiente para encher a barragem, mas agora “está tudo bonito e se a sangria aumentar, mais gente chegará para olhar a barragem”. 

Francisco Marivaldo Bezerra, também vendedor ambulante, disse que estava esperando há meses que a barragem começasse a sangrar. A expectativa é justificada pelo acréscimo da renda em casa com a chegada da sangria. “Eu consigo vender até 600 espigas de milho para as pessoas que visitam a barragem”, disse.

Excursão para ver as águas da barragem

O espetáculo proporcionado pela sangria da barragem de Assu é tanto que se justifica até mesmo formar uma excursão para vê-lo. Francisco Vieira de Oliveira, estudante, saiu de Carnaubais em um grupo de 30 pessoas para ver a Armando Ribeiro Gonçalves. “Nunca tinha visto. Como é bonito”, disse ele, registrando tudo com uma câmera de vídeo.

Quem também veio na excursão de Carnaubais foi Maria do Socorro Rodrigues da Silva, 54 anos. Ao lado do neto de 6 anos, ela contemplou a sangria e garantiu que nunca mais iria esquecer a beleza que viu.

E se sangria da barragem de Assu era alegria para quem viajou especialmente para vê-la, imagine para quem não esperava encontrar esse espetáculo pelo caminho. Gilson Bezerra, do grupo Pé na Estrada Trilhas, disse que programou a viagem pela região para o final de semana, mas não esperava encontrar a barragem sangrando. “Iríamos passar aqui, mas não imaginava que já estava sangrando”, disse Gilson, que depois da barragem, seguiu caminho para o Lajedo de Soledade.

Sangria do açude Pataxó atrai muitos banhistas

A atração na região de Assu não é apenas a sangria da barragem Armando Ribeiro Gonçalves. A sangria no açude Pataxó é um espetáculo a parte. Muitas pessoas além de irem olhar a sangria, aproveitam para fazer do sangradouro um balneário. Som alto, bebida e muita animação fazem o cenário da diversão das pessoas em Pataxó.

Aos 60 anos, o aposentado Moacir Pereira aproveita a sangria para tomar banho no açude. E a idade não é empecilho para ele pular de um trampolim improvisado.

“Essa água é uma riqueza para todo mundo. Aumenta até o número de peixe que a gente consegue pegar no açude”, disse Maria de Lurdes de Araújo, moradora de Assu e que tem dois filhos pescadores.

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