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“Sinto saudade da torcida”

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Itamar Ciríaco
Editor de Esportes

José Ivanaldo de Souza, “quarenta e poucos anos” como o próprio faz questão de enfatizar (nasceu em 1975, como é minha obrigação de informar), é um pai de família realizado e ex-jogador de futebol com saudade da profissão. Considerado um dos maiores jogadores da história do futebol potiguar, nasceu em Itajá e “escreveu” seu nome entre os ídolos graças a uma habilidade invejável. América, São Paulo, Corinthians, Flamengo, Rússia e Seleção Brasileira, entre outros, fazem parte do currículo deste Craque Papa Jerimum bem sucedido.

Até hoje o torcedor do América sente saudade dele e ele, caro torcedor, pode ter certeza que sente muito a falta de você também. Durante a entrevista, concedida à Tribuna do Norte, ele deixou claro, em muitos momentos, que sofre com a situação de “aposentado”. “Eu até evito ir ao estádio para não me sentir pior”, comentou. Pai dedicado, agora virou empresário e segue colhendo os frutos do trabalho duro, que lhe deixou grandes histórias, bons amigos, mas marcas também de contusões e dores que diz sentir até hoje.

Como foi o começo da carreira?
Comecei cedo como amador. Jogava ali na região do Vale (Açu), futsal, ganhava o tênis no final das competições e teve uma inauguração do estádio em Ipanguaçu – Joacy Fonseca – onde eu joguei pela seleção do Vale contra o América. Ali foi onde começou e eu vim para o América com 15 anos, profissionalizei e foi onde começou a carreira.

Quem foi seu incentivador?
Naquela época tenho que agradecer muito a Zé Luís, um cara que me ajudou muito e que, infelizmente, faleceu esses dias, o cara que me levava, não só eu, mas como todo o time. Ele montou uma equipe e levava a gente para jogar naqueles interiores e minha mãe só liberava eu sair com ele. Depois disso aí teve meu primo Nonato que me trouxe para Natal, depois do jogo no Joacy Fonseca, me trouxe para o América.

Esse começo, essa transição, foi difícil?
Era muito difícil, mas minha mãe sempre liberou. Meu pai sempre trabalhou fora e era ela quem liberava. Mas era muito difícil. Tinha a ajuda da população, das pessoas que tinham uma condição melhor, para dar o carro, outro com a gasolina e aí a gente foi aparecendo e outros times como de Angicos, de Açu, começaram a contratar eu e outros e aí já foi uma experiência, apesar de ser no interior, mas desde cedo já vinha adquirindo essa experiência de vir para a capital e isso nos ajudou muito.

Essa paixão começou quando?
Desde cedo era com a bola debaixo do braço, toda hora mesmo e desde cedo eu tinha esse sonho. Era muito distante porque não tinha as facilidades que hoje nós temos de comunicação, de locomoção, como hoje está a evolução em tudo, mas a vontade era muito grande e felizmente eu consegui.

Como foi a chegada ao América?
Fui bem acolhido. Não tinha aquela estrutura necessária, mas fui muito bem acolhido, devo muito a Baltazar (Germano) nessa chegada ao América, no momento que eu vim para cá professor Ferdinando Teixeira, Jussier Santos me acolheram muito bem. E na sequência com Baé quando eu comecei a morar na sede. Mas era uma dificuldade muito grande. Você vê que no mesmo Estado, como eu falei da locomoção, da comunicação, ainda sentia algumas vezes a vontade de desistir devido ficar longe da família, mas graças a Deus superei e deu certo.

Como foi essa história com Baé?
Ele me acolheu muito bem na sede. Éramos eu Erijânio, Beto, que viemos juntos então Baé era aquele cara que estava ali sempre para nos ajudar, assim como seu João, que cuidava da nossa alimentação, então lá na sede foi tudo muito bom.

E como foi a relação com os profissionais do América?
Difícil. Você saindo do interior, muito jovem, 15 anos, mas eu tive uma ajuda muito importante de Baltazar Germano, que era treinador na época, Lico também que era um cara espetacular, que eu tenho o maior respeito e carinho e que me ajudou bastante, com apoio, com conversas. Seu Rui também foi outro que esteve sempre junto, naquele fusquinha dele (risos), com quem pegava muita carona. Ribamar Cavalcanti que sempre esteve presente também.

Nessa época o que marcou?
Foi um jogo que fomos fazer lá em Lajes e no qual fiz um gol de escanteio. Então, para mim, que estava chegando, isso pesou muito em meu favor. Ou seja, essa história para mim foi muito bacana para que eu tivesse uma sequência.

E alguma história não foi assim tão boa?
Com certeza. Teve uma que não foi boa mas que fez que eu crescesse muito. Eu fiz uma grande jogada, driblei uns três ou quatro jogadores numa final contra o ABC e na finalização eu finalizei bem só que o goleiro fez uma defesa que foi uma sorte. A bola pegou no pé dele passou por cima da trave e não entrou. Então aquilo ali marcou muito, eu fiquei muito chateado depois do jogo que nós perdemos o título então isso aí me marcou muito.

Como todo ídolo, ter o nome gritado no estádio é uma tradição. Explica essa emoção…
É muito bom. Chegar no Machadão e ouvir a torcida gritar o seu nome é uma motivação muito grande para que você entre em campo e tente fazer o melhor mesmo.

Ninguém mais que a torcida do América gritou tanto seu nome. Como definir o América para você?
Ao América eu devo tudo. Foi o clube que me deu oportunidade naquela época que era muito difícil, um jogador novo ter oportunidade e eu tive com 15 anos. Hoje é muito fácil, porque todos querem revelar, todos querem fazer dinheiro para se manter, mas naquela época era muito difícil. Então, depois de muito tempo jogando fora eu, numa conversa com Faccina ele deu a ideia de voltar a jogar no América sem remuneração. Aí numa entrevista eu comentei isso e graças a Deus eu cumpri e sou muito grato ao América e a torcida por tudo que têm feito por mim.

Essa saída pelo mundo (São Paulo, Corinthians, Flamengo,etc) lhe deu muita experiência. Mas sua chegada a esse locais foi tranquila? Sofreu preconceito por ser do Nordeste?
Senti e isso está bem óbvio agora nessa política e o que falam do Nordeste. Isso sempre existiu e até torcidas adversárias também quando íamos jogar fora. Isso a gente tem que superar. Chateia, eles se acham superiores, não sei o porquê, mas você tem que jogar sua bola e mostrar que tem potencial e qualidade para estar lá e até superior a muitos.

Dentro das equipes?
Alguns a gente via. Achavam que iriam intimidar. E se intimidar você baixa a cabeça, perde a confiança. Aí você tem que bater de frente e se impor, porque senão você vai perder tudo.

Fora do América, quais seus melhores momentos?
Fui campeão brasileiro com o Geninho no Atlético/PR, campeão da Copa do Brasil e Paulista com o Corinthians. No São Paulo alguns momentos muito bons com uma equipe que tinha França, Kaká, Reinaldo. Era um ataque espetacular, a gente fazia dois três gols por partida.

E como foi a passagem pela Seleção Brasileira?
Eu estava no Corinthians em 1995, tinha feito um grande Campeonato Brasileiro em 1994 e o treinador era Zagallo. Era a realização, jogar em um grande clube e consequentemente chegar em uma Seleção.

E aquela tradicional história da briga com Dunga? Aconteceu?
Aconteceu. Num amistoso aqui em Recife houve algumas discussões no jogo, eu com ele, ele teve com Bebeto, com Leonardo. E houve uma discussão que acontece em jogo, acontece até em pelada.

E isso prejudicou você na Seleção? Ele pode ter influenciado?
Talvez. Talvez tenha pesado muito essa discussão, mas não vou jogar culpa e nem afirmar uma coisa que eu não posso provar. Então assim, talvez tenha pesado para que eu não tenha tido essa continuidade, mas não guardo rancor, não guardo mágoa, é vida que segue.

Sente saudades dessa época?
Sinto muita saudade, ainda não me vejo como ex-atleta. Vou ao estádio, mas evito um pouco, porque quando a torcida pede eu volto para casa pensando que no outro dia vou voltar a jogar, porque ainda não assimilei. É muito difícil, não é fácil não. Sinto saudade da torcida, daquele ambiente do túnel para chegar dentro do campo. Isso são coisas que arrepiam. A torcida eufórica. Você vê aquilo ali, e se vê dentro de campo. Disso a gente sente falta.

Fora o futebol? Qual a sua maior paixão?
A família. Futebol e família são a minha vida.

E como foi encarar o problema de saúde de sua filha?
Fortalece. O amor aumenta pela criança. O carinho que ela tem com a gente é diferente. Sou muito feliz por ela ser feliz. Mesmo com essa situação nunca reclama. A gente dá muito carinho para que ela se sinta assim. É uma criança normal que a gente luta diariamente com fisioterapia, com tudo que pode para dar uma qualidade de vida melhor, não só para ela como para as outras crianças, que eu acabei criando uma clínica para tratar de crianças que também têm algum problema neurológico. Em 2013 fui morar em Curitiba justamente para tratar dela e ir qualificando os profissionais para atendê-la e outras crianças também e está dando muito resultado porque a gente v~e a evolução das outras crianças também, então é uma emoção a cada dia, não só com a minha, mas com as outras criancinhas também.

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