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Sonhos e vida real

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Rubens Lemos Filho
A bobagem anglo-saxônica (e fanática)  de usar sonho como analgésico espiritual dos pobres mantém suando a camisa uma multidão de inocentes. De crédulos e bons, como escreveu o deputado federal Djalma Marinho em 1960, no telegrama de reconhecimento da vitória de Aluízio Alves para governador. 
Inteligente sem limites, Aluízio percebeu malícia nas expressões “crédulo e bom”. Intuiu que Djalma diminuía o tamanho de sua vitória interpretando as palavras como menosprezo à inteligência dos eleitores. 
Aluízio Alves nunca respondeu ao telegrama. Percebia tudo na antevisão. Detestava futebol, mas se o jogasse, teria sido um meia-armador com vocação ofensiva, pensando e finalizado impiedosamente seus oponentes. 
Palavras ocupam papéis e papel aguenta tudo. No Brasil fraturado pelo sectarismo odioso entre Direita e Esquerda, sem que haja uma opção equilibrada e capaz de devolver a serenidade institucional e política, as palavras viraram facas pontiagudas acertadas no peito, cheias de veneno na ponta, como são preparadas pela máfia italiana para cortar os inimigos. 
Não vivo, sobrevivo de palavras. Bem ou mal postas, elas garantem a comida na mesa de minha família. Desde cedo, muito menino, imitava jornais desenhando-os em folhas de tamanho A4, de tanto acompanhar meu pai na redação da Tribuna do Norte. 
Fazia das (minhas) palavras, acerto de contas com a realidade dolorosa de um subproduto dos efeitos brutais de uma Ditadura, que insanos, falando ou rabiscando textos horrorosos, teimam em querer de volta. 
Sonhei acordado em meus 51 anos de vida. Bem turbulenta. Um dia estava em Natal, no outro, no Chile, depois no Mato Grosso , quando menos esperava, dentro de um ônibus para Recife. De coerência, a raiva incurável por ter cumprido itinerários frustrantes sem culpa de nada. 
Sonhei nunca mais sair de Natal, sonhei viver de forma estável(nunca foi possível por motivos alheios à minha inútil vontade), sonhei – aí eu consegui – saber de uma vez por todas o que seria na vida, nos testes de Português e provas de História feitos ainda no colegial e aprofundados no segundo grau. 
Tinha pesadelos com Matemática, Química, Física, bandidos, seqüestradores no regime ditatorial querendo me levar para longe. Se há alguma, a vantagem de sonhos e pesadelos, ao contrário das novelas, é perder a graça no último capítulo.  Na hora agá, você se debate, ou suspira, acorda e tudo foi embora. É bom e ruim. 
Então danei-me a escrever para me manter no mundo desigual, posto que ninguém, absolutamente ninguém, jamais me deu nada de graça, ofereceu um tesouro perdido em arca no fundo do mar, me fez receber um pagamento superior , o que é compreensível – para ser otário é necessidade inegociável, ser tolerante.
Até as mensalidades escolares, eu pagava com cheque do Bradesco, quando comecei na Tribuna do Norte, cheque endossado por uma reserva moral chamada José Gobat Alves, com quem aprendi uma lição: não é preciso sorrir graciosamente. Zé Gobat tinha cara fechada e o coração maior que o mundo. Sabia demais quem era correto e quem dançava nas pistas sujas da pilantragem. A esses, nunca deu moleza.
A prostituição digital do jornalismo, que rebaixou a notícia a detalhe insignificante, é outra porrada nos que buscam a profissão como missão. São uns burros, dizem os espertos para gente igual a mim. 
Não tenho lembrado dos meus sonhos e pesadelos. Os dois últimos, que povoam a cabeça com esforço, foram de um pênalti cobrado por Marinho Apolônio do ABC contra o América no Campeonato de 1983. Quando ele ia deslocando o goleiro Rafael, despertei. Pelas estatísticas de 114 gols alvinegros, a bola deve ter entrado.
 E o outro pesadelo, que em alguns casos nem é tanto assim, foi de um cara espremendo meu pescoço. Minhas mãos não serviam para nada. Nem para rascunhar epitáfio. Acordei.  
Imagino que morreria. Agradável ou não, dependeria de um balanço geral da vida. A certeza é que, bem acordado, cansado de alma, mando os sonhos às favas, tentando comunicar direito: não sou mais (é tarde) nem crédulo nem tampouco bonzinho. Sonho é o alucinógeno que a gente toma para suportar sufoco. 
Economia 
Discretíssimo, o presidente do ABC, Bira Marques renegociou dívidas trabalhistas que chegavam a R$ 3,4  milhões, economizou cerca de R$ 1  milhão  e o total acordado caiu para R$  2,5 milhões. Sem barulho. 
Oposição 
Partiu para a agressividade em sua estratégia. Resta esperar se os eleitores preferem o equilíbrio ou a porrada no lugar do argumento. 
Sem peso 
Legítima, a chapa oposicionista é bem assessorada, mas erra pela infantilidade do radicalismo infantil. 
Souza 
Cerca-se de boleiros do passado recente, de inesquecíveis vitórias do América. 
ABC x Bahia 
Em 1961, com gols de Zeca e Mano, o ABC vencia o Bahia no Estádio Juvenal Lamartine por 2×1 diante de 3.776 pagantes. Florisvaldo marcou para o tricolor.
Times 
ABC: Ribamar; Gaspar, Piaba e Biró; Gilvan e Cadinha; Mano, Zeca, Cocó(Isaías), Cileno e Jorginho Segundo. Bahia: Jair; Hélio Lopes, Henrique e Nei Andrade; Antônio e Florisvaldo; Marito, Aguinaldo, Mário Preto e Geraldo(Valdir). Hélio foi do Riachuelo e Nei Andrade, do ABC. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.
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