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Teresa Cristina visita o poeta da Vila

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Isaac Ribeiro e Ramon Ribeiro
Repórteres

Cartola, Noel Rosa e Nelson Cavaquinho, cada um com suas características poéticas, harmônicas e melódicas, formam um alicerce sólido do samba. Uma espécie de santíssima trindade de um dos gêneros musicais mais simbólicos e representativos do Brasil. Os três compositores também formam a trilogia que a cantora e compositora carioca Teresa Cristina vem se dedicando nos últimos anos. Depois de incursionar com um espetáculo dedicado ao mestre da Mangueira, ela traz a Natal o show “Batuque é um Privilégio”, neste sábado, às 21 h, no Teatro Riachuelo, só com canções de Noel. Ela sobe ao palco acompanha do violonista Carlinhos Sete Cordas.

Teresa Cristina incursiona pela obra de um dos maiores sambistas da história da MPB

Teresa Cristina incursiona pela obra de um dos maiores sambistas da história da MPB

Durante uma hora e meia, Teresa Cristina interpreta 23 canções de Noel Rosa, entre clássicos, marchinhas de carnaval e outras menos conhecidas do grande público. Canções como “Cidade Mulher”, “Três apitos”, “Eu te desejo”, “Com que roupa”, “Pierrot apaixonado”, “O orvalho vem caindo”, “Feitio de oração”, “Gago apaixonado” entre outras. Os arranjos e a execução virtuosa de Carlinhos Sete Cordas conferem ainda mais beleza, personalidade e elegância aos petardos do mestre de Vila Isabel, morto precocemente, em 1937, aos 26 anos, vítima da tuberculose, deixando um legado de mais de 300 composições. É considerado um dos artistas mais importantes da música popular brasileira. 

Para compor o repertório do show, Teresa Cristina mergulhou fundo na obra de Noel, pesquisando sobre vários aspectos da vida e da obra do sambista, compositor, cantor, bandolinista e violonista carioca. “Eu basicamente só ouvi os originais. Já que minha intenção é mostrar minha visão sobre a obra dele, ouvi as gravações da Aracy de Almeida e aquele ‘Noel por ele mesmo’. Foi a partir daí que eu imaginei as minhas questões.

Em entrevista à Tribuna do Norte, Teresa Cristina falou sobre o próximo homenageado da trilogia, Nelson Cavaquinho, sobre aspectos da obra de Noel Rosa e comentou ainda a respeito do seu próximo disco de composições suas inéditas, programado para ser lançado após encerrado o atual projeto. Confira alguns trechos do bate-papo:

Porque fazer esse tributo a Noel Rosa logo depois da homenagem a Cartola? De onde surgiu a ideia?
No meio da turnê do Cartola, eu já estava pesquisando as músicas de Noel. Eu já comecei a amadurecer a ideia de fazer isso. O que aconteceu é que o tempo foi passando e obra do Noel foi ficando cada vez forte pra mim. Identifiquei-me muito, com muita coisa, com muita letra, com muita ideia, com muito deboche. Um olhar até visionário de Noel. E a gente tem como realizar isso hoje no Brasil. Isso não é algo que você deixe passar.  Fiquei impressionada com a força da canção do Noel, com a precisão dele, como era o Brasil que ele enxergava. Qual era o tipo de “inimigo” que ele enfrentava. Muitos inimigos do Noel ainda estão ativos no Brasil. Tem umas coisas bem engraçadas. Ele fazia chacota com a febre amarela. No início do século passado e nós estamos em 2018, vendo gente morrer de febre amarela. Isso é muito sintomático. Eu acho que é um compositor que a gente tem que revisitar. Vendo a reação das pessoas, eu pude perceber que a obra dele está viva. Não é um show datado, com músicas que falam de uma realidade que a gente não vive mais. Pelo contrário.

Nesse processo você chegou a se deparar com algumas histórias curiosas do sambista? Casos poucos conhecidos, alguma coisa assim?
O Noel era uma pessoa bem peculiar. Eu li a biografia dele para me ajudar a tentar compor esse personagem da MPB. E tem muitas histórias com Noel na biografia dele. No show, eu não conto histórias da vida dele. Eu me atenho mais ao repertório dele. E é um repertório bem rico porque ele tanto fala de política, como fala de amor, como fala do Rio de Janeiro que ele conhece, do século passado. Ele brinca com a classe média da época, que queria ser francesa, que tinha toda aquela vontade de querer ser estrangeiro dentro do Brasil. E eu percebi que dentro de todo esse olhar caricatural que ele tem sobre a classe média vigente da época, a gente via uma pessoa muito preocupada em definir o que era ser brasileiro. Acho que isso é uma coisa muito importante na obra dele.

Da turnê passada, sobre Cartola, que foi super bem elogiada no Brasil e nos países por onde você passou, o que você trouxe de aprendizado para esse projeto novo?
Eu aprendi que a nossa música, a música brasileira, ela é muito respeitada no exterior e mais do que isso; o que faz um projeto ser vitorioso — ficamos quase dois anos fazendo o show Cartola — é porque ali tinha uma verdade do morro, da Mangueira, do Cartola, de samba de terreiro, de samba tradicional. Assim como Noel tem a verdade dele. Isso que eu observei na reação das pessoas com o repertório, me deu mais vontade de cantar o Noel. Aí, me deu vontade de colocar canções que as pessoas não estão muito acostumadas a ouvir. O repertório tem clássicos mas também tem músicas que não são tão conhecidas no Brasil.

Tem muita diferença em cantar Cartola e cantar Noel?
Tem uma pequena diferença porque é outro tipo de pegada. Tem uma melancolia ali no Cartola que eu me identificava, aquelas melodias. E já eram canções que eu estava acostumada a cantar. O Noel eu tive que aprender essas canções. Muitas melodias bem difíceis, rebuscadas, muita letra. As músicas do Noel têm letras enormes; e a partir dali, o meu processo de criação do show foi diferente do Cartola.

Esse projeto com Cartola e Noel é uma trilogia que vai terminar com Nelson Cavaquinho. Como surgiu a ideia da trilogia, em que momento você fechou esses nomes?
Bom, o terceiro nome, a princípio é Nelson Cavaquinho, mas eu confesso que eu ainda não fechei isso. Agora, eu estou pensando no Noel. Mas a ideia de fazer essa trilogia foi pra ter esse encontro com o Carlinhos Sete Cordas, que é um músico é um músico espetacular e que colocou esse show num lugar bem bacana. É um show diferente pra mim. Eu estou acostumada cantar com regional de samba, e estou ali no palco com ele no violão pra me acompanhar. Mas é um senhor violão. E minha ideia de fazer a trilogia é aproveitar esse momento em que ele está disponível; porque ele toca com muita gente; e poder mostrar o que tem de bom na música brasileira e poder mostrar essas músicas que eu admiro e que acho que as pessoas poderiam conhecer um pouco mais além dos clássicos.

Falando sobre o universo feminino, o Noel, na vida dele, teve várias amantes, várias ao mesmo tempo, e ele dedicou várias músicas a elas também. No show, há espaço para esse interesse, de Noel pela mulher?
O Noel falava de amor. E esse amor estava traduzido em vários lugares; o amor à mulher, às amantes, o amor ao Brasil, o amor ao estilo de vida dele, o amor ao botequim. Esse amor do Noel está muito presente. E a mulher foi a grande inspiração do Noel. Eu acho que ele não tivesse tido tantas desilusões amorosas, eu duvido que ele fosse…

O show tem cenário? É uma coisa mais intimista?
É um show bem simples. O único adereço de cenário que eu tenho é uma mesa de botequim, uma garrafa, um copo de bebida e as canções do Noel. É basicamente isso.

Sobre o nome do show, “Batuque é um privilégio”, queria que você comentasse um pouco a escolha desse título.
Isso é um verso do Noel. E esse verso quer dizer muita coisa. Eu acho que a nossa música, a música brasileira, é tão reconhecida e tão adorada no mundo inteiro, por ser uma música com muita influência africana, o que é essencial pra gente tentar entender o samba, pra tentar entender o Brasil através disso. E eu acho que o tambor mudou a música brasileira. Tanto que a própria obra do Noel é muito influenciada pelo foxtrot, por catira, por uns ritmos mais antigos. E quando ele diz que batuque é um privilégio, na verdade eu acho que ele reconhece a importância do negro dentro do samba.

Serviço
Show “Batuque é um privilégio”, com Teresa Cristina e Carlinhos Sete Cordas interpretando Noel Rosa. Sábado, 21h, no Teatro Riachuelo/Midway Mall. Informações: 4008 3700.

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