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SUS cobre cirurgias reparadoras como lábio leporino

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SAÚDE - Maria Aparecida conta que a filha, Maria Aziele nasceu com um angioma na boca

Quando se pensa em cirurgia plástica, vem à cabeça aquelas mulheres que fazem sacrifícios para manter o corpo conforme o padrão imposto pelos programas de moda. Mas cirurgia plástica não serve apenas para aumentar os seios, corrigir um detalhe indesejado no nariz ou eliminar gordurinhas. Para muitas pessoas, a plástica é uma maneira de reparar seqüelas de acidentes ou solucionar problemas congênitos e se sentir aceito.

Muitas pessoas que precisam de cirurgias, enxergam na plástica reparadora uma maneira de se sentir mais aceito pela sociedade. Em muitos casos, a cirurgia é uma saída para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Mas é comum que pacientes que necessitem de plásticas reparadoras, não possam pagar pelo procedimento. Para elas, restam as restritas possibilidades, bancadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e iniciativas voluntárias.

As cirurgias de lábio leporino, fenda palatina, orelhas de abano e redução de mama (casos que a mulher apresenta problemas de coluna porque tem seios gigantes e usa sutiã com número acima de 50), são os mais comuns de plásticas reparadoras. O SUS banca alguns desses procedimentos, mas muitas vezes faltam profissionais habilitados para esses procedimentos, conveniados ao sistema público.

Em Natal, a Secretaria Municipal de Saúde realiza procedimentos reparadores, como correção de sequelas de queimaduras, cirurgias bucomaxilofaciais, lábio leporino, orelhas de abano, atende casos de gigantomastia e colocação de próteses em mulheres que foram submetidas à mastectomia.

O secretário adjunto de planejamento e promoção de saúde da SMS, Edmilson Albuquerque Júnior explicou que a secretaria recebe o repasse mensal do Ministério da Saúde, de aproximadamente R$ 8 milhões e 615 mil. Da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), a SMS recebe o apoio de recursos humanos e atendimento do Samu. E da própria Prefeitura são cerca de R$ 6 milhões e 38 mil, por mês. “Não há um repasse específico para cirurgias reparadoras, mas a SMS destina parte dos recursos para realizar esses procedimentos”, diz. De acordo com ele, a SMS não tem um valor fixo, destinado para as plásticas reparadoras. “Os procedimentos são realizados de acordo com a demanda. Não existe um número de cirurgias definido previamente”. O secretário adjunto explica a quantidade de procedimentos realizados em Natal, através do SUS, por mês, varia de acordo com fatores como, demanda de pacientes, capacidade dos hospitais e disponibilidade de médicos especializados.

Para o coordenador do departamento de tratamento fora de domicílio e central de regulação de alta complexidade da Sesap, Francisco Teixeira, é difícil implantar esse tipo de procedimento no Estado. “Não há serviço especializado aqui que atenda pelo SUS”, diz. Segundo ele, ainda é mais vantajoso enviar os pacientes para outros Estados. Em 2006, o  estado do Rio Grande do Norte enviou 192 pacientes para a cidade do Recife e 55 para Bauru, em São Paulo. para a realização de cirurgia de lábio leporino.

Faltam médicos conveniados ao SUS

Em 2006, a SMS realizou 1.972 procedimentos com códigos de plásticas, e gastou R$1.053.806,66 milhão. Cláudia Miranda, médica auditora responsável pela regulação hospitalar da SMS, explica que todos os procedimentos com código de plástica, são de cirurgias reparadoras. “O SUS não banca cirurgias estéticas”. De acordo com ela, além dos procedimentos realizados com o código de plástica, existem outros tipos de cirurgias, com outros códigos, que podem ser consideradas reparadoras. “Mas não temos esses dados específicos. A secretaria não tem como calcular os procedimentos um por um”, afirma.

Segundo Cláudia Miranda, os hospitais de Natal estão bem aparelhados e têm condições de realizar vários tipos de cirurgias reparadoras. “Recebemos um grande número de pacientes do interior. Apenas 40% das pessoas atendidas pela secretaria são de Natal”, diz. Para ela, Natal tem hospitais de referência na realização de plásticas reparadoras, como o Hospital Onofre Lopes, o Hospital Infantil Varela Santiago e o Hospital Walfredo Gurgel. “Os hospitais estão bem preparados e são referência”, comenta.

Mas nem tudo são flores quando o assunto é operar a população que depende do SUS. Segundo o secretário adjunto, Edmilson de Albuquerque, muitas vezes os hospitais são equipados, mas faltam médicos especialistas conveniados ao Sistema Único de Saúde. “Para alguns procedimentos faltam especialistas e por isso, algumas cirurgias são adiadas. Até temos especialistas na cidade, mas eles não atuam pelo SUS”. Ele explica também que Natal não tem como realizar procedimentos de alta complexidade e nem recebe recursos do SUS para isso. “Ainda vamos montar, em parceria com a Sesap, um programa de alta complexidade. Por enquanto, só podemos realizar procedimentos mais simples, ou a etapa inicial de tratamentos de alta complexidade”.

É o caso das cirurgias de lábio leporino. A SMS só tem condições de realizar a primeira etapa do procedimento. O tratamento é concluído no interior de São Paulo, em Baurú, ou no Recife. A partir dessa etapa, a secretaria municipal encaminha os pacientes para a Sesap – que atua quando é necessário enviar pacientes para fora do Rio Grande do Norte, através do tratamento fora de domicílio.

A Sesap garante ao paciente o tratamento em outra cidade, a hospedagem e uma ajuda de custo que pode chegar a R$350, dependendo do tempo de permanência longe de casa. O Ministério da Saúde repassa R$350 mil, por mês, para todos os tipos de tratamentos realizados fora do Estado.

Projeto “você de bem com a vida”

Como os recursos do SUS são limitados e a demanda por cirurgias plásticas reparadoras é muito grande, um grupo de médicos resolveu tomar a frente com o projeto “Você de bem com a vida”, e realizar as plásticas gratuitamente, para pessoas que não têm recursos. A iniciativa surgiu a partir da clínica Marco Almeida, que em seis anos já operou 250 pessoas. A seleção é feita através de um cadastramento e da avaliação de cada caso. No último cadastramento, em outubro de 2005, mais de duas mil pessoas procuraram o projeto. A equipe médica selecionou 75 pessoas, que devem ser operadas até o final de 2007.

De acordo com o idealizador do projeto, o cirurgião plástico Marco Almeida, o único impedimento para que o programa siga normalmente, é onde realizar as operações. “Temos problemas de liberação de hospital”. Segundo ele, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) colabora com o projeto através da liberação da Autorização de Internação Hospitalar (AIH), mas como os hospitais têm problemas de superlotação, nem sempre há possibilidade de usar o espaço do município. “E é inviável bancar internação particular para todos os pacientes”, diz.

Atraso

Por causa do problema de falta de lugar para operar as pessoas, o projeto está atrasado. Segundo Marco Almeida, não houve cadastramento em 2006, porque as pessoas selecionadas em 2005 ainda não foram todas operadas (ainda faltam 49 pessoas).

“Não vou cadastrar outras pessoas se ainda não operei as que já estão selecionadas anteriormente”, conta. Para ele, o problema é a impossibilidade de bancar internação para todo mundo. O projeto cede os equipamentos necessários para a cirurgia e os medicamentos, além da própria equipe médica. “Gostaríamos que empresários locais ajudassem com a internação, pois poderíamos beneficiar muito mais pacientes com as cirurgias”, diz.

Depoimentos:

A dona-de-casa Maria Dos Navegantes Lemos, de 27 anos, tinha gigantomastia. Em dezembro do ano passado ela foi operada, através do projeto da clínica Dr. Marco Almeida. Na época, o tamanho do sutiã que ela usava era 52 e hoje é 48.

“Foi uma alegria porque era uma coisa que eu queria muito. Tinha problema de coluna”, conta. Ela lembra que tinha vergonha de usar blusas justas e que quando viu a divulgação do projeto na televisão, acreditou que poderia solucionar seu problema. “E deu certo”.

Maria Aziele, de sete anos, nasceu com um angioma (espécie de tumor) no lábio. Segundo a mãe da menina, Maria Aparecida da Silva, 27 anos, conforme a criança crescia, o tumor aumentava. “Sangrava e aumentava de tamanho”, diz a mãe. Maria Aparecida soube do projeto através de uma colega e resolveu procurar a equipe. Hoje Aziele já passou por quatro cirurgias. “Agora ela é uma criança normal”. A menina não sente mais vergonha de sair na rua e assim como a mãe, está satisfeita com o resultado das operações.

A telefonista Francisca da  Silva Lins, de 39 anos, também foi submetida a uma cirurgia para reduzir as mamas, que eram muito grandes e comprometiam a coluna. “Como sou portadora de deficiência, minha coluna já tem escoliose e as mamas muito grandes pioravam”. Ela lembra que foi atrás do projeto, não por uma questão de beleza, mas pela própria saúde. “Hoje já não tenho mais dor na coluna”, conta. Francisca deixou de usar o sutiã número 50 para usar o tamanho 46.

A estudante Camila Manuela, 14 anos, nasceu com a síndrome Treacher Collins, que
causa má formação na boca e nas pálpebras dos olhos. “Ela não tinha a pálpebra inferior”, explica a mãe da menina, Rosângela Ramos, de 38 anos. A adolescente não gostava de ir à escola porque os colegas faziam brincadeiras e a apelidavam. “Era muito chato, ficava todo mundo rindo”, conta Camila. Ela ainda precisa de várias cirurgias, mas já se sente bem melhor.

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