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“Têm muitas virnas por aí”

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Craque quando jogava, a potiguar Virna mostra que também bate um bolão agora que “pendurou o tênis”. Em Natal, onde participou da Casa Cor, a convite das arquitetas Poliana Pinheiro e Fernanda Bezerra, a ex-jogadora da Seleção Brasileira revelou que pretende investir na cidade num projeto para formação de novos talentos.
Virna, ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei: Quero montar um projeto para descobrir novos talentos aqui em Natal
Você está bem resolvida com a aposentadoria do voleibol?

Estou super feliz com minha nova vida. É óbvio que quando você pensa em parar de jogar dá aquele friozinho na barriga, porque o esporte faz parte daquela adrenalina da nossa vida. Quando eu engravidei do Pedro, meu filho de dois anos, eu estava com 39 anos e falei: ‘poxa, acho que agora é a hora de eu parar’. Então, foi muito natural. Logo em seguida veio o convite da Record para virar comentarista. Além de ser comentarista de vôlei eu empresario algumas jogadoras de vôlei. Tenho um projeto social com umas 50 crianças em Copacabana. E a Juliana, que é a nossa maior jogadora de vôlei de praia hoje também me convidou para eu administrar a carreira dela. Ou seja, minha vida hoje é até mais corrida do que quando eu jogava, porque eu tenho um projeto com o Banco do Brasil que se chama ‘Embaixadores dos Esportes’, do qual fazem partes todos os atletas consagrados que tem medalhas olímpicas. E além disso, eu tenho feito palestras.

Então você saiu do vôlei, mas o vôlei não saiu de você?

Jamais. O vôlei é a minha paixão. Eu falo que o voleibol me ensinou muitos valores, de vitórias, de futuro, de conhecer novas culturas, novos mundos, fazer minhas amigas, aprender a perder, aprender a ganhar. Enfim, recebi muitos ensinamentos do voleibol para a minha vida. Então não tem como o voleibol sair da minha vida.

O que foi mais difícil: estrear como comentarista ou na Seleção Brasileira?

Ah, foi como comentarista, porque do outro lado é mais difícil. Você não está na ação. Você deixa a emoção tomar conta de você, porque viveu tudo aquilo. Nas primeiras vezes foi muito difícil. Mas falo que sou pé-quente. As duas que fui como comentarista, em Pequim e em Londres fomos campeões olímpicos. Então sou bicampeã olímpica como comentarista. O ouro que não consegui jogando, consegui como comentarista.

Quase ninguém acreditava no Brasil. Você acreditava?

Eu acreditava porque, como estou sempre em contato com as meninas, nos bastidores, ligava para o Zé Roberto. Porque você comentar não é só você falar o que você ver. Tem que saber os bastidores, tem que saber as estratégias táticas, algo mais. Então eu tinha essa relação muito boa com as meninas e quando as vi em dificuldade, sabia que elas não estavam com confiança na levantadora, elas mesmo conversaram com o Zé Roberto e pediram uma oportunidade para a Dani Lins. Então quando a Dani substituiu a Fernanda eu senti que o grupo criou confiança. Aquele jogo da Rússia a medalha de ouro foi ganha naquele jogo. A Sheila e a Jackeline foram inspiradoras para dar esse ouro ao Brasil.

Vocês tinham uma geração de talento e um belo treinador (Bernardinho), mas ficaram no bronze. O que mudou: os adversários ou o voleibol do Brasil?

Na minha geração Cuba era imbatível. Para ganhar de Cubas tinham que estar as 12 jogadoras perfeitas. Aquela geração de Cuba, graças a Deus não continuou. Existiu uma renovação de jogadoras mundialmente e o Brasil conseguiu manter os seus valores. Hoje a gente tem um grupo muito forte e os outros países não conseguiram dar a sequência. Hoje os outros vem ao Brasil aprender sobre o nosso vôlei. O Bernardinho e o Zé Roberto são referências mundiais. Confederações de outros esportes pedem orientações para eles, porque eles conseguiram fazer do Brasil o país do voleibol. Agora o Brasil não é só o país do futebol. Mas é importante salientar que só se profissionalizou devido ao Banco do Brasil que está há quase 20 anos apoiando o voleibol brasileiro que hoje tem uma estrutura de primeiro mundo.

O que faltou para a Seleção masculina?

Acho que o vôlei masculino é mais equilibrado. Você não vê como no feminino duas grandes equipes como Brasil e EUA. No masculino a gente vê quatro até cinco equipes com chances. E o Brasil entrou na Olimpíada com três grandes desfalques que eram o Giba, o Dante e o Murilo. O Brasil não jogou com sua força máxima e se superou a cada jogo. Eu particularmente não acreditava que o Brasil fosse para uma final olímpica. E naquela final, o mérito foi para o grande treinador da Rússia, porque ele trocou dois jogadores de posição e deu certo.

As Olimpíadas do Rio vão ajudar nesse desenvolvimento?

Com certeza. Vai apaixonar os brasileiros. É muito fácil ouvir críticas. O brasileiro é muito crítico, mas os brasileiros não tem noção da transformação que a gente vai viver no nosso país com a vinda dessa Olimpíada.

Em 2016 o Brasil se torna uma potência olímpica?

Acho que o trabalho devia ter começado há muitos anos. Uma coisa que lamento no nosso país é a falta de incentivo da prática de esportes nas escolas. Quando você vai para os EUA, que é o País que tem o maior número de medalhas, não é atoa. A criança já nasce com o esporte na veia. No nosso país agora que está começando essa cultura. É óbvio que em 2016 podemos quebrar nosso recorde de medalhas, mas assim não se pode esperar que a gente vá conseguir ganhar dessas grandes equipes que há anos já vem investindo no esporte. Acho que a conscientização nossa tem que ser que as escolas tem que ter ginásios e profissionais de educação física possam fomentar isso como uma forma de educação. Quantos talentos a gente tem adormecidos no Rio Grande do Norte. Quantas Virnas não poderiam aparecer mais? Acho que é essa a minha preocupação. De poder descobrir e fomentar o esporte em casa Estado. Fazer um trabalho. Poxa, o que a gente tem no Nordeste? Velocistas, boxeadores, temos que investir cada vez mais no que temos de talento. No Sul do País as mulheres altas vão para o vôlei pois precisamos delas. Só recentemente conseguimos uma lei de incentivo para apoiar o esporte. É um trabalho que a gente tem que ter muita calma para que possa acontecer naturalmente.

O fato de não surgirem novas Virnas preocupa?

Para mim sim. Por isso quero montar um projeto para descobrir novos talentos aqui em Natal. Sempre tive essa vontade, mas quando você joga não tem tempo. Pode ter muitas adormecidas como eu disse, mas por termos que enfrentar algumas condições precárias no nosso Estado temos dificuldades. Então eu estou muito afim de entrar de cabeça num projeto desse, mas as pessoas também tem que ajudar. Tem que existir uma responsabilidade muito grande, porque trabalhar com o jovem, com o esporte de alto nível tem que existir uma parceria, então eu espero que a gente possa ter boas administrações políticas para que eu possa ter esse apoio e fazer um trabalho legal no meu Estado. Quero fazer esse projeto pelo meu instituto através de Lei de incentivo, mas com a ajuda do Estado e Município é muito mais fácil com doações de ginásio, profissionais de educação física que estejam envolvidos e gostem do voleibol. Aí acho que as coisas funcionam melhor.

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