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Setor cria protocolo e espera reabrir

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Vicente Estevam
Repórter
Atingido de forma frontal pelo isolamento social decretado pelas autoridades sanitárias do RN, como meta para reduzir os efeitos da pandemia de Covid-19, o setor de academias está se reprogramando para poder voltar a abrir suas portas. O primeiro ato para atender as novas exigências, foi a união do setor para criar um protocolo de segurança que passará a ser exigido a todos os alunos e profissionais ligados a atividade, o segundo foi o envio de um manifesto endereçado a governadora Fátima Bezerra, informando a importância que o setor possui para atividade econômica no país e no estado, além de mostrar que as atividades físicas podem ser um aliado importante dentro da cruzada contra o novo coronavírus, uma vez que o exercício fortalece o sistema imunológico das pessoas.
O fechamento das academias pode gerar um prejuízo a saúde das pessoas que precisam dos exercícios. O risco de problemas pós-pandemia aumenta a cada dia
Nesses quase dois meses de inatividade, o setor já vem amargando baixas importantes, uma vez que algumas academias que não tinham reserva suficiente, não terão mais como reabrir as suas portas, o que irá afetar o número de desempregados. O Conselho Regional de Educação Física estima que hoje existam cerca de 1.160 academias, com aproximadamente 327,5 mil clientes gerando cerca de 34,1 mil empregos diretos e indiretos. Antes do decreto de isolamento social, segundo CREF16/RN, existiam 6.2 mil profissionais registrados, sendo que 5 mil estavam ativos e atuantes no setor. Ninguém sabe o baque que o fechamento das academias poderá causar a esse mercado, mas é justamente para evitar que algo pior venha a ocorrer que o movimento foi criado.
“Temos consciência da batalha que o Brasil vem enfrentando com a COVID-19, bem como sobre a evolução dos números da pandemia em nosso Estado, portanto o nosso segmento é solidário ao isolamento social! Entendemos que o momento agora é o de aguardar e confiar plenamente nas autoridades do nosso Estado, para definir o início do retorno das atividades econômicas”, destaca o documento enviado a governadora.
Cientes de que terão de se adequar as novas normas de segurança sanitárias exigidas, no sentido de buscar evitar a contaminação em massa em seus ambientes, os proprietários de academias se reuniram com técnicos do Conselho Regional de Educação Física e membros da Saúde, para definir uma série de obrigações padrão que terão de ser seguidas a partir de agora em cada unidade aberta no RN. Elas serão as seguintes: limpeza geral das unidades, uso obrigatório de equipamentos de proteção individual (EPIs), medidas operacionais preventivas, recomendações para piscinas, comunicação com funcionários, personal trainers, terceirizados e comunicação com clientes.
O manifesto dos empresários do ramo de academia, destaca que a proposta foi construída seguindo as orientações e informações da OMS e do Ministério da Saúde para a prevenção do coronavírus na sociedade como um todo. Tomando como base a experiência de locais como a China, Hong Kong, Singapura e União Europeia, regiões onde o pico da pandemia já passou e o processo de retomada das mais de cinco mil academias já está sendo realizado com segurança.
Devido a criação do novo protocolo sanitário, os empresários do ramo acreditam que estarão atendendo todas as normas de segurança para combater a pandemia. Dessa forma, esperam sensibilizar a área técnica da secretaria de Saúde do RN, a listar a atividade no bloco 2 do plano de Retomada Gradual da Atividade Econômica no estado, onde, atualmente, o serviço prestado pelas academias é considerado uma atividade de alto risco, pelo fato de reunir um número grande de alunos em espaço fechado, o que vem deixando o ramo de serviço no final da fila de prioridades.
“As medidas apresentadas, somada às competências profissionais das equipes de saúde que orientam nossos clientes, oferecerão maior segurança que outros serviços e segmentos, inseridos em blocos de retomada anteriores aos nossos, tais quais: transporte público, bares, restaurantes e Food Parks”, destaca o documento dos proprietários de academias enviado as autoridades sanitárias potiguares.
Lo-amy Fonseca, professor de Educação Física e empresário, que atua há 20 anos no segmento de Fitness e Wellness, lembra que o setor de Educação Física é vinculado a área da saúde.
“A história da Educação Física tem um viés higienista que cuida principalmente de transformar a saúde física das pessoas através do movimento para combater as mais diversas enfermidades. Somos uma profissão regulamentada vinculada ao setor da saúde, porém não reconhecida pelos governos estaduais e municipais de algumas regiões do Brasil. O fato de não sermos reconhecidos como essenciais, além de um descumprimento com as normas regulamentares da profissão, nos gera um enorme descontentamento de sermos levianamente “escanteados” da linha de frente ao combate a COVID-19. Já está mais que comprovado que o fator majoritário para suportar essa doença é a nossa imunidade que se adquire de apenas 2 maneiras: uma é o fator hereditário (intrínseca)  e a outra maneira é a combinação do fator treinamento somado a nutrição (extrínseco). Portanto, já seria um imperativo reconhecer que somos uma parte integrante essencial no combate ao vírus”, frisou.
Agora os empresários aguardam, com ansiedade, a nova reunião do Comitê Técnico de Saúde, que no próximo dia 17 de junho irá revisar as medidas de isolamento social. A a liberação dos trabalhos, na ótica dos empresários, vai gerar um novo ânimo a atividade, que de acordo com a Associação Brasileira de Academias responde por mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos no Brasil.
Especialista quer reclassificar as atividades
O médico do Esporte Fábio Romano destaca a importância do exercício físico como braço auxiliar no combate de diversos tipos de enfermidades. Ele possui uma postura crítica quanto ao sistema de classificação que as modalidades esportivas tiveram na cartilha dos técnicos do Sistema de Saúde do RN. O especialista questiona o fato de, por exemplo, de um jogo de tênis, realizado entre dois atletas numa área de 200 metros quadrados, está dentro do mesmo nível de risco que os trabalhos de academias, que reúnem um número considerado de pessoas em um ambiente fechado. Logo ressalta que é urgente uma reclassificação das atividades esportivas, para evitar que o sedentarismo venha a prejudicar ainda mais a população potiguar, aumentando a fila nos Postos Médicos e Hospitais em tempos de Pandemia.
“Está faltando na política de classificação das atividades físicas de um modo geral, a realização de uma melhor subdivisão dos diversos tipos de esportes. Na minha opinião é um absurdo colocar um esporte como o tênis, a natação, na mesma prateleira de uma academia lotada. Para tudo é possível fazer algum tipo de concessão permitindo que a prática das modalidades seja retomada de forma paulatina, até poder se voltar ao normal, espero que dentro da maior brevidade possível. Reconheço que ainda possuímos muita dificuldade no controle da Covid-19”, explicou o médico. 
Fábio Romano acredita que os esportes individuais e praticados em duplas, também em pequenos grupos, em espaços abertos, possuem maior probabilidade de ser liberados, uma vez que as chances de transmissão do novo coronavírus dentro desse contexto se mostra bastante reduzida. Mas quando se trata de esporte coletivo, a dificuldade para o profissional enxerga uma série de complicações.
“Nas modalidades coletivas, enxergo um nível de dificuldade muito grande para este momento. O futebol, por exemplo, seria uma atividade muito custosa para uma retomada imediata, uma vez que os responsáveis pelas competições terão de possuir certeza absoluta que num ambiente definido em 80 pessoas, apenas entre atletas e membros de comissão técnica, sem contar com a imprensa, não há contaminação. Esse controle teria de ser muito grande e não poderia ser feito apenas com um teste, teriam de ser realizados no mínimo três por semana para ser possuir um padrão melhor de confiança. Isso faria com que esse retorno ficasse muito oneroso”, argumentou.
Já em relação as práticas esportivas que não exigem contato físico, Romano acredita que os riscos seriam muito reduzidos. Bastaria se estabelecer cuidados com os participantes, para que os mesmos não tivessem sintomas ou contato com algum grupo de risco no período.
 Ele chama a atenção para a mudança no nível de exigências sanitárias, reforçando que todas as Federações a partir de agora serão obrigadas a desenvolver um tipo de protocolo de saúde específico para sua modalidade esportiva e frisa que as atividades esportivas realizadas em ambientes fechados, mesmo que não haja contato direto entre os seus praticantes, terão de ser repensadas, sob pena de demorarem muito a conseguir liberação de funcionamento pelas autoridades sanitárias. 
Apesar de reconhecer os riscos e o alto índice de letalidade da Covid-19 em pacientes que adquirem a forma grave da doença, Fábio Romano alerta que os profissionais de saúde necessitam agir de forma mais ampla em relação às demais enfermidades e não fixar um pensamento único de combater a pandemia apenas.
“Não podemos fechar os olhos para os outros tipos de doenças e focar nossa atenção apenas na Covid-19. As outras enfermidades também devem continuar tendo um lugar de importância dentro da saúde pública. Se as atividades físicas auxiliam no combate a vários tipos de enfermidades, temos de orientar as pessoas sobre a forma segura de continuar trabalhando a parte física e não dar o sinal de alerta para que todos fiquem dentro de casa. O sedentarismo, por sua vez é bastante prejudicial à saúde e os estudos comprovam isso. Ele é uma das formas mais fáceis de levar um indivíduo a óbito. A eventual volta das academias teria de estar ligada a uma série de medidas sanitárias e redução no número de pessoas dentro do salão, com espaçamento maior entre os alunos e o uso obrigatório de máscara”, afirmou.
Parada favorece o sedentarismo e prejudica a saúde
Para não ser classificado como sedentário, o indivíduo, segundo normas da Organização Mundial da Saúde, necessita ter 150 minutos de exercício físicos semanais, o que dá em média 20 minutos de caminhada diária. “Esse é o nível mínimo que uma pessoa deve ter para não ser classificada como sedentária. Menos que isso o indivíduo passará a ficar passível de contrair várias complicações de saúde tipo obesidade, aumento de colesterol, aumento de risco de sofrer com problemas de pressão, possibilidade de diabetes, bem como incidência de desenvolvimento maior de alguns tipos de câncer e neoplasias. As pessoas que se exercitavam, devido às dificuldades em realizar atividades, passaram a piorar do ponto de vista clínico em relação a vários tipos de enfermidades”, alertou.
O que o médico potiguar Paulo Gentil, professor de Educação Física, com Doutorado em Ciências da Saúde, relata, explicito em números, em relação à duas das doenças que mais matam no Brasil: ataque cardíaco e câncer:
“Atualmente, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte do nosso País e, dentre os fatores associados a elas, estão a hipertensão e as dislipidemias, que juntas afetam uma grande parte da população. Nesse sentido, sabemos que pessoas que praticam exercícios têm um risco 33% menor de morrer por doenças cardiovasculares. Além disso, há evidências de que o exercício produz reduções na pressão arterial similares a muitos remédios, tanto que a própria Sociedade Brasileira de Hipertensão recomenda que as mudanças comportamentais sejam usadas preferencialmente, mesmo antes dos remédios”, ressaltou.
No que diz respeito à segunda causa de morte por doenças não transmissíveis no Brasil, o câncer, evidências mostram que o risco de morrer com a doença chega a ser 50% menor em pessoas que se mantém fisicamente ativas quando comparadas às inativas. Mesmo entre as pessoas que passaram por esse problema, a prática de musculação pode reduzir a chance de morte em até 33%. Aliado a esse benefício, em pessoas sob tratamento, além do aumento da qualidade e expectativa de vida, a prática de exercícios físicos promove reduções nos custos de hospitalização que chegam a mais de R$100.000 por paciente.
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