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“Temos uma Federação completamente amadora”

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Paulo Eduardo Pinheiro As denúncias de corrupção na Federal Norte-rio-grandese de Futebol (FNF) ainda não se encerraram. O interventor, advogado Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira, acredita que novos fatos surgirão com a conclusão do trabalho de auditoria, prevista para ser divulgada este mês. Após cem dias à frente da Federação, o advogado faz um balanço positivo. “Esse é um período que vai ser um marco inicial para uma nova etapa. Foi necessária a decretação da intervenção para que pudéssemos chegar a novas regras e o esporte ser passado a limpo”, destaca. Até o final de dezembro, Paulo Eduardo deverá estar deixando a Federação. Para o próximo presidente ele aponta dois objetivos importantes a serem desenvolvidos na FNF: informatização e a elaboração de um calendário de competições. “Hoje temos uma federação completamente amadora”. Mas a participação de Paulo Eduardo no esporte não deverá encerrar com o fim da intervenção. Torcedor assumido do América, ele sonha em um dia presidir o seu clube. Nesta entrevista a TRIBUNA DO NORTE, o advogado critica as pessoas que assumem cargos no esporte como “trampolim” de uma carreira política. Falando da intervenção, da competência do conselho fiscal e dos trabalhos necessários a FNF, Paulo Eduardo concedeu a seguinte entrevista:

• Que avaliação o senhor faz destes 100 dias como interventor da FNF?
Uma avaliação extremamente positiva porque trouxe para Federação e para o esporte a transparência é um período que vai ter um marco inicial para uma nova etapa. Foi necessária a decretação da intervenção para que pudéssemos chegar a novas regras e o esporte ser passado a limpo.

• O senhor se surpreendeu com as corrupções descobertas dentro da Federação?
Fiquei surpreso. A gente já tinha uma idéia do que teríamos que apuar. Existiam indícios que sugeria irregularidades. A partir dos fatos relatados na inicial é que passamos a adotar uma linha de investigação. E a partir daí nós passamos a desenvolver internamente e, externamente, com a colaboração do Ministério Público, constatamos que as coisas eram bem mais graves do que poderíamos imaginar.

• A auditoria que está sendo realizada ainda poderá trazer novos fatos de corrupção? O senhor acredita nisso?
Com a auditoria outras situações estão sendo levantadas. O que existia eram suspeitas. A partir disso a investigação tomou o seu rumo. E a auditoria também começou seu trabalho para análise dos boletins financeiros dos jogos (borderôs); é através deles que vem a receita da federação. Vamos dar um exemplo. Existia suspeita que o jogo Baraúnas e Vasco da Gama estava superfaturado. Todos comentavam, falavam, mas a administração anterior não fez investigação. Fizemos comparação com as despesas daqueles jogos e as despesas de agora e estas não chegam perto daquelas do jogo de Baraúnas e Vasco. A carga de ingresso foi no valor de R$ 9 mil. Até agora não tivemos nenhuma despesa semelhante a essa. A partir de algumas situações fomos investigar. Investigamos não só esse borderô, mas outros.

• De quem era a competência para fiscalizar os gastos da gestão passada?
Temos visto que o primeiro ponto a ser levantado é: a Federação deve satisfação dos seus atos a terceiros. Na hora que há uma legislação federal, que é o Estatuto do Torcedor, isso não pode ser tratado dentro de uma sala fechada. Tem que ter critérios objetivos, transparência. A administração deve ser fiscalizada pelo torcedor, pela sociedade, pelo Ministério Público. Isso não acontecia. A administração praticava seus atos sem obedecer regras básicas da administração. Com a intervenção está se passando uma outra leitura.

• A responsabilidade por fiscalizar não seria do Conselho Fiscal?
A FNF tem um Conselho Fiscal e ele (o conselho) deveria atuar, há uma responsabilidade. A responsabilidade não é só da direção, mas do Conselho Fiscal, que se omitiu. E ele (o conselho) deve pagar por isso. O conselho fiscaliza e tem responsabilidade.

• Os conselheiros fiscais da gestão anterior estão passíveis de serem processados?
Eu não posso adiantar se são passíveis de punição pela ação. Mas se houver detecção de irregularidade, há omissão. As vezes você paga não só pela ação, mas pela omissão.

• O que torna a FNF tão atrativa a ponto de uma disputa acirrada pelo cargo de presidente?
A Federação é viável. Grande parte das pessoas que passam por ali (pela Federação) vão por amor. Mas acho que não é só isso. Há um propósito que leva a disputar um cargo deste. Tem o lado positivo de dar divulgação, colocar na mídia. O esporte mexe com a torcida, com a imprensa. Tem pessoas que usam a Federação como trampolim para disputar outra situação. E há outros que vão porque querem dar a contribuição para o esporte. Faço até uma proposta para que o Estatuto seja modificado e acabe com a reeleição. Toda reeleição é nociva.

• Os dirigentes devem receber remuneração ou não?
Primeiro acho que é necessário reduzir o número de diretores. Hoje são nove. Dirigente tem que ser quatro, distribuídas as atribuições. Apenas o secretário geral teria uma remuneração. Ele seria um diretor técnico, qualificado e remunerado. Esse cargo seria remunerado para evitar desvio de recursos para vantagens pessoais.

• Como a FNF pode ser viável financeiramente?
Com a profissionalização. Na hora que você tiver uma administração profissionalizada o investidor vai ver que é viável. Temos exemplos de federação e campeonatos organizados. O que precisa é profissionalizar e dar transparência. Na hora que tivermos isso vamos ter competições qualificadas e estádios lotados. Se a competição é interessante, as pessoas investem. Precisamos ter campeonatos estaduais sérios e livres da interferência de terceiros.

• O que representa o esporte amador para Federação?
A base de tudo. Há uma idéia que lançamos para uma copa semelhante a que a Cabugi fez para o Futsal. Seria uma copa envolvendo todo Estado do Rio Grande do Norte para revelar o atleta amador. Na hora que temos os clubes amadores fortalecidos, com certeza as pessoas terão atletas para usar na divisão profissional e negociar.

• Se o senhor assumisse como presidente da FNF, qual seria seu primeiro projeto?
O primeiro projeto para qualquer pessoa que assuma a Federação é o projeto administrativo e o de futebol. Para o futebol é organizar o calendário e um regulamento para as competições, para que os clubes tenham conhecimento das regras e o calendário de competição. Evidente que a FNF deveria estipular para cada clube participar no mínimo de duas competições. Com relação a parte administrativa seria informatizar. Infelizmente a gente não tem isso. Temos pessoas na Federação que precisam de capacitação profissional. Eu tenho uma Federação hoje completamente amadora, onde a FNF não tem mecanismo de captação de recursos para CBF. A única renda que contribui para o pagamento da Federação são os jogos. Imagine se tivéssemos somente uma competição que durasse dois ou três meses? Como a FNF sobreviveria? Não vejo outra forma que não seja organizar administrativamente a Federação e passar a cobrar taxas pelos serviços. Com isso estamos prestando um serviço e o pagamento dele seria em favor da Federação. Evidente que a FNF tem competições amadoras que ela banca. Como pode bancar se não tem recursos? A nível nacional deveria ser que os recursos da CBF sejam destinados a federações. Não para atender favores pessoais, mas algo institucional. Desde que foi decretada a intervenção a CBF não faz um repasse para FNF.

• Como você analisa a interferência da política no esporte? A FNF é trampolim para carreiras políticas.
Eu acho negativo. Colocar que a Federação é usada como trampolim quer dizer que os objetivos das pessoas não são o esporte. A maioria dos dirigentes não tem objetivos relacionados aos clubes. O clube dá o destaque a pessoa e ela usa o clube como trampolim para um objetivo maior. O clube permanece sem evolução, mas as pessoas evoluem. Deveria ser o contrário: o clube evoluir.

• Você é torcedor do América e pense em presidir?
Sou torcedor do América declarado. Desde que assumi a Federação fiz questão de declarar que era torcedor do América e do Flamengo. Eu tenho sonho, pela minha atividade profissional e por sempre ter praticado esporte, de um dia ainda dirigir o América. Mas isso não é tão próximo. Penso (em ser presidente do América) porque eu gosto de desafios. Esse da Federação é mais um desafio.

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