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Tânia Zagury: “O professor é refém e herói, mas não é mágico”

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Conversar com a filósofa, professora, pesquisadora e psicóloga Tânia Zagury é ter uma aula do comportamento dos pais, uma análise da situação dos jovens e uma avaliação da realidade dos professores. Não por acaso, Tânia Zagury é hoje uma das grandes escritoras que escreve sobre o tema. Sua obra mais recente incita um antigo debate: o professor é refém da sociedade ou herói dessa mesma sociedade? “Ele é refém e herói”, responde Tânia Zagury. Aliás, a psicóloga fala com propriedade sobre os professores, não apenas por ter essa profissão, mas principalmente por ter feito uma pesquisa sobre esses profissionais. Entrevistou mais de 1.000 deles e chegou à conclusão: a problemática do ensino brasileiro não se restringe apenas à qualificação do professor. Pelo contrário, o docente também é atingido por problemas da educação como alta de infra-estrutura e baixa remuneração. Em tom de alerta, Tânia Zagury observa que a problemática também tem causa na sociedade e na família. E tem solução? A psicóloga está otimista, diz que a transformação desse triste quadro é viável, mas precisa partir do Governo Federal, numa grande ação para o país. Uma psicóloga de fala tranqüila, filósofa de conceitos claros, pesquisadora de trabalho detalhado e uma professora com conhecimento de mestre, essa é a nossa entrevistada do 3 por 4 de hoje.

• A senhora lançou o livro “O Professor Refém”. O que está tornando o professor refém?
O professor é refém de uma situação. Ser refém é estar aprisionado dentro de um contexto e que por si só o indivíduo não consegue sair da situação. Esse nome eu dei para o livro porque foi feito a partir de um estudo que fiz sobre a realidade dos professores da sala de aula de todo o país. Entrevistei 1.162 professores, de escolas públicas e privadas, que lecionavam de primeira a oitava séries e de primeira a terceira do ensino médio e de todas as matérias. Foi um estudo complexo e amplo. Pela extensão e trabalho, ele é fácil de ser generalizado para a realidade do Brasil. O objetivo do nosso trabalho é dar voz ao professor de sala de aula. No Brasil hoje há um consenso, até atestado pela avaliação do MEC, que mostra o Brasil com uma qualidade de ensino muito crítica, abaixo de tudo que se pode desejar.

• Até que ponto essa deficiência do ensino é responsabilidade do professor?
De maneira nenhuma é só do professor. Por isso acho que o livro tem esse aspecto importante e inédito de ouvir o professor em todo o Brasil para colocar suas dificuldades. Em geral há uma culpabilização do professor. A gente ouve, vê e lê entrevistas sempre dando a idéia de que o problema do ensino é o trabalho inadequado do professor. Não vou dizer que não tenha uma parte de verdade nisso. Mas, de todo modo, é muito importante que esse trabalho não se deve só ser relacionado à metodologia, mas a uma série de problemas na última década, que está na escola, na sociedade e até na família. Há uma conjugação de quatro elementos. Dentro da estrutura educacional, não só de falta de infra-estrutura, como de recursos mesmo para o professor exercitar o seu trabalho, há o salário do professor que é muito baixo e que exige ele (o professor) ter outros empregos. A realidade do nosso professor é ter dois empregos. Professor de quinta série tem até 400 alunos. Então, isso torna praticamente impossível usar de forma adequada as modernas tecnologias e metodologias que preconizam hoje até a própria avaliação qualitativa. Agora esses são problemas da estrutura educacional. Mas há problema na sociedade que também agrava a situação da educação.

• Que tipo de problema a sociedade faz surgir na educação?
Há na nossa sociedade um desprestígio do saber, da ciência. Se você olhar quem melhor é remunerado no Brasil vemos que não são cientistas, professores, filósofos, nenhuma profissão que esteja ligada a um conhecimento mais profundo de ciência ou saber específico. São pessoas que em geral tiveram necessidade de estudar muito pouco ou até nem estudaram, como jogador de futebol, modelo. A profissão que mais bem remunera hoje no Brasil não é a que tem existência em termos de estudo e ciência. Isso serve de modelo para nossas crianças e jovens.

• Isso seria o processo de “deseducação” feito por nossa sociedade?
Isso mesmo. Não quer dizer que estou criticando modelo e jogador de futebol. O que estou tentando mostrar é que na medida que essas pessoas são consideradas importantes, elas que são capa de revista, elas que aparecem em entrevista, aparecem na mídia, são celebridades, nossos jovens acabam influenciados por isso. Esse fator é um, mas não é o único. Além disso, na nossa sociedade nós temos um alto nível de desemprego. Esse também é mais um fator que concorre para fazer com que os alunos achem que não vale a pena estudar. Claro que eles estão enganados. Muitas vezes o argumento do aluno que abandona a escola é que para que estudar tanto se vemos motorista de táxi que é advogado. Eles acham que não vai adiantar estudar muito. Além disso, nós temos um índice de 12% de desemprego. É preciso observar também que a sociedade coloca na escola uma série de tarefas complexas. Por exemplo, no currículo atual, além de alfabetizar, ensinar a ler, escrever, faz parte do currículo trabalhos que se espera que o professor faça, como prevenção ao uso de droga. Não estou dizendo que o professor não deva fazer isso. O problema é que o professor está assoberbado de tarefas.

• Isso compromete o trabalho do professor?
O professor tem muito trabalho, estou falando isso porque não aumentou a carga horária. O professor dentro do mesmo tempo de trabalho tem que dar conta de muito mais objetivos. Acaba que ele não tem condição e termina não fazendo bem uma coisa nem outra.

• A senhora lançou o livro “O Professor Refém”. O que está tornando o professor refém?
O professor é refém de uma situação. Ser refém é estar aprisionado dentro de um contexto e que por si só o indivíduo não consegue sair da situação. Esse nome eu dei para o livro porque foi feito a partir de um estudo que fiz sobre a realidade dos professores da sala de aula de todo o país. Entrevistei 1.162 professores, de escolas públicas e privadas, que lecionavam de primeira a oitava séries e de primeira a terceira do ensino médio e de todas as matérias. Foi um estudo complexo e amplo. Pela extensão e trabalho, ele é fácil de ser generalizado para a realidade do Brasil. O objetivo do nosso trabalho é dar voz ao professor de sala de aula. No Brasil hoje há um consenso, até atestado pela avaliação do MEC, que mostra o Brasil com uma qualidade de ensino muito crítica, abaixo de tudo que se pode desejar.

• Até que ponto essa deficiência do ensino é responsabilidade do professor?
De maneira nenhuma é só do professor. Por isso acho que o livro tem esse aspecto importante e inédito de ouvir o professor em todo o Brasil para colocar suas dificuldades. Em geral há uma culpabilização do professor. A gente ouve, vê e lê entrevistas sempre dando a idéia de que o problema do ensino é o trabalho inadequado do professor. Não vou dizer que não tenha uma parte de verdade nisso. Mas, de todo modo, é muito importante que esse trabalho não se deve só ser relacionado à metodologia, mas a uma série de problemas na última década, que está na escola, na sociedade e até na família. Há uma conjugação de quatro elementos. Dentro da estrutura educacional, não só de falta de infra-estrutura, como de recursos mesmo para o professor exercitar o seu trabalho, há o salário do professor que é muito baixo e que exige ele (o professor) ter outros empregos. A realidade do nosso professor é ter dois empregos. Professor de quinta série tem até 400 alunos. Então, isso torna praticamente impossível usar de forma adequada as modernas tecnologias e metodologias que preconizam hoje até a própria avaliação qualitativa. Agora esses são problemas da estrutura educacional. Mas há problema na sociedade que também agrava a situação da educação.

• Que tipo de problema a sociedade faz surgir na educação?
Há na nossa sociedade um desprestígio do saber, da ciência. Se você olhar quem melhor é remunerado no Brasil vemos que não são cientistas, professores, filósofos, nenhuma profissão que esteja ligada a um conhecimento mais profundo de ciência ou saber específico. São pessoas que em geral tiveram necessidade de estudar muito pouco ou até nem estudaram, como jogador de futebol, modelo. A profissão que mais bem remunera hoje no Brasil não é a que tem existência em termos de estudo e ciência. Isso serve de modelo para nossas crianças e jovens.

• Isso seria o processo de “deseducação” feito por nossa sociedade?
Isso mesmo. Não quer dizer que estou criticando modelo e jogador de futebol. O que estou tentando mostrar é que na medida que essas pessoas são consideradas importantes, elas que são capa de revista, elas que aparecem em entrevista, aparecem na mídia, são celebridades, nossos jovens acabam influenciados por isso. Esse fator é um, mas não é o único. Além disso, na nossa sociedade nós temos um alto nível de desemprego. Esse também é mais um fator que concorre para fazer com que os alunos achem que não vale a pena estudar. Claro que eles estão enganados. Muitas vezes o argumento do aluno que abandona a escola é que para que estudar tanto se vemos motorista de táxi que é advogado. Eles acham que não vai adiantar estudar muito. Além disso, nós temos um índice de 12% de desemprego. É preciso observar também que a sociedade coloca na escola uma série de tarefas complexas. Por exemplo, no currículo atual, além de alfabetizar, ensinar a ler, escrever, faz parte do currículo trabalhos que se espera que o professor faça, como prevenção ao uso de droga. Não estou dizendo que o professor não deva fazer isso. O problema é que o professor está assoberbado de tarefas.

• Isso compromete o trabalho do professor?
O professor tem muito trabalho, estou falando isso porque não aumentou a carga horária. O professor dentro do mesmo tempo de trabalho tem que dar conta de muito mais objetivos. Acaba que ele não tem condição e termina não fazendo bem uma coisa nem outra.

• Diante desse quadro, líderes que são jogadores, professores que ganham mal e são assoberbados de trabalho, qual a solução? A senhora acredita numa transformação viável?
Para mim ela é viável sim. Temos o exemplo de vários outros países que deram um salto de qualidade, quando existe um país voltado para isso. Não o caso de que o professor resolva. Tem que ser um projeto nacional, partir do Governo Federal, começando por reconhecer que a educação básica é fundamental, ela é a estrutura para todos os demais ensinos. O grande problema é que no Brasil se investe muito mais no nível superior do que no ensino básico. Os países que tiveram sucesso foram os que investiram mais na educação básica e na qualificação do professor. 

• Até que ponto a questão salarial do professor é responsável pela deficiência do ensino?
Ela tem relação direta por vários motivos. Primeiro porque o professor que ganha mal tem que ter vários empregos para poder pagar suas contas. E não sobra dinheiro para nada. Por semana, às vezes, ele dá mais de 40 aulas. Assim, ele não consegue fazer aulas elaboradas, interessantes, criativas. Como preparar 40 aulas por semana?

• O professor é herói ou refém?
Na verdade ele é herói ainda. O fato dele ser refém não o impede de ser herói. Pelo contrário, quanto mais difícil está a situação para o professor, mais herói ele é. Agora, ele não é mágico. 

• Não é contraditório: o pai dar liberdade para o filho e ao mesmo tempo cobrar da escola a educação que ele deixou de passar?
Comecei escrever para pais  justamente porque percebi que as coisas estavam se tornando muito complicadas na família e a curto prazo ou a médio prazo traria conseqüências graves para a sociedade como um todo. A sociedade desprestigia o saber e estimula o valor material. O que importa hoje é ter um bom emprego, não importa ser honesto. A visão imediatista também é prejudicial. Tudo é para hoje, as pessoas não estão habituadas para em alguns anos ter uma melhoria, as pessoas querem tudo já. A família acha que ser pai moderno é deixar o filho fazer o que quer. Ele vai dando tudo o que o filho quer. Os pais reclamam da escola e não dos filhos. Para mim ela é viável sim. Temos o exemplo de vários outros países que deram um salto de qualidade, quando existe um país voltado para isso. Não o caso de que o professor resolva. Tem que ser um projeto nacional, partir do Governo Federal, começando por reconhecer que a educação básica é fundamental, ela é a estrutura para todos os demais ensinos. O grande problema é que no Brasil se investe muito mais no nível superior do que no ensino básico. Os países que tiveram sucesso foram os que investiram mais na educação básica e na qualificação do professor. 

• Até que ponto a questão salarial do professor é responsável pela deficiência do ensino?
Ela tem relação direta por vários motivos. Primeiro porque o professor que ganha mal tem que ter vários empregos para poder pagar suas contas. E não sobra dinheiro para nada. Por semana, às vezes, ele dá mais de 40 aulas. Assim, ele não consegue fazer aulas elaboradas, interessantes, criativas. Como preparar 40 aulas por semana?

• O professor é herói ou refém?
Na verdade ele é herói ainda. O fato dele ser refém não o impede de ser herói. Pelo contrário, quanto mais difícil está a situação para o professor, mais herói ele é. Agora, ele não é mágico. 

• Não é contraditório: o pai dar liberdade para o filho e ao mesmo tempo cobrar da escola a educação que ele deixou de passar?
Comecei escrever para pais  justamente porque percebi que as coisas estavam se tornando muito complicadas na família e a curto prazo ou a médio prazo traria conseqüências graves para a sociedade como um todo. A sociedade desprestigia o saber e estimula o valor material. O que importa hoje é ter um bom emprego, não importa ser honesto. A visão imediatista também é prejudicial. Tudo é para hoje, as pessoas não estão habituadas para em alguns anos ter uma melhoria, as pessoas querem tudo já. A família acha que ser pai moderno é deixar o filho fazer o que quer. Ele vai dando tudo o que o filho quer. Os pais reclamam da escola e não dos filhos.

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