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Sobre os vinhos tecnicamente perfeitos

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Gilvan Passos

Vinhos tecnicamente perfeitos são apenas vinhos corretos, fáceis de beber, mas que não necessariamente encantarão a maioria dos consumidores com seus gostos todos próprios e intransferíveis. A excelência quase sempre não faz parte destes, pois os predicados pertinentes a excelência estão muito acima do técnico, transcendendo em muito a mera agradabilidade. Para fazer vinhos excepcionais, que fiquem no inconsciente coletivo do mercado consumidor-apreciador, o produtor (enólogo) terá de usar a técnica apenas como base, e para além desta, toda expertise e talento. A construção de um caldo que encante, implica todo um compromisso com o local (vinhedo) e seu terroir, com as uvas e seu manejo, para extrair da terra toda sua essência através de frutos de excepcional qualidade (saudáveis, fenolicamente maduros e substancialmente concentrados), e requer muita expertise e talento para dar a estas uvas o tratamento transformador necessário nas etapas vinificação e maturação a fim de gerar os melhores resultados. Na verdade os vinhos honestos ou tecnicamente perfeitos, são uma meta da produção básica comercial, que visa alcançar a maioria dos consumidores dispostos a tomar muito vinho gastando pouco dinheiro. Consumidores para os quais talvez um vinho taxado de excepcional (ícone), não agrade por causa da sua personalidade própria e marcante, da sua complexidade e da sua exigência por condições de serviço básicas necessárias à sua expressão.

Por isso, contrariando o ditado: “Gosto não se discute” convém lembrar o aforismo do mestre Sergio de Paula Santos: “Gosto não se discute, se aprimora” mostrando que nós, como seres dinâmicos que somos, precisamos entender o gosto como algo histórico e cultural que está relacionado com o tempo e o local, e, sobretudo com a dinâmica da vida que relaciona movimento com crescimento. Cabe observar que a excelência de que falo aqui nada tem a ver com preço, mas com valor, e apesar de ambas as palavras têm alguma relação, o preço é algo mensurável, mercadológico, e serve para regular o mercado e “estabelecer” valores, já o valor é algo subjetivo, variável consoante a ótica de cada consumidor, e que em muitos casos poderá está além ou aquém do preço.   

Sobre os vinhos tecnicamente perfeitos

Citações Contemporâneas
“Você não precisa entender de vinhos para se deliciar com a bebida, assim como não precisa entender como funcionar o motor do seu carro para dirigi-lo”. (Marnie Old – Sommelière)

“Nosso prazer se divide em 70% de sensações olfativas, 20% de sensações gustativas e táteis e 10% de apreciação visual” (autor desconhecido). Como crer então que somos uma civilização absolutamente visual?

“O vinho é a única bebida feita para ter um sabor melhor quando consumida junto com a comida do que sozinho” (autor desconhecido).
 
“Quanto mais me envolvo com o vinho, mais ele me parece estranho” (Gilvan Passos)

“Há pouco mais de duas décadas produzir vinho era um ofício de camponeses desprovidos de nobreza e sem instrução, que faziam uma bebida rude e em grandes quantidades. Os jovens dessa época eram estimulados a viverem nos grandes centros, como executivos, com um copo de Whisky Single Malt nas mãos. Nos últimos anos o desconforto dos grandes centros causou uma reversão tornando a vida rural interessante. A enologia passou a fazer parte das academias e a vida de um vinicultor passou a ter ares de nobreza. O vinho de um produto meramente experimental passou, com a ajuda da ciência, a ser algo artesanal e saber produzi-lo e apreciá-lo passou a ser uma arte, mas apenas quem está em total sintonia com suas vinhas conseguem extrair o melhor delas” (Jancis Robinson – Master of Wine).

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