quinta-feira, 28 de março, 2024
25.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Sofia e o nosso mundo

- Publicidade -
Alex Medeiros 
Fecharam-se para sempre os olhos mais belos da minha juventude. A já esperada e terrível notícia chegou a uma hora e vinte e oito minutos da madrugada de segunda-feira, enviada pelo poeta Aluízio Mathias, colega de geração no Grupo Aluá de Poesia, que fez história no movimento das artes entre o final dos anos 1970 e meados dos 80. “Nossa grande amiga e querida Sofia lutou bravamente, mas não resistiu às intempéries da vida”. Avisou ele.
Sofia Gosson, a menina poeta que se tornou mulher socióloga, partiu no domingo, após uma dolorida batalha contra o câncer de mama. Ela que foi a flor bonita e rebelde dos atos poéticos na cena natalense, partiu em pleno outubro rosa. Durante os últimos meses, seus amigos do passado voltaram a se reunir em torno dela, por causa dela, agarrados em esperança e num vislumbre desesperado para mantê-la ao nosso lado no presente e no futuro.
Nos agarramos na fantasia dos tempos em que a tínhamos sempre por perto, parceira dos sonhos arteiros e anfitriã diária das nossas articulações para eventos como o “14 de março”, festivais, passeatas, recitais, a Folha Poética.
Em 15 de maio, escrevi aqui mesmo sobre o esvaziamento do Beco da Lama com a pandemia e lembrei dos doces anos: “numa extensão do clima rebelde, nosso quartel-general era o Zumbar, o barzinho dos poetas Harrison e Sofia”.
No conjunto da materialidade geográfica e da espiritualidade filosófica que compõem o histórico das atividades do nosso grupo de fazer poético, talvez o bar de Sofia Gosson tenha sido o arcabouço dos nossos desejos e delírios.
Ao mesmo tempo que nos proporcionou teto e calor, se fez colega de régua e compasso, traçando na mesma mesa as ações de uma arte que ardia discurso e fervilhava perguntas para uma geração ansiosa por respostas e mutações.
Sua produção poética há de ser capítulo especial numa catalogação definitiva do movimento Aluá; e suas palavras em versos devem ser inseridas nos registros remotos das questões das mulheres potiguares daqueles anos.
Deixou três livros – Conserto em Geral, Umas e Outras e Pronto pra Outra – uma quantidade suficiente para dimensioná-la na afirmação da jornalista Eliana Lima: “toda vanguarda, destacou-se como um furacão das letras poéticas”.
A tristeza de perdê-la não impede o sabor das lembranças de um sorriso encantador e aquele par de olhos como os da xará Sophia Loren. Aliás, a atriz disse “beleza é a forma como se sente por dentro, e isso reflete em seus olhos”.
Ficamos amigos nas tardes e noites do Zumbar, depois a vida nos afastou por poucos anos até um reencontro na Confeitaria Atheneu. Seus olhos estavam tristes, seu sorriso embaçado de uma ansiedade que não queria dizer o nome.
Foi um encontro de tristes, pois eu estava reiniciando carreira solo e acabara de voltar a viver sozinho. Alguns dias depois, meu interfone tocou no meio da noite. Era ela, estava num rolé solitário de bicicleta e improvisou uma visita.
Entramos pela madrugada conversando e ouvindo canções tristes. Apesar das pedaladas, seu corpo estava menos cansado do que a alma, que ela estendeu no tapete, adormecendo num sono que parecia há muito não ser tão tranquilo.
No outro dia, se foi depois do café e levou uns versos: “Rente a porta da retina, se revela de trivela, tua face de ondina, e a imagem faz-se fina, película de purpurina, na retícula da fronha, já de fato foto sonora, flora que sonha, e assanha minha nuca, nunca posta assim, enviando seus sinais, para tuas orbitais, e obtendo a resposta da tua voz, vindo a mim por fim”.
Seus olhos agora fecharam e lembro um trecho de O Mundo de Sofia, o best seller de Jostein Gaarder: “A vida é triste e solene. Somos deixados num mundo maravilhoso, encontramo-nos com outras pessoas… Depois nos separamos e desaparecemos tão rápida e inexplicavelmente quando surgimos”. Que os olhos de Sofia reabram noutros mundos.
Piada pronta
“Advirtam-no da necessidade de permanecer em residência indicada ao juízo, atendendo aos chamados judiciais e de adotar postura que se aguarda do cidadão integrado à sociedade”. De Marco Aurélio soltando o chefe do PCC.
Pesquisa
Mais uma pesquisa aferindo a opinião do eleitor de Natal, agora feita pela Seta e Blog do BG. Como as outras, uma grande indiferença do povo com o pleito segundo os dados da pergunta espontânea, com 63,5% rejeitando todos.
Pesquisa II
Com brancos, nulos e indecisos neste patamar, significa que os índices dos candidatos pertencem ao universo da minoria de 36,5% que já se definiu. Outro dado importante é que a pesquisa foi aplicada antes da propaganda eleitoral.
Picardia
O melhor da campanha é a acidez humorística nos comentários das redes sociais. Ao ver uma mensagem do PT, o fotógrafo Cláudio Abdon tascou no Twitter: “Um mineiro pedindo voto para um carioca ser prefeito de Natal”.
Processo
Uma juíza mandou o candidato Sergio Leocádio retirar as menções a um processo movido pelo MP contra o prefeito Álvaro Dias. A primeira referência foi no debate da Band, e agora a cópia do processo circula pelas redes sociais.
Rádio
A TV CNN passou a ter também uma rede de rádio, nos moldes do grupo Globo com a CBN. A filial da rede americana fechou parceria com a rádio Transamérica e começou a veicular sua programação no horário da manhã.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas