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“Temos que deter as forças do contra”

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Andrielle Mendes – Repórter
COLABOROU RENATA MOURA

O presidente da Riachuelo e vice-presidente do grupo Guararapes, Flávio Rocha, fez duras críticas ao ambiente de negócios no Rio Grande do Norte – “o mais difícil entre os estados em que o grupo atua”, segundo afirmou. “É dura a tarefa de gerar emprego e de empreender no estado. A dificuldade é grande, a troco de nada”, disse ele, sugerindo a criação de uma frente para “deter” o que chamou de “forças do contra”. O empresário se referia sobretudo à atuação de órgãos de fiscalização, como os ambientais, que optou por não nomear. “Essas forças do contra podem paralisar governos e prefeituras. Meia dúzia de pessoas estão atando as mãos do Estado”, acrescentou. As declarações foram dadas, em Natal, durante o lançamento do projeto Pró-sertão – que pretende interiorizar a indústria através da abertura de pequenas unidades de confecções que prestarão serviços de costura e fornecerão peças para grandes empresas, a exemplo da Guararapes, da Hering e da RM Nor. O projeto ganhou impulso a partir dos planos de expansão da Riachuelo e da necessidade da rede de terceirizar parte da produção. Confira a entrevista:
Flávio Rocha: Parece que há um torneio de maldades  desses tecnocratas com suas canetas na mão, que são armas poderosas, tentando extrapolar a lei que já é extremante rigorosa
Por que participar do projeto Pró-Sertão?

O Pró-Sertão é um projeto estratégico. Na cadeia têxtil, entre 80 a 90% dos empregos são gerados na atividade da costura, que emprega mão de obra de forma intensiva. E esses 80, 90% dos empregos são gerados com apenas 5% do investimento. É na costura onde há a menor aplicação de investimento e o maior retorno em empregos. E é isso que pode ser descentralizado. O que faz sentido é que as etapas da produção têxtil, que são intensivas em capital, como a fiação, tecelagem, tinturaria, estamparia, o acabamento, fiquem em grandes centrais, mas a costura pode e deve ser descentralizada em unidades mais ágeis com 50, 100 funcionários, no máximo, beneficiando uma quantidade maior de municípios. É uma coisa que faz todo sentido.

E do ponto de vista da empresa, porque terceirizar?

A Riachuelo está vivendo o maior processo de expansão de sua história. Nós vamos crescer 70 anos em quatro.  Nesses próximos quatro anos serão inauguradas mais lojas do que inauguramos em 70 anos de história da empresa. Terceirizar a costura torna o processo mais ágil.

Há uma mobilização para que as peças de que a Riachuelo necessita para sustentar seu crescimento sejam produzidas aqui. Mas e se não houvesse mobilização nenhuma? As peças de roupas viriam de onde? Da Ásia? De outros estados?

Somos do RN. A gente só leva para fora o que não consegue produzir no estado. A nossa unidade no RN já representou 90% de toda a confecção que a Riachuelo vendia e pode voltar a ter uma fatia muito relevante.

Hoje o estado responde por quanto?

Hoje, infelizmente, está em torno de 35% a 40%.

O Estado pode voltar a responder pelos 90%, com as facções?

Poder pode. Mas estamos assistindo um processo de perda de competitividade por motivos absolutamente fúteis, desnecessários. Apesar do empenho do governo, há forças que eu chamo de forças do contra, que atuam em todos os setores. Vi recentemente uma matéria dizendo que um órgão ambiental impediu a vinda de 50 mil empregos para o estado, um investimento de R$ 11 bilhões. Eu acho que a sociedade, o empresariado, o governo do estado, os sindicatos tem que se mobilizar e dar um basta nessas forças que estão imobilizando o Rio Grande do Norte e matando as vocações do estado.

Quem são as ‘forças do contra’?

São pessoas que  nunca realizaram nada e não perdoam quem realiza. São excessos regulatórios. A legislação em todos os aspectos no Brasil já é extremamente rigorosa. A legislação trabalhista, ambiental, fiscal e tantas outras. Aqui no RN existe uma triste característica. Parece que há um torneio de maldades  desses tecnocratas com suas canetas na mão, que são armas poderosas, tentando extrapolar a lei que já é extremante rigorosa. Um exemplo disso é a atividade turística. O RN é o único estado do Nordeste que não tem um resort. O órgão regulador federal impediu que chegassem ao Rio Grande do Norte R$ 11 bilhões em investimento. Colocou uma pedra em cima de uma vocação. Não existe razão para um tecnocrata de terceiro, quarto escalão, ter tanto poder a ponto de privar o RN de gerar empregos principalmente num momento de crise.

Você se refere aos órgãos fiscalizadores?

Exatamente. Há um excesso por parte dos órgãos fiscalizadores. Eu vi o governador Jacques Wagner da Bahia num encontro recente fazer um desabafo dizendo que existem 11 órgãos no Brasil capazes de embargar uma obra. Talvez o RN seja o estado onde exista o maior excesso, o maior rigor fiscalizatório. É dura a tarefa de gerar emprego e de empreender no estado. A dificuldade é grande, a troco de nada. Isso não melhora a realidade. O que melhora a realidade é demanda por mão de obra. E não a caneta do regulador.

Por que você acredita que agora será diferente?

Eu vi todas as forças políticas aqui (no lançamento do projeto). Não é possível que o projeto não avance no ritmo esperado. Eu acho que faltava isso. Faltava convocar essas forças. Talvez as pessoas que estavam criando tantas dificuldades não estivessem entendendo o mal que estão fazendo.

E agora vão passar a entender?

As pessoas que aqui estiveram vão ter condições de explicar que esse grupo não está fazendo o bem, que está fazendo o mal.

Em entrevista concedida à TRIBUNA DO NORTE, há um ano, você nos disse que tinha suspendido os investimentos na unidade industrial do RN. A decisão está mantida ou há novos investimento previstos para a fábrica?

A fábrica de Natal já teve 18 mil funcionários em 2010. É com muita tristeza que eu digo que este número está caindo. Hoje estamos com 10 mil. Está difícil produzir. Está ficando mais caro. A unidade perdeu competitividade diante de produtos de outros fornecedores e até dos produtos importados. A única coisa que pode reverter essa situação é se a unidade recobrar sua competitividade, que está ameaçada.

Por enquanto nenhum investimento previsto para ela, então?

Não, por enquanto só investimentos rotineiros em manutenção. A gente viu a governadora extremamente empenhada em abrir o estado para novos investimentos, mas infelizmente decisões que fogem ao Executivo acabam fazendo um dano terrível a vários setores da economia.

Mas o grupo continua investindo em fábricas em outros estados nordestinos, correto?

O grupo acaba de inaugurar uma unidade em Fortaleza. Eu não recordo muito bem quanto investimos, mas foi algo em torno de R$ 25 milhões, quase tudo em maquinário para costura. 

O grupo não pretende investir na fábrica potiguar, mas há investimentos previstos em novas lojas ou na expansão do shopping (Midway Mall), no Estado?

A empresa está investindo este ano R$ 500 milhões. Serão R$ 2 bilhões em quatro anos. Esse investimento vai puxar  a ponta do processo que é a loja. Noventa por cento desse investimento será na expansão da rede de lojas. Atrás dessas lojas vem todo o investimento industrial.

O grupo abrirá novas lojas no RN?

Os nossos projetos estão sempre vinculados a projetos de shopping centers. Tem o projeto de expansão de um shopping aqui em Natal e um outro em Parnamirim com conclusão prevista para 2015. Estamos atentos a novas oportunidades nos shoppings que estão surgindo.

A princípio então seriam duas novas lojas até 2015?

A princípio, duas lojas.

O investimento será de quanto?

Entre R$ 18 milhões e R$ 20 milhões nas duas lojas.

Possibilidades de ir para o interior, onde passará a contar com a produção das facções?

Uma loja da Riachuelo típica exige uma cidade de pelo menos 200 mil, 300 mil habitantes. Mas estamos desenvolvendo e aprimorando formatos mais compactos que possam conviver em lojas menores. É preciso deixar claro que a nossa estratégia de expansão hoje está muito mais vinculada a existência de um shopping center. Hoje, 90%  de nossas inaugurações são em shopping centers. E é atrás deles que a gente vai. 

O Midway Mall passou por uma expansão no ano passado, com a chegada de operações como Casas Bahia e Le Biscuit. Há planos de uma nova expansão a curto prazo?

Temos a inauguração da Zara e de outra que vai ser anunciada para o fim do ano, que não posso divulgar ainda. A grande missão que tenho e que pode ser muito útil ao RN é a consolidação do crescimento da rede Riachuelo, como maior empresa de moda do Brasil. O que é mais importante da vida da pessoa é quando ela descobre o motivo pela qual ela veio ao mundo. Eu aprendi isso há dez anos lá na Galícia, Espanha, quando vi aquela região tão similar ao Nordeste do Brasil sendo transformada pelo fato de ter 6 mil lojas do grupo Inditex – da Zara – despejando pedidos. Eu sonhei com isso e tenho certeza que esse o Pró-Sertão nos coloca mais próximos da realização desse sonho, de transformar o RN através de mil lojas da Riachuelo despejando os pedidos aqui. 

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