sexta-feira, 19 de abril, 2024
29.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Terremoto leva jovens profissionais

- Publicidade -

Por Jonathan M. Katz – da Associated Press

PORTO PRÍNCIPE (AE) – Eles eram encarregados de preservar os livros e os arquivos, de aplicar treinamentos e de fazer funcionar os computadores. Estavam entre as poucas pessoas com alto nível educacional no Haiti e também formavam a nova geração de enfermeiras, técnicos, gerentes e estudantes universitários. Agora eles se foram, justamente quando o país mais necessita de seus conhecimentos.

O terremoto de 12 de janeiro ocorreu pouco antes das 17h, destruindo edifícios de escritório e matando muitos jovens profissionais empenhados em colocar o país em funcionamento. Muitos ficaram esmagados em seus escritórios.

“É uma geração que decidiu não abandonar o Haiti. Escolheram trabalhar pelo país”, disse Dieusibon Pierre Merite, sociólogo haitiano do programa antigangues da Organização das Nações Unidas (ONU), que perdeu vários de seus colaboradores. “Esses são os que morreram.”

E a perda se agrava com a fuga de cérebros, pois as pessoas mais capacitadas e com meios para ir embora abandonam em maior número o país devastado, onde mais de 1,2 milhão de pessoas perderam suas casas.

O primeiro-ministro Jean Max Bellerive disse à Associated Press que observa com tristeza os muitos jovens instruídos que entram nos aviões com destino aos Estados Unidos ou para qualquer outro lugar. Eles partem porque a vida, que era difícil, agora se tornou quase impossível depois do terremoto.

“Eu observava seus rostos. Estavam escapando do país e não tinham intenção de voltar”, disse Bellerive. “Sinto amor pelas pessoas que perderam sua família, mas creio que é até mais duro para o país ver que a gente que poderia fazer muito para reconstruir o Haiti deixar o país.”

O Haiti já vivenciou no passado a perda de talentos, normalmente em épocas de turbulência política. Muitos jovens fugiram ou morreram durante as ditaduras de Duvalier pai e filho, entre 1957 e 1986. As pessoas também escaparam das represálias realizadas pela junta militar do general Raoul Cedras, apoiada pelos Estados Unidos, no começo da década de 1990, assim como durante o mandato do presidente Jean-Bertrand Aristide e após a deposição dele em 2004. Mas as perdas agora são muito mais significativas.

A destruição foi tão extensa e instantânea e aniquilou a capital e suas instituições no momento em que elas eram mais necessárias que a ausência dessas pessoas, que morreram ou deixaram o país, será sentida por décadas.

“Isso terá um impacto em nossa cultura, no futuro do Haiti”, opinou Pierre Merite, que enviou sua mulher e sua três filhas – de 2, 7 e 12 anos – para Chicago, dias depois do tremor.

Ainda não se sabe número de mortos

De imediato, é impossível saber com certeza quantas pessoas morreram. O governo estima que foram 230 mil, mas não revelou como chegou a esse número.

Em um país onde dois terços das pessoas em idade produtiva não tinham emprego formal antes do terremoto e onde poucas concluíram a educação secundária, as perdas de universidade e prédios de escritórios representam um duro revés.

Gaston Vilvens, um técnico em informática de 29 anos, trabalhava no Conselho Eleitoral Provisório, que organizava as eleições legislativas previstas para fevereiro. Trabalhador e educado, era valorizado por seus companheiros. “Se qualquer coisa ia mal com um sistema, Gaston era chamado”, disse Gaillot Dorsainvil, presidente do conselho.

Às 16h50 da terça-feira, 12 de janeiro, a maioria dos companheiros de Vilvens já havia ido para casa. Muitos certamente estavam presos no caótico trânsito na hora do rush.

Assim como os ministros do governo e outros altos funcionários, uma boa parte dos funcionários do executivo do conselho também já havia saído do trabalho. Mas Vilvens ficou para consertar o computador do chefe de segurança – um cargo importante no conselho que enfrenta ameaças constantes de oponentes políticos. Cerca de dez colegas se reuniam num salão, discutindo quem trabalharia nos postos de votação. Essa decisão lhes custou a vida.

Às 16h43 a terra tremeu, o imóvel de concreto veio abaixo e Vilvens e seu colegas ficaram esmagados em seu local de trabalho. “As pessoas que realmente trabalhavam eram as que estavam no escritório depois das 16h”, disse Philippe Augustin, supervisor de Vilvens.

As eleições foram canceladas. Além de perder seu pessoal, o conselho ficou sem escritórios, computadores, veículos e expedientes.

A maioria dos imóveis escolhidos para serem postos de votação na zona do terremoto ficou danificada ou destruída e centenas de milhares de eleitores morreram, ficaram desabrigados ou ficaram sem documentos de identificação.

O conselho, privado de alguns de seus empregados mais capazes, luta agora para organizar eleições presidenciais antes que o mandato do atual presidente René Préval termine, no começo do ano que vem.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas