Tádzio França – repórter
Discussões sobre cangaço e cordel, o centenário de Luiz Gonzaga, a vida de Getúlio Vargas, e a relação entre filosofia e literatura, entre outras, irão movimentar a 8ª edição da Feira do Livro de Mossoró, de 08 a 12 de agosto, agora em novo espaço. O evento saiu da Estação Eliseu Ventania – devido às chuvas – e foi para o pavilhão climatizado da Expocenter, melhor preparado para receber a extensa programação da feira. Durante cinco dias, os visitantes terão oficinas temáticas, palestras, bate-papos, lançamentos de livros e quadrinhos, apresentações teatrais e musicais, exposições e comércio de livro, quadrinhos e cordéis. Apesar de a Feira do Livro ter sido incluída este ano na grade do Agosto da Alegria, sua agenda de atrações é montada de forma independente, conforme as sugestões e ideias de parceiros do evento, gente da educação e do meio cultural da cidade, segundo informou um dos realizadores, o jornalista Osnir Damásio. A programação da Feira de Mossoró se dividirá entre quatro ambientes diferentes: os miniauditórios, reservado para oficinas, palestras e discussões; o Pavilhão de Livros, espaço onde as publicações serão expostas para venda; Espaço do Autor, destinado ao encontro com os escritores, que lançarão e autografarão suas obras, e o Espaço Literário, dedicado às palestras.
As manhãs e tardes serão ocupadas pelas apresentações dos muitos grupos escolares que compõem o evento, entre números de música e teatro. Neste ano, a prefeitura de Mossoró dispôs R$160 mil em cheque-livro, garantindo que as escolas poderão comprar novidades para seus acervos e alunos.
O dia de abertura do evento terá a presença do cantor e compositor Humberto Gessinger, às 20h, apresentando “Nas entrelinhas do horizonte”, seu quarto livro. Trata-se da incursão do vocalista do Engenheiros do Hawaii no terreno da crônica, a partir de seus posts num blog pessoal. O título, por sinal, foi tirado da letra de “Infinita Hinghway”, um dos maiores hits da banda gaúcha. Gessinger estará acompanhado de Robson Régis. Na quinta-feira haverá debate com João Batista Machado.
Na sexta-feira, às 19h, a convidada Márcia Tiburi discutirá a relação entre filosofia e literatura. Ela, que é filósofa e escritora, tem uma extensa bibliografia que inclui artigos, ensaios e romances, além de ser bastante requisitada para palestras e eventos literários em geral. Márcia costuma discutir filosofia, ética e educação de forma acessível e envolvente. Ainda na sexta, haverá o debate “Por que decidimos escrever?”, às 17h, com Aluísio Azevedo, Edivan Silva e Cluedivan Jânio – que também lançará “O RN nos selos postais do Brasil”.
ESTREIA DOS QUADRINHOS
Uma novidade em 2012 é a inserção dos quadrinhos na programação da Feira. Será no sábado, às 17h, com a mesa “Heróis e anti-heróis”, a cargo dos desenhistas Geraldo Borges e Gabriel Andrade Jr., sob mediação de Milena Azevedo. Borges é desenhista da Art&Comics International e professor de animação da Universidade de Fortaleza; e Gabriel é artista exclusivo da Avatar Press. Ambos também farão oficinas. A oficina é para ilustradores e para quem estuda desenho, seja cartoon, quadrinhos ou arte convencional. O destaque literário do sábado será o escritor e jornalista cearense Lira Neto, às 20h, conversando sobre o livro “Getúlio – Dos anos de formação à conquista do poder”, um bestseller entre os mais vendidos no país.
A feira de 2012 também aproveitou datas pontuais, como o centenário de Luiz Gonzaga, para puxar outros da seara popular/regional, como o cordel e o cangaço, que ganharam debates, exposições e um festival. Na sexta, Gonzagão será discutido às 20h no Espaço do Autor a cargo de Xico Nóbrega, Múcio Procópio e Kyldemir Dantas. No sábado, às 18h30, haverá a mesa redonda “Cangaço”, com o professor Joca e Honório Medeiros, sob mediação de Kyldemir Dantas. No domingo, às 20h, terá um Festival com Antônio Francisco.
#saibamais#Entrevista
Lira Neto, escritor, biógrafo
“Sou um repórter da história, gosto de biografias”
Um dos políticos mais controversos do Brasil, morto há quase 60 anos, ainda é capaz de mobilizar o país. Pelo menos na lista de livros mais vendidos, caso de “Getúlio – Dos anos de formação à conquista do poder”, bestseller do jornalista e escritor Lira Neto, que participará da Feira do Livro de Mossoró. Ao VIVER, ele falou sobre a enorme repercussão e sucesso de seu livro, que faz parte de uma trilogia sobre o “pai dos pobres”.
Você esperava que a bio sobre Getúlio fosse causar tanta comoção? Como explica isso?
O livro, felizmente, tem sido muito bem recebido pela crítica e pelo público. No mundo acadêmico, historiadores, economistas e cientistas políticos, renomados especialistas na chamada Era Vargas, escreveram resenhas bastante positivas. E, quase três meses após o lançamento, a obra continua entre as mais vendidas em todo o país. Venho me dedicando intensamente a esse projeto de contar a história de Getúlio de forma exaustiva, aliando uma vasta consulta bibliográfica à pesquisa minuciosa em fontes primárias. Acredito que o sucesso da empreitada é necessariamente uma decorrência do trabalho sério e consistente. Mas também creio que o grande mérito disso está na trajetória do próprio biografado, um homem controvertido, até hoje amado e odiado, que alimenta devoções e ódios, rancores e afetos.
Por que escrever biografias?
Escrever biografias, para mim, é hoje uma forma de unir duas grandes e velhas paixões: a história e o jornalismo. Sou um repórter da história. Ao mesmo, tempo, é uma maneira de fazer grandes reportagens sem as tradicionais limitações de tempo e de espaço do jornalismo cotidiano. É promover um mergulho em nossa memória coletiva, desvendar os mecanismos de construção ideológica que está por trás dos mitos. É convidar o leitor para uma imersão radical naquilo que, historicamente, nos define e nos explica.
Como você escolhe o biografado? Depende de quais fatores?
Sempre digo que jamais biografarei indivíduos que tenham vivido trajetórias em linha reta. Gosto de escrever sobre individualidades controversas e ambíguas.
Qual biografia te deu maior trabalho para escrever?
Cada livro propõe um desafio novo e diferente. Escrever sobre José de Alencar, por exemplo, exigiu um trabalho profundo em fontes documentais raras, do século XIX. Biografar Maysa, por sua vez, obrigou-me a penetrar nos desvãos de uma alma tão sensível quanto atormentada. Compreender as contradições e ambivalências de Padre Cícero me possibilitou vislumbrar o intrincado e misterioso sentido da fé popular. Biografar Castello Branco me levou a conhecer com mais propriedade a história política brasileira do século XX, tarefa fundamental para meu trabalho atual, sobre Getúlio, obra de maior fôlego e, talvez, de maior maturidade do ponto de vista da escrita e da pesquisa.
Tem um novo biografado em mente?
Getúlio é exclusivista, absorvente, um ditador de meu tempo. Não me deixa oportunidade para pensar em mais nada. Até 2014, estarei dedicado inteiramente à trilogia sobre ele.
O que acha de eventos de literatura como este, em Mossoró? Acredita que contribui para difundir a leitura, e apresentar seu trabalho para um público maior?
Valorizo muito encontros desse tipo. Eventos assim nos permitem compartilhar uma extraordinária via de mão dupla. Para o leitor, é uma oportunidade de estar frente a frente e trocar ideias com os autores que ele já leu ou que poderá vir a ler. Para o autor, é a possibilidade de dialogar com seu público, estabelecer um canal direto e vibrante com a recepção de sua obra. É a segunda vez que estarei em Mossoró. Em outubro, estarei na Fliq, de Natal. Virei outras vezes, quantas for convidado.