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Tabloide fecha após escândalo

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Londres (AE) – O império de mídia de Rupert Murdoch decidiu ontem, de forma inesperada, fechar o tabloide New of the World, após a repercussão negativa da informação de que o jornal teria grampeado o celular da adolescente Milly Dowler, que havia desaparecido  em 2002. O mesmo tipo de tática ilegal foi usado para expor ricos, famosos e integrantes da realeza.  A decisão surpreendeu os 200 funcionários do jornal semanal mais vendido da Grã-Bretanha e deu início a especulações de que a News Corp., pertencente a Rupert Murdoch, planeja reabrir o tabloide com um novo nome para evitar que o escândalo dos grampos telefônicos prejudiquem as negociações para a compra de um canal de televisão, empreendimento muito mais lucrativo. “Neste domingo será publicada a última edição do News of the World”, afirmou James Murdoch, filho do magnata da mídia, em memorando para os funcionários do jornal.
New of the World, fundado há 168 anos, é o jornal mais vendido na Grã-Bretanha, com 2,8 milhões de exemplares na edição dominical
As várias acusações de comportamento criminoso por parte de funcionários do jornal – dentre elas o suborno de policiais em troca de informações e a invasão das caixas de mensagens de voz de celebridades, políticos e familiares de vítimas de assassinato – lançaram uma nuvem negra sobre o projeto multibilionário da News Corp. de tomar o controle total do British Sky Broadcasting Group, operação muito mais valiosa do que os jornais britânicos de Murdoch.

Enfrentando crescente condenação pública e política e o abandono de anunciantes, Murdoch anunciou a paralisação das prensas do jornal de 168 anos, cujas manchetes sensacionalistas foram das afirmações de Sarah Ferguson de que poderia conseguir acesso a seu ex-marido, o príncipe Andrew, às inclinações sadomasoquistas do ex-diretor da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley.

James Murdoch disse que toda a renda da edição final, que não terá anúncios, será destinada a “boas causas”. O jornal tem perdido anunciantes desde o escândalo envolvendo a adolescente. Empresas como as automotivas Ford e Vauxhall, a cadeira de supermercados J. Sainsbury e a rede de farmácias Boots retiraram seus anúncios do jornal.

O News of the World, que vende cerca de 2,7 milhões de cópias por semana, está imerso em acusações de grampos de telefones celulares de estudantes desaparecidas a famílias em luto, celebridades, membros da realeza e políticos em sua busca por manchetes estrondosas.

A polícia diz que examina 4 mil nomes de pessoas que podem ter sido alvo das invasões de privacidade do jornal. A publicação reconheceu que teve acesso a mensagens de voz de telefones celulares de políticos, celebridades e auxiliares da realeza, mas durante anos afirmou que as transgressões foram confidenciadas a alguns de seus funcionários.

Um repórter e um investigador que trabalhavam para o jornal foram presos por grampos ilegais em 2007. Mas nos últimos dias as acusações se ampliaram, abrangendo telefones de crianças desaparecidas que foram encontradas mortas, parentes de vítimas dos ataques terroristas de 2005 em Londres e familiares de soldados mortos no Afeganistão.

James Murdoch disse que, se as acusações forem verdadeiras, “foram (atos) desumanos e não têm lugar em nossa empresa”. “Apesar do fato de que nunca poderemos compensar a angústia que isso causou, a coisa certa a fazer é que cada centavo da renda da circulação que recebermos no final de semana vá para organizações – muitas das quais amigas de longa data e parceiras – que melhorem a vida na Grã-Bretanha e sejam devotadas a tratar os outros com dignidade”, disse ele.

Prática do jornal tornou-se inaceitável

A longa saga sobre os grampos telefônicos explodiu na segunda-feira com a revelação de que o News of the World havia invadido a caixa de mensagens do telefone celular de Milly Dowler, uma adolescente de 13 anos sequestrada e assassinada em 2002. O pior é que o advogado da família disse que alguém do jornal apagou algumas das mensagens, o que deu falsas esperanças de que a menina estaria viva.

Mais tarde, os jornais disseram que o tabloide obteve endereços privados e números de telefones de parentes de pessoas mortas nos ataques terroristas ao sistema de transporte de Londres, em 7 de julho de 2005, bem como dados ligados a outras duas estudantes mortas e de familiares de soldados mortos no Afeganistão.

O que era um tática aceitável, embora ilegal, usada para conseguir informações sobre celebridades envolvidas com drogas, políticos galanteadores ou astros do esporte subitamente se tornou completamente inaceitável quando os casos envolveram crianças desaparecidas e famílias enlutadas.

Não há, até agora, evidências de que os telefones dessas famílias tenham sido grampeados ou que o jornal tenha feito qualquer coisa ilegal ao obter os números. Apesar disso, houve forte indignação.

O escândalo ficou desconfortavelmente próximo do primeiro-ministro David Cameron, que, como seus antecessores Gordon Brown e Tony Blair, cortejava a poderosa organização de Murdoch, cujo aval é considerado capaz de balançar resultados de eleições.

Cameron foi cordial com Brooks e até mesmo indicou um ex-editor do News of the World, Andy Coulson, para ser seu chefe de comunicação. Coulson renunciou ao cargo depois que o ex-editor para assuntos reais Clive Goodman e o investigador particular Glenn Mulcaire foram presos por invadir mensagens de voz em 2007, mas sempre afirmou que não sabia da ação ilegal. Em janeiro, as acusações de grampo se ampliaram e Coulson deixou o governo.

Nesta semana, Cameron condenou a cultura de grampos do jornal, pedindo a abertura de inquéritos públicos sobre o comportamento do News of the World e sofre o fracasso da investigação da polícia londrina em descobrir os grampos.

“Não estamos mais falando de políticos e celebridades. Estamos falando sobre vítimas de assassinato, vítimas de terrorismo que também tiveram seus telefones grampeados”, disse Cameron na quarta-feira perante a Câmara dos Comuns.

A Polícia Metropolitana também é investigada pela corregedoria por causa de acusações de que oficiais teriam recebido dinheiro do News of the World em troca de informações. A investigação policial sobre grampos telefônicos, engavetada após a prisão de Goodman e Mulcaire, foi reaberta no início do ano.

Britânicos se dividem sobre decisão

Graham Foulkes, cujo filho de 22 anos, David, foi uma das 52 pessoas mortas nos ataques ao sistema de transporte de Londres em 2005, suspeita que seu telefone tenha sido grampeado. Para ele, o fechamento do jornal foi “uma decisão cínica” de Murdoch. “A única linguagem que (Rupert) Murdoch fala é o dólar e isto deve tê-lo atingido de maneira bem dura”, disse Foulkes.

O ex-vice-primeiro-ministro John Prescott, uma das supostas vítimas do tabloide, disse que fechar o jornal não resolve os problemas da News International. “Cortar um braço não significa que o caso esteja resolvido”, disse ele. “Ainda sobram o corpo e a cabeça e a mesma cultura e é por isso que há uma investigação pública sobre o caso. Eu não posso aceitar no momento que, do topo da companhia, Murdoch – certamente Rebekah Brooks – não sabiam o que estava acontecendo.”

Mas Charlie Beckett, diretor do instituto de mídia POLIS da London School of Economics, disse que foi uma medida corajosa com o objetivo de resolver uma situação que havia ficado fora de controle. “Foi uma medida fantástica e corajosa para limpar tudo e encerrar o assunto”, disse Beckett.

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