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Tempos novos

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Vicente Serejo
São tempos novos esses que vivemos, Senhor Redator, se por tão pouco nos tornamos tão distantes uns dos outros. Se inventamos uma nova solidão e se trocamos palavras e, tristemente, na lonjura existencial de uns e outros. Virou um vício conversar através de maquininhas e como é triste saber que o prazer da conversa caiu de moda já faz algum tempo e nem notamos. Já não nos fascinam a presença humana, o calor do abraço, a expressão dos olhos no afago que conforta. 
Estamos sós. Sozinhos. Como se tivéssemos construído nossas vidas só com as pedras dos nossos orgulhos pessoais, se não somos mais que a soma dos afetos e desafetos, lutas e instantes de paz que inventamos. Viver, Senhor Redator, é reinventar-se todos os dias. E depois, perdoe o jeito de dizer, antes sabíamos vencer melhor a dura realidade dos dias e noites, afinal é insuportável o vinagre azedo da realidade, e se o irreal faz da vida, como disse o poeta, uma aventura errante. 
Vivemos hoje o tempo medonho, feito de homens partidos, como advertiu o poeta Carlos Drummond de Andrade. Os que não conseguem esconder, encoberto pela máscara caricata, o jeito ardiloso de negar o verdadeiro rosto. Reconstruímos, a duras penas, uma nova democracia com o rescaldo dos escombros restados de uma impiedosa ditadura, mas, agora, e porque não a fizemos sólida, parece descarnada, desfeita no seu desenho tosco vincado nas paredes da própria história.
Uma democracia que para existir vai gastar, numa única eleição, quase seis bilhões de reais entre aparições e fantasmagorias, engordadas por um orçamento adiposo e secreto, de emendas de relatores e seus destinos escondidos. Uma democracia que hoje impõe um tempo de segredos de tudo quanto deveria ser público, se público deveriam ser todas as decisões, ditas e assinadas, sob o pendão de uma liberdade que hoje, estiolada nos torneios entre poderes, virou uma olimpíada. 
A democracia não é cara e compensa todos sacrifícios. Caro, caríssimo, é ter uma sociedade sem um Legislativo livre e um Judiciário digno. Mas há algo pior, bem pior, com certeza, que seria não tê-los. Os conflitos, quando nada, dão transparência aos atos de uns e de outros, se todos são esteios da sociedade que precisa não ter segredos para ser de todos. Pior, muito pior, é tê-la assim, ao arrepio do olho da Nação quando, prisioneira do Estado, fenece no seu dever de fazer o bem. 
Quanto custa a democracia? Não sei. Ninguém sabe calcular na ponta do lápis. Certamente há sempre de custar bem menos do que as sombras que anoitecem os corredores dos poderes ditos constituídos. Na política, a noite dos segredos é a noite do horror. Nela florescem os privilégios dos poderosos, crescem as ervas daninhas do arbítrio, nascem os espinhos contra a liberdade. E se há perigo na esquina, então é melhor que a vida seja assim, em nome da mais digna resistência. 
SAUDADE – O presidente da Academia, Diógenes da Cunha Lima, fala sobre Geraldo Melo na sessão presencial de quinta, 26, às 17h, na homenagem da ANL ao ex-governador Geraldo Melo.
ELEIÇÃO – Feita a homenagem, é declarada vaga a cadeira 32. Até agora, concorrem as escritoras Isaura Rosado e Josimey Costa. As inscrições, pelo regimento, permanecem abertas sessenta dias.   
AVISO – A Alexandre Alves, por onde andar: vamos conversar sobre Palmyra Wanderley. Ela é modernista desde ‘Esmeraldas’, reunião de sua poesia entre 1916-1918, em edição hoje muito rara.
DETALHE – Não esqueçamos que lá já estavam seus poemas de versos e temas livres e que depois vão reaparecer na sua ‘Roseira Brava’, de 1928. A rigor, Palmyra é a nossa grande pré-modernista. 
ALIÁS – Essa constatação é difícil para quem teima em não reconhecer os méritos de uma poetisa publicando nas duas primeiras metades do século passado. Fala aqui antigo e superado buquinista. 

OLHO – Para o velho e querido amigo Lula, o do restaurante com a melhor tradição na culinária nordestina: seu olho para comprar abacaxi pérola, doce e sumarento, vale por um curso de doutor.
PERIGO – Do poeta Carlos Alberto Dávila, em ‘Peregrino del Viento’, e que Diógenes da Cunha Lima conheceu longe, em Buenos Aires: ‘Que infeliz o ser humano!, / quando o amor lhe domina’.
ARTE – A agenda cultural desta terça, às 17h, no auditório da Pinacoteca, sede do Palácio Potengi, a conferência de Marcos de Lontra Costa – “O Regional e o universal na arte moderna brasileira”.
DIABO – Pronta a nova edição, revista e ampliada, do livro ‘O Diabo na Guerra Holandesa’, de Manoel Onofre Jr., edição Sebo Vermelho, originalmente lançado em 1987 pela Nossa Editora. O lançamento da nova edição, com capa ilustrada por Dorian Gray, ainda não tem uma data definida. 

ENSAIOS – Ex-professor de História no ensino médio, ao longo de quatro anos, Onofre reúne no livro seus namoros com temas históricos, entre eles a figura de Jacob Rabbi que veio para o Brasil com Maurício de Nassau, viveu em Natal e aqui atuou como um colaborador da invasão holandesa.  
VALOR – A professora Sara Costa dos Santos defendeu, no mestrado de literatura comparada da UFRN, a dissertação de mestrado – ‘Encontros entre as narrativas potiguares de Manoel Onofre Júnior e Bartolomeu Correia de Melo’, sob a orientação do professor-doutor Derivaldo dos Santos.
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