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Souza: “Não precisa vaidade para provar que é bom”

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MADE IN ITAJÁ - A história do menino que saiu do RN para brilhar na Rússia

Conversar com o jogador Souza, é um bate-papo com um atleta que alcançou o sucesso, mas admite suas limitações. Aos 30 anos, Souza já não mais alimenta o sonho de retomar à seleção brasileira. Reconhece que a concorrência por uma vaga é grande e a chance que teve foi em 2001, quando foi campeão brasileiro. No entanto, não conseguiu a convocação para Copa.

Mas os planos de Souza no futebol não param. Depois de jogar dois anos na Rússia, o jogador planeja fazer uma temporada no futebol europeu. Enquanto isso, está “se dando ao luxo” de jogar gratuitamente para o América.

“Mas isso não encerra ciclo algum. Era um plano que tinha de jogar no América e surgiu essa oportunidade. Trabalhei 15 anos e agora estou podendo fazer isso (trabalhar sem cobrar para o América)”, comenta o meiocampista, assumindo que o trabalho no futebol lhe permitiu fazer alguns investimentos no Rio Grande do Norte.

Sobre o futebol brasileiro, Souza considera justa a escolha de Ronaldinho Gaúcho como melhor jogador do mundo e aposta na seleção brasileira para Copa do Mundo. Mas assume que hoje um dos problemas que entravam o bom futebol nas equipes é “a briga de egos” dos atletas.

Um jogador simples, de fala tranqüila e, principalmente, um potiguar de grande experiência no futebol, esse é o nosso entrevistado de 3 por 4 desse domingo.

Depois da temporada na Rússia você volta ao Rio Grande do Norte, onde tudo começou. Fecha-se um ciclo?
Não. De maneira alguma. Tive algumas propostas, mas no momento achei que deveria ficar aqui por algumas situações. Teve um momento que estava priorizando a Europa, algumas coisas particulares me fizeram permanecer aqui. Em conversa com o meu procurador, achei melhor me juntar ao América, num contrato de três meses, mas tenho total liberdade para ir para fora do país ou para algum clube da série A. Estou livre. Estou contente, mas nada de fechar ciclo. Pretendo jogar ainda uns três anos. É difícil prever até quando vai jogar, mas é um vício e vou tentar jogar.

O que lhe prendeu a Natal nesse momento?
Tiveram algumas negociações que não aconteceram. Minha esposa está grávida e por medida de segurança é melhor ficar aqui. Se fosse viajar iria ficar só. Por isso optei por ficar aqui e para não ficar parado treinar no América, nesse contrato de três meses. 

Esse contrato com o América tem remuneração?
Não tem remuneração alguma. Fazia planos de jogar no América de graça. É uma forma de carinho, de retribuir. Foi onde eu comecei e aqui todos tem carinho grande por mim. É uma retribuição. Simplesmente estou cumprindo e vou cumprir o que prometi. Isso seria no futuro, mas pintou oportunidade agora. Mas como estou com liberdade não tem problema.

Você volta de onde começou, qual seu sentimento? Que filme passa na sua cabeça agora?
A sensação é de tranqüilidade. Saí daqui com 15 anos. Estou há 15 anos fora. Natal é uma cidade que gosto muito. Gosto do Rio Grande do Norte, é aqui que tenho meus investimentos e pretendo morar aqui. Pintou essa oportunidade para mim. Não se fecha ciclo, tem clubes que telefonam. Optei por ficar aqui, porque as vezes a gente quer dar o tempo e quero ficar um pouco mais aqui.

Ou seja, sua situação financeira hoje lhe permite o luxo de ficar três meses sem receber salário?
É trabalhei 15 anos, foram difíceis, deu para conseguir alguma coisa e permite. Mas isso não quer dizer que vou sair jogando de graça por aí. Daqui a pouco vou acertar com algum clube. Depois vou fazer com o Rio Branco (o mesmo que fiz com o América). Tenho grande carinho com o pessoal de Americana e também vou mais para frente fazer o mesmo. Mas tenho que trabalhar para ganhar o troco, está nascendo meu filho aí.

E quando você cumprirá essa promessa no Rio Branco?
Essa é outra etapa. Essa do América também não estava prevista. Seria mais para o final, o futuro mesmo. Só que com a chegada do filho, foi juntando uma série de coisas que me levaram a optar por ficar aqui. Aqui não tenho remuneração, mas tenho liberdade. Mesmo se eu sair daqui a pouco do América, a minha promessa vou cumprir.

Você encerrará sua carreira aqui?
Não sei se vou encerrar, mas uma temporada vou jogar sem remuneração. Além dessa, virei jogar aqui.

Qual sua prioridade hoje?
A vontade é de ficar aqui, morar aqui, jogar aqui. Mas tenho 30 anos, tenho mais alguns anos para jogar ainda. Sou profissional. Tem algumas coisas que eu quero. Não estou desmotivado. Teve um momento que não tinha negociado com clubes brasileiros porque minha prioridade era clubes lá fora. Mas não deu certo. Hoje aparecendo proposta interessante, que tenha futuro, objetivo, estou livre para sair.

As ações sempre são entravadas por causa de dinheiro, quanto custa levar Souza para um clube?
Quase nada porque jogo hoje para o América de graça. (risos). São números difíceis para a gente divulgar. Mas sabemos que o futebol brasileiro hoje não é como antes. Fora tem valores bem maiores.

Voltar para Rússia seria uma hipótese?
No começo do ano tinha essa vontade. Hoje já não tenho mais essa vontade. Prefiro ganhar um pouco menos e viver um pouco melhor, pode ser no México, Portugal.

A decisão de ir para Rússia e permanecer por dois anos foi uma forma de “fazer o pé de meia”?
Também. Mas era uma oportunidade, foi importante pela riqueza de experiência. Nem imaginava como era a Rússia. Lá consegui um grande respeito, as pessoas gostam muito de mim. Conheci cultura, idioma, tudo em geral. No geral, você é profissional e vai pelo dinheiro, mas não foi só isso. 

Você já passou pela seleção brasileira, ainda alimenta o sonho de retornar para a equipe?
É muito difícil. Agora em 2001, tive um momento muito bom no Atlético Paranaense, fui campeão brasileiro, com o Klebson, que foi para seleção brasileira. Ora, se eu fui campeão brasileiro jogando um bom futebol e não fui convocado, fica difícil ir agora.

Se isso é muito difícil retornar a seleção, que sonho você acalenta para sua carreira?
O meu sonho no futebol hoje seria retornar a seleção, como sei que é difícil quero jogar um ano na Europa, ser campeão de Libertadores, que é um título que não tenho, disputar um mundial. Esses são objetivos que tenho. Gostaria de ser campeão brasileiro.

Lhe entristece reconhecer que é difícil chegar a seleção brasileira?
Não me entristece porque o trabalho que fiz, tudo que conquistei, foi através do trabalho. São opções. estou feliz, muito feliz de onde sair, como foi e chegar onde cheguei. não baixar a cabeça, mas com muita humildade. tudo isso me deixa com muita satisfação.

Você já tomou sua dose de humildade?
Não sei. Deixo para as pessoas analisarem. Sempre procuro ser correto, honesto. Cada um que analise. Mas acho que sou um cara normal.

No início dessa entrevista você falou que Natal concentra os seus investimentos, Souza é um homem rico?
Não sei. 15 anos de futebol dá para comprar uma vaca. Não sei. O que consegui dá para ajudar algumas pessoas da minha família e viver normal.

Você já visualiza o final da sua carreira?
É difícil prever no futebol. A gente sempre fala que tá cansado hoje e chega em casa e pega uma bola. Não dá para ter uma previsão, a não ser uma contusão mais séria. Hoje eu quero com 35 anos estar jogando.

O que mudou do menino de Itajá para o Souza que está no América?
Mudou o conhecimento. As viagens a gente aprende muito, convive com muitas pessoas. A gente acaba aprendendo, saímos para o mundo. Fomos para uma nova etapa da vida. Sofremos com algumas situações e crescemos como ser humano, homens, jogador.

Você falou em sofrimento, o que por exemplo?
As pessoas acham que a Rússia é mil maravilhas. O frio é intenso, muito frio mesmo, você não consegue correr, a orelha dói e as condições não são tão boas em termos de alimentação. 

Encerrando a carreira de jogador, encerra o trabalho profissional de Souza?
De jeito nenhum. Não concluí o ensino médio e pretendo voltar a estudar. Quero fazer faculdade não sei de que, mas com certeza farei também Administração de Empresas.

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