sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Tempo

- Publicidade -
Rubens Lemos Filho
Existe um senhor incapaz de conciliações e inimigo de conluios e ele se chama tempo. Nunca admite remendos  existenciais ou práticos  e jamais chega antes do seu relógio inflexível. No máximo, se deixa rever nas reapresentações eletrônicas  em voga nos tempos de Coronavírus. 
O tempo nunca foi amigo ou inimigo de ninguém. É neutralidade quando pontifica a sensatez, é cortante na carne das precipitações. Tempo e lógica são parentes. 
É justa a grita do mundo do futebol pela volta das partidas. Mas o tempo não vai fazer concessões apenas ao universo boleiro. É preciso redobrar a paciência e acompanhar o nefasto avanço de uma doença surda. Que dizima qualquer um, sem critérios. Só o tempo parece compreender a pandemia. 
Respeitados os indicativos e desdobramentos – do tempo -, é impossível deixar de achar que os campeonatos estaduais estão condenados em 2020, salvo uma injeção financeira que permita reestruturar (e eles têm estrutura?), os pequenos clubes desmobilizados por não haver perspectiva. Eles enxergaram melhor. Foram pragmáticos. 
O ABC ganhou o primeiro turno. Dentro do roteiro possível. O segundo turno é uma incógnita, um suspense que o tempo inventou para alertar incautos. Declarar o ABC campeão seria lhe conceder um meio-título, uma conquista de nada, pois na história, a frieza feminina do tal tempo, ficaria para sempre o campeonato meio-ganho ou ganho pelo meio. 
Decidir em 2021 é até menos incoerente do que definir no vácuo entre a incerteza de datas e o que não diz o regulamento, desavisado, feito o mundo, da doença que imobiliza, trancafia e agoniza. 
ABC e América não têm culpa do miserê geral e conservam seus times, sabe-se lá como e a que preço. O tempo manda. Sem histeria, nem passeatas. O tempo desdobra-se na prudência, madura senhora que aconselha ao futebol, o que sugere a todos: esperar. E se refazer. 
Brasil x Itália 
A Globo retransmite domingo às quatro da tarde a final da Copa do Mundo de 1994, Brasil x Itália. Brasil tetracampeão  na primeira decisão por pênaltis em mundiais. Foi um jogo chato. O Brasil sem criatividade no meio-campo, forte na marcação e decisivo para a liberdade ofensiva de Romário e Bebeto. A Itália com seu antepassado e sisudo estilo, fechado e cruel nos contragolpes. 
É possível após a reprise entender o que Parreira e Zagalo de 1994 conseguiram e Telê Santana da maravilha derrotada de 1982 insistiu em não admitir: a Copa do Mundo é tiro curto, é campeonato onde não errar vale tanto ou mais do que se exibir. Telê não mudou o time mesmo com advertências claras nas partidas da primeira fase e no próprio duelo com os argentinos que vencemos por 3×1. 
Em 1970, o Brasil de Pelé, Rivelino, Gerson e Jairzinho, camisas 10 em seus times – Tostão usava a 8 no Cruzeiro cujo 10, Dirceu Lopes, poderia ter ido ao Mundial  na reserva , não tinha apenas virtudes técnicas inigualáveis. 
Sobrava em preparo físico, adaptado pela chegada  ao México cerca de um mês antes dos jogos. E em 1970, disputavam o título somente 16 seleções. Hoje, com 32, o Brasil não passa das quartas. 
Quem assistiu de novo aos jogos do tricampeonato viu que a arte minimizou as falhas de Félix e do lateral-esquerdo Everaldo, que era menos competente do que Marco Antônio, mas não tremia  como Marco Antônio. 
Há, em 1970, é o que meu texto rebuscado tenta explicar, algo de 1994 na capacidade defensiva. O que 1970 esbanjava eram gênios. No Tetra, no singular e plural, só um extraclasse:  Romário. 
A final de 1994 não é inspiradora de sintonizar. O Brasil perdeu um gol feito com Romário, estropiado na prorrogação e a Itália deu duas estocadas com Baggio, defendidas pela glacial segurança de Taffarel. 
O bom – é o que sempre faço -, é acompanhar os pênaltis. O chute de Baggio ao infinito do fracasso. E a homenagem ao piloto Ayrton Senna, falecido naquele ano. O duelo técnico foi ruim. Sem a própria. Técnica. 
Efeito Dominó 
O exemplo do Santo André(SP) que desistiu de participar da Série D em função do Coronavírus foi só o primeiro. Sem renda, sem dinheiro de sócio, sem perspectiva, não há como manter um clube profissional. 
Quem te viu 
O Santo André disputou Série A do Brasileiro em 1984 e chegou às quartas de final. Enfrentou e venceu o majestoso ABC de Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva duas vezes (4×2 e 2×0). 
Maguila 
Na onda das reprises, a Band TV vai mostrar lutas de Adilson Rodrigues Maguila, boxeador criado pela inteligência marqueteira do falecido narrador Luciano do Valle. É um carimbo dos anos 1980. Maguila, pesadão, ganhava muitas vezes no grito. 
Herança 
Hoje, aos 61 anos, Maguila vive em Itu(SP), numa clínica.  Sofre de “demência pugilística”, causada pelas pancadas que levou na cabeça. 
Cruzeiro 
O rebaixamento e o Coronavírus causaram  desastre no Cruzeiro(MG). A folha de pagamento foi reduzida em 81% e os salários estão atrasados. Para botar mais veneno, patrocinadores negociam rescisão dos contratos ou, no mínimo, cortes consideráveis. 
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas