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Souza: “Futebol do RN pode melhorar”

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Vicente Estevam – repórter de Esportes

Um mês e treze dias depois de anunciar o encerramento da carreira profissional, Souza voltou às suas origens e agora passou a defender o Centro Sportivo Itajaense (CSI) na Copa Oeste. Mesmo enfrentando todas as dificuldades comuns aos jogos de várzea, o jogador que passou pela Seleção Brasileira e que jogou nos melhores estádios da Europa, ainda mostra a mesma alegria de jogar futebol, porém, ressalta que não reunia condições de dar sequência a sua carreira no América devido as limitações físicas, que o impediam de dar um ritmo normal à carreira. Livre dos compromissos profissionais e atuando apenas por prazer, o ex-camisa dez americano agora tem planos de ajudar a desenvolver o futebol não só da sua cidade natal Itajá, bem como de todo Vale do Açu. Para tanto, está trabalhando o fechamento de uma parceria com um grupo internacional que além da revelação de novos valores para o mercado europeu, vai destinar parte da verba empregada no projeto para realização de ações sociais visando minimizar o problema dos jovens com alcoolismo no interior, onde gostaria de contar com o apoio também do poder público.

O que te levou a abdicar da vida profissional para voltar às origens no CSI de Itajá?
Minha motivação é muito grande, minha vontade de voltar a jogar futebol também é bastante grande, todos sabem que tentei muito continuar atuando pelo América, fiz vários tratamentos. Nesse último retorno todos estavam cientes das dificuldades que eu teria de enfrentar, decidi topar a parada encarei o desafio, mas infelizmente não deu. A sequência de contusão acabou me tirando do futebol profissional. Na Copa Oeste, atuando pelo Itajá as exigências não são tão grandes quanto no mundo profissional.

Mas o que foi determinante para sua atitude?
A dinâmica do profissional é muito forte, você é obrigado a dar duro diariamente para ficar próximo da igualdade física dos demais companheiros e também dos adversários. Atuando de forma amadora pelo Itajá eu treino apenas uma vez por semana, na segunda-feira, e não estou fazendo mais nada. É lógico que eu queria estar mais preparado, mas também montei um escritório onde estou trabalhando muito para seguir na minha nova vida. Venho ao CSI apenas no final de semana para dar a minha contribuição.

Você que já passou até pela Seleção Brasileira, o que sente  voltando as origens?
Muita alegria. Lógico que agente sente falta de melhores condições, falta patrocínio e por isso as deficiências do estádio de Itajá são grandes. O gramado não é dos melhores, mas isso tudo é suportável. Venho aqui com intuito de reanimar o pessoal, existem pessoas aqui na cidade que praticamente dão a sua vida para manter esse clube atuante, caso de Netinho (Neto Matias) que tem realizado bons trabalhos no futebol profissional e nunca teve uma chance de tentar mostrar o seu valor num grande clube do estado. Não pelo fato dele ser meu primo que digo isso, a afirmação é baseada nos números que ele conseguiu na carreira. Isso também se estende a Bebeto e alguns outros que se dedicam a causa sem qualquer tipo de remuneração.

Então quer dizer que o esforço desse pessoal te serve como motivação?
Não deixa de ser. Vendo isso acontecendo no local onde dei meus primeiros passos, aliando a minha vontade de jogar futebol e de ajudar foi o que me fez retornar tão rápido. Já passei por vários palcos com estrutura imensa em nível de conforto e condições de trabalho para os atletas, sei das dificuldades do amadorismo no Rio Grande do Norte, reconheço as condições precárias, mas ainda assim me sinto contente, estou feliz já fiz três partidas pelo Itajá e estou sempre à disposição para ajudar. É possível que possa aparecer um jovem com talento e que eu possa abrir as portas para ele e essa está sendo a minha maior motivação.

Você já cumpriu sua meta como profissional e agora qual o seu grande objetivo?
Eu gosto muito de futebol e para mim largar a profissão de um instante para outro não é uma tarefa fácil. Todos sentem falta de entrar num estádio, ver aquela festa da torcida, do próprio clima do jogo. Isso, para quem atuou por 18 anos, torna  muito difícil a decisão. Como falei a minha maior motivação no retorno as competições do interior é por todas essas coisas que ocorrem por aqui e a forma como as pessoas se entregam nesse tipo de competição. Isso mexe comigo, sou da região do Vale do Açu, não vou negar minhas origens, meu retorno mexe muito com a cidade, sinto uma movimentação diferente dentro de Itajá e ajudo ao clube doando bolas, chuteiras e no que posso além de estar em campo.

Você montou um escritório, nele o Souza irá mexer com o quê?
Bem essa era uma coisa que não gostaria de antecipar no momento, mas está para acontecer uma coisa boa. Só gostaria de falar sobre o assunto quando estivesse algo de concreto para mostrar, mas estou mantendo alguns contatos importantes, já participei de algumas reuniões com pessoas do exterior no sentido de realizar alguns investimentos no Centro Sportivo Itajaense e montar um CT em Natal. Já ocorreram as primeiras conversas e o negócio está muito bem encaminhado. Fiquei contente com esse primeiro contato e espero que tudo aconteça da melhor maneira possível para que possamos reestruturar o clube de Itajá e dar oportunidade para revelação de alguns jogadores.  O projeto também engloba a realização de projetos na área social e me deixou muito animado.

O que é mais gostoso: jogar sem maiores compromissos apenas por prazer ou ser profissional?
O importante é está jogando. É lógico que neste momento eu gostaria de estar defendendo o América, ajudando o clube nessa tarefa difícil dentro da série B, mas não foi possível, eu não sou eterno, cedo ou tarde o meu afastamento teria de ocorrer é normal e faz parte da vida. Para mim não existe diferença e tudo é gratificante, futebol para mim é tudo e nos dois campos a satisfação é um pouco diferente. Atuando na Copa Oeste a minha satisfação é ajudar as pessoas que se dedicam, ficar de olho para ver se posso proporcionar o mesmo caminho que segui a alguns jovens valores da região. Tudo dá prazer, venho, jogo e volto para Natal no mesmo dia apenas pelo prazer.

O que mais te desgastou na carreira profissional?
A parte física mesmo, desde os 15 anos quando dei partida na minha carreira eu trabalhava forte subindo, naquela ocasião, o Morro do Careca, em Ponta Negra. Isso desgasta muito, o futebol também ficou muito dinâmico e eu comecei a apresentar vários problemas musculares e clínicos o que terminou me impedindo de acompanhar essa evolução. Além disso, eu sempre me cobrei muito como atleta, gostava de estar em campo, render sempre o máximo possível e treinar principalmente. É muito difícil a pessoa ir para o CT todo dia e não conseguir treinar, então o que você vai fazer lá? Passar vontade!

Esses problemas mexeram muito com a sua cabeça?
Decidi realmente dar um basta ao perceber que estava indo para o CT do América todos os dias e não estava conseguindo atuar. Saia de casa todos os dias sete e meia da manhã e chegava em casa após as nove da noite, treinava de manhã e a tarde, saia do CT ia para uma academia trabalhar RPG e Pilatos e não estava conseguindo treinar com bola. Então não havia motivo para continuar nessa rotina. Se era para ajudar o América eu teria de arranjar outra forma, pois como atleta já estava mesmo muito difícil. Isso foi determinante para minha decisão de parar.

O futebol profissional então tava deixando de ser prazeroso e se tornando um sacrifício?
Tava realmente deixando de ser prazeroso porque eu não estava conseguindo treinar nem jogar. Não é questão relativa a qualquer outro problema. Aqui no Itajá não, tenho a liberdade de treinar apenas uma vez por semana, mas lógico que vou ter de melhorar isso porque não quero ficar apenas vindo para os jogos, mas é diferente não existe a obrigação de treinar todos os dias. Embora eu quisesse não estava conseguindo mais, então chega uma hora que você mesmo sente que não existe motivo para ficar num clube apenas como uma peça figurativa, indo ao CT sem poder treinar, fazer um jogo e ficar fora do outro que será disputado fora de Natal. Eu preferia estar treinando todos os dias e atuando em todos os jogos e como isso não estava sendo possível foi melhor parar.

O que mudou do Souza jovem atuando pelo Itajá e o de agora, voltando às origens?
Mudança mesmo só na experiência e o tempo que se passou. A minha alegria de atuar no Itajá continua sendo exatamente a mesma do meu tempo de garoto. Fico muito feliz em receber o carinho das pessoas da minha cidade e de certa forma está podendo ajudar ao clube. Estou pensando em diversas formas de ajudar a desenvolver o futebol daqui com esse novo projeto que está para ser lançado e isso se torna muito gratificante para mim.

Você acha que o futebol de várzea poderia ser mais valorizado se outros atletas seguissem o mesmo caminho que o seu?
Eu não falo nem no jogador, pois considero que isso fica a critério de cada um e longe de mim querer influir na vida das pessoas. Mas o que acho realmente é que esse tipo de competição merece um pouco mais de incentivo das prefeituras ou até mesmo do governo estadual para ter organização e estrutura melhor. Já fomos penalizados com o fim da disputa do Matutão, era uma competição importante e se fosse estabelecido um limite de idade, serviria para  trabalhar na revelação de jogadores. Poderíamos ter uma qualidade melhor nessas competições interioranas com apoio políticos.

Então falta só vontade política para melhorar?
Eu acho que com um maior apoio político esse tipo de competição poderia servir não só como auxílio ao esporte como a própria educação do estado. Dando oportunidade a essa imensa gama de jovens que disputam uma competição como a Copa Oeste, por tabela, os políticos estariam trabalhando para resolver outros tipos de problemas recorrente aos jovens no interior, onde as oportunidades de trabalho são poucas. Por exemplo, no interior a gente sabe que o índice de alcoolismo juvenil é muito grande justamente porque os jovens não têm muito que fazer e se fazendo um trabalho como o projeto que estou tentando viabilizar, dando oportunidade, isso ajudaria bastante a melhorar a qualidade de vida nestes lugares.

Você está disposto a usar a sua influência para melhorar essa situação?
Não sei, meu objetivo maior nesse instante é conseguir fechar a parceria que venho alinhavando com um grupo internacional, conseguindo estruturar o estádio de Itajá nós vamos abrir as portas para correr atrás de outros benefícios. Isso é um projeto para o futuro.

Esse pode ser o primeiro passo para a futura profissionalização do Itajá?
Não a profissionalização, não sei se vamos chegar a esse ponto. Mas talvez com a parceria funcionando o foco do objetivo possa ser ampliado para chegar a esse patamar. Inicialmente nós pretendemos trabalhar com uma faixa etária de atletas visando à revelação de novos talentos.  A meta inicial é mandar nossas revelações para esse clube com o qual está sendo feito a parceria. Poderia ser feito outro grupo paralelo para aproveitar aquelas pessoas com talento e que estejam com a idade mais avançada, como o meu caso, para jogar fazendo o Matutão ou a continuação da própria Copa Oeste.

O que seria melhor para o futebol do interior neste momento?
Acho que investimento, você vê que o CSI é um clube social, não é municipal, mas sua estrutura serve a todos. Aqui em Itajá como em outros interiores o maior problema é a política. A politicagem a divisão na cidade, prejudica bastante o desenvolvimento do esporte é uma coisa que não poderia se refletir em prejuízo da única praça esportiva da cidade, de forma alguma poderia deixar o gramado chegar ao estado degradante em que se encontra, a estrutura física também se encontra em péssimas condições e se não tomar cuidado vai acabar caindo, podendo até mesmo provocar um acidente. Neste momento nós temos de fazer com que as pessoas esqueçam as diferenças e fazer um trabalho de mutirão como sempre foi feito.

Qual a sua percepção sobre o futebol profissional no RN?
O futebol no nosso estado mudou muito, eu sei que para fazer futebol — a gente critica o dirigente por diversos motivos —, mas temos que entender que o futebol moderno necessita de patrocínio, tem que ter verba. Não adianta apenas querer se profissional, é necessário dispor de recursos para realização de investimentos, mas ainda assim acredito que o nível pode melhorar.

Você também percebeu o fortalecimento do futebol do interior?
Nesse caso eu costumo fazer uma pergunta básica: foi o futebol do interior que cresceu ou os clubes da capital que deixaram o nível cair? Eu sei que é difícil fazer futebol aqui, sem o patrocínio forte, mas eu acho que dá para dar uma melhorada na nossa qualidade técnica no geral.

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