Augusto Bezerril
Colunista de moda
A carioca Lenny Niemeyer escolheu a Pinacoteca do Estado de São Paulo como cenário para apresentação da coleção Cartografia. O Centro Cultural, localizado na região central de SP, abriga mostra Sopro do artista Ernesto Neto. Mas teve visitação suspensa, nesta terça-feira, durante o desfile. As referências cartográficas de Lenny Niemeyer mostraram-se bem situadas entre as esculturas e instalações. Mestre na arte da moda praia, a estilista transpôs em texturas e estampas sinuosas de dunas, paisagens botânicas e mapas. As peças tramadas em tricô em dourado e cru de poliéster (leia-se lycra) constam entre os highlights da do verão. Do ponto de vista de formas, a silhueta caixa. O verão da carioca Patrícia Vieira tem base na arte naif, de Heitor dos Prazeres, e da artista Suzan Wick. Partindo da frase de Clarice Lispector segundo a qual “cada pessoa é um mundo”, Patrícia cria uma versão (utópica? ) da Mata Atlântica do Brasil. Em processo colaborativo, o desenvolvimento do couro recebeu interferências das artistas Rafaela Mascaro e Natália Reyes. “Não somos nada sem os outros”, diz Patrícia Vieira, em total sintonia com a ideia de compartilhamento e descobertas baseadas na consciência social. Os colaboradores não tiraram, portanto, o DNA da grife conhecido de beneficiamento do couro em peças em saias e vestidos de cintura marcada e jaquetas. Entre aplicações e metalizados, o olhar sobre a Mata Atlântica tem forte sotaque carioca e brasileiro. Carmen Miranda na trilha sonora deixa um recado de que trata-se de um estilo para brasileiro de se vê e vestir.
Se cada pessoa é realmente um mundo e Portugal se converteu em refúgio de brasileiro, Miami considerada meca dos afortunados brasileiros na década de 90 retorna no verão Reinaldo Lourenço.
Um verão dual, classy e leve nos espera, segundo visão do desfile Reinaldo Lourenço, responsável pelo desfile de abertura da SPFW. A escolha do Farol Santander faz muito sentido: Reinaldo flerta com o estilo art decor, a partir das cores adocicadas e arquitetura de Miami. Ironicamente, o estilista justapõe dois momentos: os anos 50 e 90. Rei vai, assim, mostrando o que sabe fazer bem. O híbrido de opostos, com elegância, Sabe como? Na sutileza do Richeile na barra dos short-saia e no detalhe da manga-folha da primorosa alfaiataria. Mais adiante Reinaldo brinca de mostra-não-mostra do peek-a-boo dos vestidos vazados que, no corte do estilista, é sexy e classy. As cores adocicadas emprestam frescor às estampas de uma Miami estilizada e looks monocromáticos. As gradações de verdes e tons do por-do-sol inspiram momentos perto da natureza e/ou sunset. Se o mundo parece tão leve, o pink é a cor mais forte. Nos pés, inesperadas oxfords e sandálias. Sim, coisa para quem sabe. Ou tem o poder reunir Sabrina Sato e Costanza Pascolato. A coleção tem nome: Hotel Lourenço.
Para situar onde aconteceu o desfile Reinaldo Lourenço, que abriu line up da SPFW, segunda (22;04), basta lembra que o Farol Santander é símbolo da revitalização da região central da capital paulistana. O emblemático edifício e cartão postal de São Paulo abriga duas exposição imperdíveis: Hebe Eterna e Além do Infinto.