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Tempo, tempo, tempo…

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Dácio Galvão [ [email protected] ]

Você leu o livro biográfico do lendário comunista Luis Carlos Prestes, “Um revolucionário entre dois mundos”, recortando o período de sua atuação política nos anos 1920 a 1980, escrito pelo renomado pesquisador Daniel Aarão Reis? Cê leu o artigo de Adriana Calcanhotto “O sonho acabou” na coluna quinzenal que mantêm do jornal “O Globo”, onde desapontada abre mão de compartilhar o jeito de governar do Partido dos Trabalhadores? E “Poesia Reunida” 1978-2013 de Frederico Barbosa referendada pelo professor brasilianista Kenneth Dadiv Jackson, da Yale University e por Leyla Perrone-Moisés, ensaísta que compartimenta o poema: “chegamos à nova era / e ela já era”!

 Tem visto a poética de Chacal no facebook, como ele diz, “lugar que mais gosta de freqüentar, se saindo de bienais e noites de autógrafos? Ou lido seu último livro “Murundum” na oficialidade distribuidora da Cia. das Letras? E o “A Teus Pilotis” de Nicolas Behr sustentado na estética dos pilares e pilares de Brasília? E no yootube você viu-ouviu a conferência de… E “Observação do verão seguido de Fogo” (Móbile Editorial), do português Gastão Cruz, que levou o prêmio de melhor livro na categoria Poesia do Portugal Telecom? Gastão que esteve aqui na edição 2014 do Festival Literário de Natal, promovido pela Prefeitura Municipal de Natal, fazendo fala sobre a trajetória da poesia portuguesa no século vinte? Me perguntam. Me indago.

 Conversava com Fred por entre as alamedas da Casa das Rosas-SP olhando para uma monumental pintura que homenageia o arquiteto Oscar Niemeyer. Criação do graffiteiro Eduardo Kobra. Um painel com o rosto de Niemeyer em plena Av. Paulista, na lateral do Edifício Ragi, na Praça Oswaldo Cruz, 124, em frente ao Shopping Patio Paulista. Presente e reconhecimento da metrópole de campos e espaços! E ele então me dizia da pulsação dos saraus poéticos nas periferias espalhados que estão por vários não-lugares. Lugares não oficiais, institucionalizados.

Chama a atenção num catálogo de grupos culturais uma sigla: Cooperifa. Perguntei e fiquei sabendo um pouco sobre a atuação do coletivo formado por jornalistas do extremo sul de São Paulo. Ativista a Cooperifa variando ações distribuiu ano passado 7 mil livros dentro de um projeto chamado “Natal com Livros”. Simples: os livros eram distribuídos em uma barraca de feira livre. Campanha de incentivo a leitura infantil e adulta. A Cooperifa realizou várias edições do projeto “Poesia no ar”, enchendo o céu da maior cidade brasileira de poiesis. Na periferia da institucionalidade  o sarau ocorre normalmente até as 22hs30. Poesias depois das recitadas são colocadas em balões de gás (500 bixigas) e enviadas pelos ares despoluindo desarmando corpos mentes propondo um mundo estelar de letras e letras palavras e palavras frases e frases períodos e periódos paragráfos e pararágrafos provavelmente de amor para toda a cidade. “Onde todos querem violência, nós poesia.” É o libelo. Bacana!

E a literatura clássica, o cânone? A literatura universal? A chamada literatura local? A leitura transgressiva? A conservadora, alienante. Onde ficam? Tanta coisa acontece nesse mundão de meu Deus. Fred comentava por entre as alamedas o que chama “elitismo do elitismo” do ato de ler. Estando na Festa Literária de Paraty da qual participou em uma das edições fazendo palestra e oficina observou: – “aquelas senhoras leitoras assépticas que falam do ganhador do Nobel de 1929, pronunciam assim: Thomas Men e não Thomas Mann! São leitoras vorazes mas… não refletem literatura. Recomendação de neurocientistas, ativação da mente, consumidoras livrescas… Nesse caso, diletantismo e repertório vazio. No escopo Coperifa, vozes anuladas no centro, vozes ativas nas margens. Nos parecendo mais um campo estético-comportamental. Parecendo. Não lemos. Tempo? Não há tanto.

 No contraponto de tudo isto, fica o enorme volume simultâneo de informações. Muito conteúdo para ler, ver e ouvir. Evidentemente, exigindo reflexão. Então parece não haver saída para visão geral de um corpus literário? Como apreender um legado constituído no processo civilizatório? Num micro exemplo de menos poesia e mais prosa: Homero, Dante Alighieri, William Shakespeare, Goethe, Dostoiéviski, Leon Tolstói, Marcel Proust, James Joyce, Bertolt Brecht, Jorge Luis Borges, Machado de Assis, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto… São páginas e páginas. E o tempo? No Brasil, para os escritos brasileiros tem claridades emanadas do mestre Antonio Candido.  Há a velha-nova(?) fórmula do “ABC da Literatura” de Ezra Pound e seu “Cantos” que vai para além da literatura ocidental. Há também o método de Paul Valery e o que se baseia na dicotomia do linguista Ferdinand Saussure partindo do conceito sincronia/diacronia. E haja tempo! Que não há.

  Termina ficando um largo, um vácuo nessa apropriação nesse empoderamento do conhecimento. É assim. O mundo ficou gigantesco. Não há tempo! Vamos remando. Consumidos e consumados. Vamos lendo fragmentariamente. O que possível for. E Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr.? Nem prosa nem poesia. Identidade, história, antropologia. Ler reler. Já disse o cantor popular: “Tempo és o senhor dos destinos.” Nessa contemporaneidade, difícil de controlá-lo.

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