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SUS não oferece novas tecnologias

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Fernanda Zauli – repórter

Vida longa. O desejo de muitas pessoas pode estar mais perto do que se imagina. Alguns cientistas afirmam que as próximas gerações viverão até 150 anos e que os primeiros seres humanos a passar desta idade já nasceram e estão entre as crianças e os jovens de hoje. 150 anos pode parecer utopia, mas o fato é que os avanços da medicina têm cada vez mais um papel determinante no aumento da expectativa de vida das pessoas.  Exames modernos, e outros nem tanto, têm ajudado a contribuir para o diagnóstico precoce e cada vez mais seguro, e, conseqüentemente, para uma vida mais longa e com mais qualidade. De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2009, a esperança de vida ou expectativa de vida dos brasileiros é em média de 72,8 anos, essa média varia segundo o sexo, a média de vida das mulheres é de 76,7 anos e de homens é 69,1.
Uma das áreas que mais foram beneficiadas com o desenvolvimento tecnológico da área de saúde foi a neurologia
O vice-coordenador do Centro Avançado de Oncologia da Liga norte-riograndense contra o câncer, Arthur Villarim, explica que nos casos de doenças como o câncer o diagnóstico precoce é determinante para o sucesso do tratamento, mas nem sempre é necessária a realização de um exame de ponta. “As pessoas falam muito em tecnologia, virou uma espécie de moda, mas a gente não pode esquecer que existem métodos de diagnósticos já antigos que são muito bons. A mamografia para o câncer de mama, por exemplo, é excelente, é muito sensível, tem capacidade de identificar o tumor, precocemente. Se a gente conseguisse hoje no Brasil fazer com que toda mulher a partir dos 50 anos fizesse uma mamografia  anualmente era uma grande vitória. E isso não é uma tecnologia de ponta, é uma tecnologia da década de 50. Mas no nosso país ainda se nega esse direito a uma paciente. Tem uma larga parcela de mulheres que não faz esse exame”, diz.

O diretor do departamento de regulação, controle e avaliação do sistema da Secretaria Municipal de Saúde, Haroldo Melo, informou que a SMS autoriza a realização de 668 mamografia por semana. Ele explica que a secretaria não tem um número da demanda reprimida porque os dados não são atualizados no sistema de regulação.  “É evidente que a população que precisa deste exame é  infinitamente maior do que a atendida. Mas a falta de informação ainda faz com que muitos não procurem o exame”, diz.

Tecnologia

Se exames simples como uma mamografia ainda não estão ao alcance de todos o que pensar de uma tomografia  computadorizada com emissão de pósitrons, exame avançado – e caro – que permite estudar o metabolismo dos tecidos e células do corpo. “No caso do câncer ele permite ver o metabolismo de um tumor”, diz Villarim. A partir da injeção de glicose radioativa no corpo, o equipamento pode detectar se existem áreas do organismo onde o consumo de glicose é maior. “Os tumores costumam apresentar um metabolismo muito elevado e, dessa forma, concentram muita glicose. O Pet é capaz de detectar com altíssima precisão a localização desses tumores, geralmente de forma precoce em relação aos outros métodos de imagem”.

O médico nuclear diz ainda que a  tomografia  computadorizada com emissão de pósitrons é, até em nível mundial, o que existe de mais moderno em termos de diagnóstico de tumores. “O Rio Grande do Norte tem a tecnologia de ponta em termos de diagnóstico, mas o acesso, infelizmente, ainda não é para todos”.

O exame é realizado no estado há dois anos, mas somente a Liga tem o aparelho e o acesso através do SUS é limitado. “Infelizmente ele não consta na tabela nacional do SUS e por isso não pode ser autorizado pelo sistema”, explicou Villarim. O custo de um exame como este gira em torno de R$ 4 mil.

No entanto, a Liga conseguiu fazer um contrato diretamente com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) que disponibiliza 37 exames por mês.

Planos também não garantem acesso

O mesmo acontece com procedimentos cardiológicos. “Temos o que há de mais moderno, mas o acesso ainda não é 100%”, diz o cardiologista intervencionista Itamar Ribeiro. Dentre os procedimento mais modernos na cardiologia Itamar Ribeiro destaca o Implante Transcateter de Valva Aórtica, tratamento indicado para pacientes com estenose aórtica. Ele explica que com a idade, a válvula aórtica do coração pode calcificar comprometendo o fluxo de sangue no corpo. Esse é um problema comum em pessoas com idade avançada e um terço dos pacientes que precisam fazer a troca desta válvula não podem ser submetidos à cirurgia por causa da idade ou doenças que aumentam o risco de morte na operação. O cardiologista explica que antigamente a única saída para o paciente com estenose aórtica era a cirurgia que abre o tórax e oferece riscos. O Implante Transcateter de Valva Aórtica (TAVI) é um meio mais seguro, eficaz e menos invasivo para corrigir a obstrução em pacientes idosos com estenose aórtica já que permite a substituição da valvula aórtica sem a necessidade de abrir o tórax.

O procedimento custa, em média, R$ 100 mil e, apesar da sua importância para salvar vidas, também não é oferecido pelo SUS. “Aqui no Incor nós já fizemos um procedimento deste pelo SUS, mas foi por determinação judicial. Esse é um procedimento que nós temos dificuldades de autorização até de planos de saúde. Aliás, nós temos muita dificuldade em autorização de procedimentos por parte dos convênios, mesmo de procedimentos já sacramentados. Eu já tive 3 pacientes que morreram aguardando autorização para a realização do procedimento, hoje eu tenho quatro pacientes aguardando autorização dos convênios. É triste porque é uma doença que não tem remédio, não tem cura, o paciente morre mesmo se não trocar a válvula aórtica”, afirmou.

Diagnósticos são mais precisos

A reportagem também conversou com o neurologista Nilson Pinheiro que concordou com a afirmação dos outros especialistas no que diz respeito ao avanço da qualidade da imagem de exames. “Antigamente um estudo se resumia a 20, 30 imagens em uma tomografia computadorizada, por exemplo. Hoje nós temos 500 imagens em um tempo muito menor e com muito mais precisão. Isso nos possibilita a dar diagnósticos de muito mais precisão”, diz o neurologista. 

Dentre os métodos de diagnóstico que avançaram nos últimos anos contribuindo para diagnósticos precoces e, conseqüentemente, maior sucesso nos tratamentos, ele destacou a angiografia cerebral. “Antigamente o diagnóstico de doenças vasculares cerebrais, por  exemplo, aneurisma, má formação vascular, ou estenose intracraniana, carecia de uma angiografia cerebral, procedimento que comporta riscos, pequenos, mas existe risco, e tem a  necessidade de cateterismo e internamento do paciente para a realização do exame. Com o advento da angioressonância e da angiotomografia – que na verdade são feitos no mesmo aparelho, mas com softwares específicos – a gente não tem necessidade de invadir o paciente”, diz.

Ele explica que a doença aneurismática familiar é comum, e quando um ou dois familiares constituem essa doença, todos os outros parentes de primeiro grau têm que fazer a angiografia. “Se um fizer e disser que é um procedimento doloroso o outro já não quer fazer. Com a angiotomografia,  o paciente toma um contraste na veia e a  gente consegue definir. Não há invasão”. Este método, assim como a angioressonância, vem sendo cada vez mais usado pelos médicos por apresentar um diagnóstico mais rápido e preciso. Na parte terapêutica, ele diz que  um dos procedimentos mais modernos é o implante de stent diversor de fluxo para casos de aneurismas gigantes. O médico explica que o procedimento é implantar um stent, como se fosse um canudo, que faz um contorno da artéria. “O stent é colocado por dentro da artéria e reveste a artéria toda. O aneurisma fica por fora, não circula sangue por ele. Tudo feito através de um catéter”. O procedimento, que promove a reconstrução das artérias do cérebro, é minimamente invasivo. Somente a prótese, o stent, para esta cirurgia custa em torno de R$ 50 mil. “O SUS não cobre esse procedimento”, diz Nilson Pinheiro.

Vida longa depende de prevenção

Apesar de reconhecer que os avanços na qualidade de diagnósticos contribuem para  a qualidade de vida e aumentam a expectativa de vida das pessoas, o neurocirurgião Nilson Pinheiro revela que existe uma discussão do ponto de vista da saúde pública em torno dos procedimentos de alto custo. “São tecnologias caras e a gente sabe que para uma ou duas pessoas viverem um pouco mais a gente acaba privando outros tantos de assistência básica. É uma questão que passa pelo campo ético e financeiro e não pode ser renegado”, diz. O médico ressalta que esses procedimentos são muito importantes e que é necessário tê-los à mão, “mas tem que ser de uso muito racional porque o uso desenfreado desse tipo de tecnologia tem repercussão no sistema”.

Prevenção

“Não tem exame milagroso. As pessoas querem confiar demais no exame, demais na tecnologia, achando que vai ter uma varinha de condão que vai mudar as coisas. Não vai. A prevenção ainda é a melhor arma que se dispõe para que a pessoa viva mais e com qualidade de vida”. A opinião do cardiologista Itamar Ribeiro é unanimidade entre os especialistas consultados pela Tribuna do Norte.

“Quando as pessoas vêm conversar comigo  querem um milagre, mas nada substitui uma alimentação saudável, o controle do peso, a prática de exercícios físicos regularmente. Não adianta ter uma tecnologia de pontas disponível se você não cumprir essa primeira etapa que é a prevenção”, diz o cardiologista.

Pacientes  recorrem ao Ministério Público

A dificuldade em conseguir exames na rede pública muitas vezes obriga os usuários do Sistema Único de Saúde a recorrerem ao Ministério Público. De acordo com a Promotora de Justiça da Saúde, Elaine Cardoso, o MP Estadual recebe diversos pedidos de pacientes que têm a prescrição de exames e não estão conseguindo realizá-los pela via administrativa junto à secretaria pertinente. Mas, segundo ela, este número não chega a ser muito expressivo. “Nos meses de outubro 2012 a janeiro de 2013, por exemplo, foram cerca de 16 pacientes reclamando para conseguir a realização de algum exame”, informou.  Elaine Cardoso explicou que o primeiro passo adotado pelo atendimento é verificar se já há na prescrição médica o carimbo de que o paciente passou pelo setor de regulação próprio da Secretaria estadual de Saúde, no caso dos exames de alta complexidade, ou da Secretaria Municipal, no caso de média complexidade. Se não passou pelo setor referido, deverá voltar lá. De acordo com a promotoria de Saúde, de outubro 2012 a janeiro 2013, existem reclamações de exames variados como ressonância magnética, ultrassonografia (de diversos tipos), ureterolitotripsia e eletrocardiograma. “Neste sentido, vale ressaltar que o Ministério Público já ajuizou ações para melhorar a garantia de forma coletiva acerca de exames de alta complexidade, como ressonância e tomografia, e exames de média complexidade”.

De acordo com a promotora o perfil da pessoa que recorre ao Ministério Público em busca de exames é variável.

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