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Sesap aborta ameaça de paralisação

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FELIPE CAMARÃO - Luzia Pereira reclama da falta de pediatra

A Secretaria Estadual de Saúde conseguiu “abortar” mais uma ameaça do movimento médico de paralisar as atividades no Hospital Walfredo Gurgel. Os líderes dos profissionais haviam anunciado para ontem a suspensão das atividades da cirurgia vascular no principal hospital do Estado. Mas o diretor geral interino do Walfredo Gurgel, José Renato Brito, usou a mesma estratégia feita com a ameaça dos neurocirurgiões: mudou a escala e garantiu o trabalho dos profissionais.

“Temos cirurgião vascular no hospital. Mudamos a escala e o trabalho está acontecendo normalmente”, comentou José Renato. Sobre a ameaça de lacunas nas escalas de plantão, o diretor interino observou que a Secretaria Estadual de Saúde está pactuando com as especialidades.

Ele disse que já fechou acordo com os profissionais de cirurgia pediátrica, endoscopia, cirurgia plástica e cirurgia vascular. O “pacto” a que se refere o diretor geral interino do Hospital Walfredo Gurgel é a garantia do pagamento dos plantões eventuais e, em alguns casos, contratação temporária de novos profissionais. “Não estamos com pressão, ameaça. O que estamos fazendo é pactuar com as especialidades. Nosso problema continua sendo a neurocirurgia e a cirurgia geral”, admitiu José Renato Brito.

O presidente da Associação Médica do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira, criticou as mudanças de escala. “Os médicos, até por questão ética, não irão deixar de cumprir a escala. Mas a orientação nossa é que informem ao CRM quando estiverem de plantão com um número de médicos insuficiente. Se um médico estiver fazendo uma cirurgia e chega outro paciente para ser atendido, quem deve ser processado nesse caso é o secretário  (Adelmaro Cavalcanti)”, destacou.

Geraldo Ferreira admitiu que ficou frustrado com a reunião da última quarta-feira à noite, onde os médicos negociaram com o secretário chefe do Gabinete Civil, Wober Júnior. “Nós levamos toda a proposta pronta, mas eles continuaram negando”, comentou.

A reivindicação dos médicos é o plano de cargos para a categoria, a criação das 40 horas e a gratificação de plantão. É exatamente no impacto desses pontos na folha de pagamento que ocorre a “incoerência” entre Governo e médicos. Os líderes do movimento dizem que o impacto será de R$ 1,5 milhão; já o Governo aponta para a cifra de R$ 6 milhões.

Resultado, o que o secretário Wober Júnior ofereceu aos médicos foi um acréscimo de R$ 400 mil mensais na folha. “Isso daria R$ 200 a mais mensalmente para cada médico. Não aceitamos esmolas”, completou Geraldo Ferreira.

Morte de idosa causa revolta de familiares

Francisco de Assis Miranda, 43 anos, estava desolado na entrada do setor de politraumas do Clóvis Sarinho. Passava das 11h quando, ainda meio desorientado, esperava o carro da funerária. Ele havia acabado de liberar o corpo de sua mãe, que havia falecido no início da manhã, após uma parada cárdio-respiratória.

Maria Nazaré Miranda, a mãe dele, era paciente cardíaca. Francisco conta que na última segunda-feira ela torceu o tornozelo direito ao pisar de mal jeito e na tarde da última quarta-feira, não agüentou as dores e pediu ajuda. Dona Maria, de 75 anos, saiu de São Miguel do Gostoso, onde morava, e foi levada ao Walfredo Gurgel por uma sobrinha.

Mas a família da anciã reclama do atendimento prestado no hospital. Segundo a sobrinha de  Maria Nazaré, o primeiro atendimento foi feito três horas depois. “Minha sobrinha contou que ela ficou aí na maca mesmo, porque não tinha cama. Daí quando foram olhar o pé dela, já estava branco. Sem circulação”, contou Francisco.

A surpresa da família foi maior quando veio a notícia do falecimento de Maria Nazaré, na manhã seguinte. “Ela foi transferida não sei para onde. Só sei que me ligaram hoje de manhã, dizendo que ela estava morta”, disso o filho da paciente. Ele reconhece que a mãe tinha hipertensão e uma cirurgia de coração. Mas, ele acha que se o atendimento tivesse sido imediato, ela poderia ter tido mais sorte.

“Acho que ela podia ter uma chance. Demoraram demais para atendê-la”, lamentou Francisco. Na guia de solicitação de exame cadavérico, assinado pela médica-intensivista Bernardete Câmara, informava que Maria apresentava uma pressão arterial de 22 por 12, considerada maligna, clinicamente. A paciente também apresentava cianose, sintoma de falta de sangue, e por consequência, falta de oxigenação no pé.  A conclusão provisória foi de que Maria Nazaré morreu em decorrência de uma parada cárdio-respiratória, com etiologia a esclarecer.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou, mas não conseguiu entrar em contato com a direção do HWG, para que comentasse o caso de Maria Nazaré e quando deve sair o laudo de necropsia que atestará a causa de seu falecimento.  A direção do HWG não se pronunciou a respeito dos procedimentos adotados sobre a morte da paciente.

Obra de reforma em unidade mista penaliza os pacientes

A população de Felipe Camarão até se acostumou ao esquecimento a que são relegados pelo poder público. Isso, porém, não quer dizer que os cidadãos daquele bairro aceitem esse tratamento. Pelo contrário, eles reclamam a ação das autoridades para combater as necessidades presentes no dia-a-dia da comunidade. Estigmatizados pelo conceito da periferia e de causadores da violência urbana, os moradores são obrigados a conviver com a precariedade dos serviços públicos, principalmente na área da saúde.

A unidade mista de saúde do bairro retrata bem esse quadro de abandono. O plantão não funciona. Há seis anos não há pediatra e há dois meses o clínico geral foi transferido para o Hospital dos Pescadores das Rocas. Além disso, o prédio do posto de Felipe Camarão está em reforma. A administradora Maria Antônia disse que trabalha no local há duas semanas e não faz idéia de quando as obras começaram. De acordo com ela, o final da reforma deve ocorrer em um mês.

Enquanto isso, só há atendimento ambulatorial. Segundo Francisca Uchôa, assistente social da unidade, apenas em casos de urgência o médico da maternidade é acionado. “Quando chega alguém aqui com uma facada, um tiro, aí o médico da maternidade tem que atender”, informou.

Rosileide Soares Batista de Oliveira é moradora do bairro e depende do atendimento daquele posto de saúde. Para ela, as melhorias prometidas pela secretaria de saúde ficaram apenas na teoria. “O atendimento é péssimo”.

Luzia Pereira do Nascimento se dizia revoltada com o atendimento do posto de Felipe Camarão. Ela contou que o neto de três anos estava com pneumonia, mas não havia pediatra para cuidar do caso. Braço esquerdo engessado, ela segurava o nebulizador para aliviar a tosse e o cansaço da criança. “Eu tenho que ir com ele [o neto] para o posto da avenida nove [ PS Sandra Celeste]. Mas lá, às vezes, também não tem médico e é longe”, desabafou.

Josineide Barbosa de Lira, gerente do distrito oeste da SMS, disse que a unidade é atendida pelo PSF, que não inclui pediatra. Ela disse também que o clínico geral deverá retornar ao posto no final deste mês.  Segundo ela foram convocados 140 profissionais concursados para completar as escalas de pronto atendimento dos bairros e essas pessoas estão providenciando os documentos.

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