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Sobre Bob Dylan, livros e maracutaias

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Tomislav R. Femenick
Historiador

Estes últimos dias foram cheios de surpresas no campo na literatura, começando pela maior delas: o premio Nobel de Literatura de 2016 foi atribuído a Bob Dylan, cantor, compositor, pintor, e ator norte-americano, “por ter criado uma nova expressão poética dentro da tradição norte-americana da canção”. Realmente foi algo insólito; contrário à regra antes observada de agraciar um autor de livros que, no seu conjunto, tenha representatividade e expressão universal. Depois veio a notícia de que um instituto identificou Paulo Coelho, o nosso mago, como o autor de língua portuguesa mais traduzido no mundo. Suas obras já tiveram 1.098 traduções, enquanto que os livros de José Saramago, detentor do Premio Nobel de Literatura de 1998, tiveram apenas 534 traduções.

Realmente Paulo Coelho é um fenômeno de vendagem de livro. Sua obra O Alquimista, considerada um importante fenômeno literário do século XX, é tida como o livro de autor nacional mais vendido de todos os tempos. Por conta disso – e certamente não pela qualidade literária de sua produção – virou imortal da Academia Brasileira de Letras, onde não entraram nem Carlos Drummond de Andrade, nem Mário Quintana.

Mas no Brasil acontecem coisas estranhas. Nem Paulo Coelho, nem Jorge Amado são os autores que mais vendem livros em nossa pátria amada. Quem mais vende livros por estas plagas é o senhor Mario Furley Schmidt, enxadrista e professor de cursos pré-vestibulares, nascido em Niterói, terra onde “galinha cisca pra frente” e “urubu voa de costa”, segundo dizia o fenomenal Sergio Porto, que era mais conhecido pela seu pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.

O Sr. Mario, mesmo não sendo formado em história, vendeu mais de 10 milhões de exemplares de sua coleção Nova História Crítica. Aliás, não tem nenhum bacharelado, pois abandonou os cursos de engenharia e filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ingressou em 1977 e 1984, respectivamente. Mesmo assim fez fortuna a custa do MEC, isso é, a custa do meu e do seu dinheiro.

A sua coleção é composta de cinco livros, destinados aos alunos da 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries e mais um para o ensino médio. Até aqui tudo bem. O problema é o conteúdo desses livros, sua concepção primária, sem nenhuma metodologia e de pura panfletagem anticapitalista e de louvor ao socialismo. Não poupa elogios aos regimes de Fidel Castro e de Mao Tsé-Tung, tratando-os como grandes estadistas e estrategistas militares. Nem uma palavra, por pequena que seja, diz sobre suas atrocidades. Como não poderia deixar de ser em uma mente deformada pelo esquerdismo, faz rasgados elogios as FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e ao MST Movimento dos Sem Terra, tratando seus lideres como herói.  

Esses livros são editados pela Nova Geração e seu editor, Arnaldo Saraiva, diz que a obra “é o maior sucesso do mercado editorial didático dos últimos 500 anos”; volto a dizer, a custa do MEC e do meu e do seu dinheiro. Felizmente, o governo federal não está mais comprando exemplares da Nova História Crítica.

Entretanto, parece que no MEC um problema sempre vem seguido de outro. Agora o grupo “Somos Educação”, que controla as editoras Ática e Scipione, procura fazer um acordo de leniência com o governo federal, no qual confessaria fraudes no Programa Nacional do Livro Didático, mantido pelo mesmo Ministério da Educação. As duas editores, que receberam R$ 313 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), se mostram dispostas a colaborar com as investigações e reconhecem “práticas isoladas potencialmente ilícitas por parte de alguns poucos colaboradores no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático”. Fazer o que? Precisamos de mais juízes como o Moro e de mais cadeias como a de Curitiba.

Enquanto isso ficamos a espera de um, usinho só, Prêmio Nobel para o Brasil; qualquer que seja. Na América do Sul Chile, Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela já ganharam os seus.

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