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Tambores negros no carnaval de Natal

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Ramon Ribeiro
Repórter

Há cinco  anos, durante o carnaval de Natal uma rainha negra é coroada com festa em frente a Igreja do Rosário (Cidade Alta). A manifestação, que nasceu timidamente em meio a retomada do carnaval na cidade, é o ponto alto dos festejos do grupo Zambêracatu, primeira nação de maracatu da capital potiguar. Fundado em 2012, desde então o grupo difunde a cultura afrobrasileira na cidade por meio de uma manifestação artística secular. Em 2018, o Zambêracatu entra pela primeira vez na programação oficial do carnaval de Natal, que acontece entre os dias 8 e 14 de fevereiro.

Rainha em Cortejo do Nação: manifestação aproxima música e religiosidade afrobrasileira

Rainha em Cortejo do Nação: manifestação aproxima música e religiosidade afrobrasileira

O grupo tem como referência o Maracatu de Baque Virado, ou Maracatu Nação, original de Pernambuco, que se difere do Maracatu Rural dos caboclos de lança. No caso do Baque Virado, o grupo sai em cortejo com a corte real à frente da percussão. As raízes negras norte-rio-grandenses estão representadas por meio do ritmo Zambê, originário da região de Tibau do Sul.

“Somos um grupo carnavalesco com a perspectiva de fortalecer a música e a religiosidade negra em Natal. É um espaço aberto a todos que querem ter uma experiência percussiva. Nossa ideia é agregar, fazer o batuque aparecer mais no carnaval da cidade. E a aceitação tem sido ótima. A cada ano aparece mais pessoas para tocar com a gente”, diz a pedagoga Marília Negra Flor, uma das fundadoras do Zambêracatu.

Para este ano o grupo sairá com pelo menos 50 integrantes na ala percussiva. As datas de cortejo são a quinta e sexta-feira de abertura do carnaval. “Na quinta a gente faz o cortejo ‘Abrindo os Caminhos’. É uma cortejo que pede proteção para o carnaval, que a festa seja de paz, amor e alegria”, explica Marília. Na sexta é feita a tradicional Coroação da Rainha, que acontece em frente Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na Cidade Alta. A igreja é a segunda mais antigo de Natal e foi construída e frequentada por escravos no período colonial. Depois da coroação, o grupo sai em cortejo pelas ruas do bairro.

Nação Zambêracatu em cerimônia na igreja do Rosário: Reconhecimento das raízes negras do RN

Nação Zambêracatu em cerimônia na igreja do Rosário: Reconhecimento das raízes negras do RN

Segundo Marília, o Zambêracatu escolhe como rainha uma mulher de forte representatividade dentro da comunidade afrodescendente. A coroação é feita todo ano, embora a escolha de outra rainha só aconteça com o falecimento da rainha vigente. A atual rainha é dona Maria Lázaro Albuquerque, que vai para seu terceiro ano. Antes dela, a rainha era sua filha, a cartomante Iracema Albuquerque. “Iracema era bastante conhecida em Natal. Por um tempo foi a única cartomante na cidade. Fundou o maracatu junto com a gente. Tinha forte atuação em favor da cultura negra”, conta Marília. Iracema faleceu em 2015, aos 46 anos, por causa de um câncer de mama.

“O maracatu tem isso de representatividade negra, especialmente da mulher negra, matriarca, símbolo de resistência e ancestralidade”, ressalta Marília. Ela também conta que nunca teve problemas com o pessoal da Igreja. “Temos uma relação muito boa com o padre de lá. A missa de sétimo dia de Iracema foi na Igreja. Nós tocamos nossas músicas na missa. O padre reconhece o valor da manifestação. Ele sabe que o maracatu é o único grupo que mantém hoje a tradição dos negros com a Igreja”.

Dentro da programação oficial do Carnaval de Natal, o Zambêracatu vai fazer uma apresentação no palco do Pólo Petrópolis, no Largo do Atheneu. A batucada acontece no sábado de carnaval, a partir das 14h. Durante janeiro, o grupo tem feito ensaios abertos. O primeiro foi realizado no dia 7 e o segundo será no dia 21. A concentração acontece na Igreja do Rosário, às 15h, com saída em cortejo até a Pedra do Rosário, no Rio Potengi, onde a batucada é feita com vista para o por-do-sol. No Dia de Iemanjá (2 de fevereiro), outro cortejo tradicional, realizado em frente a estátua de Iemanjá, na Praia do Meio. “Esse cortejo já tem juntado bastante gente, já que Iemanjá é um símbolo forte do sincretismo religioso, bastante festejada”, comenta Marília.

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