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Sobrou para o radinho de pilha

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Ícaro Carvalho
Repórter
Quando o deficiente visual Eduardo Souza, de 25 anos, saiu de sua casa, no bairro do Bom Pastor, para acompanhar o Clássico-Rei na Arena das Dunas, no último sábado (27), não sabia que iria passar por uma situação constrangedora e embaraçosa. Com o problema nos olhos desde o seu nascimento, Eduardo costuma ir à Arena das Dunas para sentir a emoção e o clima dos jogos de futebol acompanhado de um “rádinho” de pilha, para ouvir o lance a lance e saber quando é a hora de gritar gol. 
Deficiente visual, Eduardo Souza, teve de se desfazer do rádio
Deficiente visual, Eduardo Souza, teve de se desfazer do rádio
Mesmo com a deficiência, a energia da torcida aliada ao amor pelo alvirrubro nunca impediu o natalense de ir aos jogos. Só que no último sábado (27), uma determinação da Polícia Militar, sem aviso prévio, proibiu completamente a entrada dos torcedores com os rádios de pilha no estádio palco de Copa do Mundo. O motivo: medida de segurança. Mesmo com a sua deficiência, a PM não poupou o americano, que entrou no estádio sem entender a medida e claro, sem o seu rádio.
“Tantas coisas que eles poderiam fazer em benefício dos torcedores, queria até entender, que mal um “rádinho” faz. No que que um “rádinho” pode ofender a pessoa que está ali ouvindo o seu jogo? Eles deveriam investir em uma forma de dar mais segurança tanto para mim, quanto para outros torcedores que estão lá”,  reclamou.
Ele conta ainda que a função do rádio até está disponível em seu telefone celular, só que devido ao medo de ser furtado e ficar sem o seu aparelho, deixam Eduardo de certa forma inseguro de mexer no seu smartphone em certos lugares.
“O celular a gente leva, só que eu corro o risco de ser assaltado. Eu levo esse celular, mas é perigoso. Você sabe que hoje em dia a criminalidade é muito grande. Eu que sou deficiente visual e já fui para vários jogos do América, passo por esse constrangimento de só ter o rádio para ouvir o jogo. E alguns torcedores que falam. E a gente que é deficiente visual usa o recurso do rádio, é aquela visão que você que não enxerga tem”, contou.
Quem assiste a jogos de futebol sabe que muitos torcedores não se contentam apenas em ver os jogadores correndo atrás da bola. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Smart aponta que 35% dos torcedores mantém o hábito de levar radio de pilha para os estádios, no RN. No entanto, desde a terceira rodada do campeonato potiguar, quando o América enfrentou o Potiguar de Mossoró na Arena das Dunas, que a vedação já estava em vigor. O que chama a atenção é pelo fato de que a PM sequer divulgou aos torcedores potiguares que frequentam os estádios de que os rádios seriam proibidos. A medida, de acordo com o presidente da Federação Norte-riograndense de Futebol (FNF), José Vanildo, não é inédita no RN, pois foi colocada em prática no jogo Brasil x Bolívia, pelas Eliminatórias da Copa de 2018, na Arena das Dunas.
Outro fato que chama a atenção é que em nenhum artigo do Estatuto do Torcedor os rádios de pilha são objetos a serem proibidos pela PM ou pelos órgãos que regem a segurança nos jogos.
“Não costumo me meter na questão da Segurança no estádios. Essas definições têm de ficar com a PM. A FNF sabe da importância do rádio como divulgador de notícias e na promoção dos espetáculos, mas temos de acatar as medidas de segurança realizadas pela PM”, frisou José Vanildo.
A Polícia Militar se pronunciou oficialmente na última quinta-feira, após o jogo entre ABC e Globo, no Estádio Maria Lamas Farache. A medida é de caráter preventivo e foi tomada a partir de que os oficiais de segurança constataram que membros de torcidas organizadas estavam pegando as pilhas ou até mesmo os rádios e arremessando ora nos jogadores, ora nos próprios torcedores. A PM garante que os frequentadores das praças esportivas não vinculados à torcidas organizadas poderão entrar com os rádios. 
O coronel Zacarias Mendonça, atual comandante do Comando de Policiamento Metropolitano, revelou que pode ter faltado bom senso no momento da vistoria para o caso de pessoas como Eduardo. “Aconteceu alguma ou outra falha, realmente nós somos humanos, é muito rápido o fluxo de gente, porque o pessoal deixa pra entrar de última hora, e aí acontece esses impropérios”, explicou.
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