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Sobre a longevidade dos vinhos

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Você sabia que a vida útil da maioria dos vinhos disponíveis hoje no mercado brasileiro é bem curta, e que, portanto, aquela ideia de que vinho bom é vinho velho é a exceção da exceção da regra? Desde o início da era vinícola, quando das descobertas do cientista Louis Pasteur (1822-1895) sobre os segredos da fermentação, o vinho se tornou um bem alimentar de valor social, cultural e, sobretudo comercial, muito importante. Este último valor ampliou enormemente o seu raio de consumo, e através de um marketing cada vez mais agressivo, levado a cabo pela indústria vinícola global com sua produção crescente e constante, ganhou escala mundial.

A grande maioria das safras que vemos hoje nas gôndolas do mercado é de vinhos ligeiros, para serem consumidos em tempo curto

A grande maioria das safras que vemos hoje nas gôndolas do mercado, são em sua grande maioria de vinhos ligeiros, destinadas ao consumidor comum, cujo poder de compra aponta para vinhos comerciais, que tornam o consumo cíclico, retroalimentando a indústria para que não se acumulem nos galpões das vinícolas, vinhos de safras passadas, velhos e/ou decadentes. Assim, uma safra precisa ser vendida para que outra entre em comercialização imediatamente, para que o mercado do vinho siga seu fluxo crescente natural. Essa é a nova ordem do mercado sustentável do vinho no planeta. É obvio que estamos falando de vinhos triviais, corriqueiros, ligeiros e de consumo corrente. Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), dos 247,7 milhões de hectolitros (Mhl) produzidos no planeta em 2017, uma pequena quantidade (não mais do que 15%) destinava-se à guarda, em razão de predicados especiais. E destes 15%, menos de 3% chegam com algum vigor aos 50 ou 100 anos. É que para envelhecer bem (refiro-me aos vinhos que melhoram após uma década de guarda), a bebida precisa ter estrutura (componentes não voláteis) e álcool. Os ditos polifenóis (antioxidantes), os mesmos que causam benefícios à saúde do consumidor, juntamente com a acidez e o açúcar residual, no caso dos vinhos doces, são alguns dos conservantes naturais que prolongam a vida útil dos vinhos. O conjunto destes elementos compõem o que chamamos de “extrato seco” do vinho.

Atualmente poucos vinhos têm longevidade para suportar, ainda potáveis, 15 a 30 anos de guarda. Dentre estes vinhos (longevos), poucos se mostram encantadores quando tomados jovens, até mesmo quando decantados por longas horas antes da apreciação. É que em tenra idade, eles são como um adolescente atrapalhado que por excesso de vigor mostram mais sua força bruta do que seu charme e sua elegância, coisas da maturidade. São como diamantes raros que necessitam da ajuda do tempo para se fazerem lapidados. Quando saboreados na plenitude, mostram-se austeros, mas elegantes e sofisticados também. Chegam a ser soberbos as vezes, como uma mão de ferro vestida por espessa luva de puro veludo. A incrível mutação química que ocorre na garrafa com o passar dos anos, torna-os maduros, equilibrados, elegantes, harmônicos como as notas de uma bela composição. São vinhos que tornam ocasiões simples em ocasiões especiais. Saboreados na plenitude têm incorporada à fruta, leves traços de uma benéfica oxidação, que tornam os aromas e sabores indescritivelmente complexos. Deste seleto grupo de vinhos a maioria é tinto, e mais importante do que provar um destes um dia, é prová-lo no momento certo.
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