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Sopros

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Vicente Serejo
Suporto. É o jeito. Mas se pudesse, teria pouco contato com pessoas muito normais. Não é por nada, adianto, antes que floresça no sentimento do leitor algo de estranho. Nada disso. É por absoluta falta de crença. Olhar o mundo com os olhos dos absolutamente normais?  Não. A vida precisa de algo de mais ou de menos. Da beleza que afaste a monotonia das horas iguais, úmidas do vinho triste da melancolia, do amor dos amantes ou dos amigos, e se somos tantos.   
Dou um exemplo doméstico, mas que serve: dia desses, tentava vencer a tarde estirando suas horas no ritmo lento deste teclado. Antes, se é mais sincero confessar, diria que ainda sou um homem analógico que embora use o computador por força e exigência do jornal, a ele só concedo a tarefa de gravar palavras. Se hoje chamam as teclas de dígitos, paciência. Não sou culpado. Sou vítima. Sua única utilidade é o conforto de substituir as palavras sem rasurá-las.  
Sim, como ia dizendo, antes de cair na digressão – a tarde estava assim. Não chegavam novidades nem pelo telefone. Ao menos dava para notar quem era prisioneiro de quem. Se nós dois, os confinados, ou se é a tarde que vive presa em nós. Saía pela varanda e os janelões um certo ar cansado das horas lentas que dormem no chão da sala e nem notei que Rejane mexia nos cds. Continuei lutando com as palavras, daqui e dali. Como é do ofício de escrevinhador.
De repente, a casa ficou cheia de canções. Renasciam de músicos esquecidos que Rejane resolveu acordá-los. Bastou o sopro de Márcio Montarroyos, no trompete, solando um velho samba de Vadico e Noel Rosa, e o silêncio, espantado, fugiu desconfiado. Depois, achou pouco, foi buscar os trombones de Raul de Barros e Zé da Velha, numa conversa de gafieira. E chamou o flugelhorn de Silvério Pessoa que lembrou Cartola no seu bordado de fino e requintado trato. 
Antigamente, se um poeta romântico queria falar da pobre e frágil vida humana, bastava dizer que era apenas um sopro. Não sei se concordo. Se vou além de admitir o sentido figurado do último sopro de oxigênio nos pulmões, como sinal vital, embora hoje a ciência disponha dos respiradores artificiais. No sopro, tudo é vida. Lembro da felicidade daquela noite na Gafieira Estudantina, no centro antigo do Rio, que visitei a convite de Luiz Lobo e vi um baile de salão. 
A vida é um instante. Um instante que pode ser eterno, e basta um olhar inesquecível. Ou uma eternidade capaz de desaparecer num minuto se um grande instante acaba. Nada é eterno para que tudo seja eterno. Peço desculpas ao leitor e ponho o ponto final nesta conversa que não teve assunto – divagou, e se perdeu. Não há tempo nem assunto para fazer outra crônica. Estou no limite da hora de remeter ao jornal. Não há como substituir. É muito tarde. Até terça.
JOGO – A governadora Fátima Bezerra, em princípio, e ainda que pareça muito cedo para afirmar, não descuidará de cravar sutilmente um jogo de alternativas para quando 2022 chegar.
SAÍDAS – Em política, ciência e arte ao mesmo tempo, jogar bem o jogo é não fechar todas as saídas. A governadora não vai chegar a 2022 prisioneira da obsessão de um segundo mandato.
SENHA – A aliança PT-PSDB, essa que hoje une a governadora Fátima Bezerra e o presidente da Assembleia, Ezequiel Ferreira, pode ser circunstancial e não ir além do seu governo. Ou não. 
OU – Pode ser uma bem urdida reserva de alternativa se amanhã a estratégia recomendar uma união de forças. Como um puzzle, com plasticidade para as mais diversas montagens e modelos. 
GESTO – Nem tudo está perdido nesta Aldeia Velha. O Colégio Porto vai adquirir as reedições dos livros sobre a história do RN que o Sebo Vermelho lançou até agora. Para a sua biblioteca. 
ANOTEM – Um vereador da própria bancada governista não acredita que o Plano Diretor entre em pauta antes das eleições. E até já justifica: “Não é bom para ninguém. Nem para o prefeito”.
LUTA – A colônia macauense começa a lutar para eleger vereador o advogado e poeta Saddock de Albuquerque. É de Macau, vive há anos e anos em Natal, e conhece a luta dos mais simples. 

MUNDO – O poeta Diógenes da Cunha Lima anda entusiasmado com o Festival de Cultura da Áustria. Vai falar daqui, hoje, para Viena. E de Viena para o mundo. Em transmissão virtual. 
AVISO – Por enquanto o segundo turno é apenas um palhaço que faz gracejos entre os quatorze candidatos a perfeito, uns cheios de sonhos, outros cumprindo missões e tarefas. Confessáveis ou não, mas tudo ainda muito natural. Como personagens de um palco e seu espetáculo teatral.
MAIS – Os papéis só ficarão mais nítidos sob o calor da campanha. Menos na telinha da tevê, quase todos com apenas segundos de exibição, e também nas redes sociais. Uma nitidez maior só virá quando da montagem do segundo turno, mas ainda assim não será uma nitidez absoluta.
MAS – Há um dado real que precisa não fugir da vista: o favoritismo da candidatura de Álvaro Dias ao segundo mandato. Eleito, a montagem do seu secretariado, nos três escalões, será uma boa revelação de como foi na campanha e de todos os seus reflexos sobre a sucessão de 2022. 
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