Genebra (AE) – A transmissão dos Jogos Olímpicos de Pequim para todo o mundo já se transforma em mais uma polêmica. O governo chinês avisou às emissoras que pagaram milhões de dólares para ter os direitos que não vão poder transmitir da Praça Tiananmen, no centro da capital da China. Nesta semana também, a TV francesa ainda insinuou que poderia tomar medidas se algum tipo de censura fosse aplicada pelos organizadores durante a Olimpíada.
As suspeitas de censura das redes européias e norte-americanas foram reforçadas na última segunda-feira, quando a TV chinesa cortou as imagens dos protestos de ativistas tibetanos durante a cerimônia de acendimento da tocha olímpica, em Olímpia, na Grécia. Já preparados para os possíveis incidentes, os chineses transmitiram o evento com alguns segundos de atraso e, ao verem os protestos, trocaram as imagens da cerimônia por paisagens gregas.
Agora, as redes ocidentais receberam a notícia de que a TV chinesa poderia transmitir as competições da Olimpíada também com atraso. A tática permitiria censurar imagens que o governo chinês não acredita serem adequadas para sua população. Pequim também já alertou que não permitirá que tevês façam durante os Jogos Olímpicos transmissões ao vivo da Praça Tiananmen, onde houve a famosa manifestação de 1989, em que estudantes enfrentaram as tropas chinesas. Para muitos ativistas, o local seria uma plataforma ideal para protestos durante a Olimpíada de Pequim, em agosto.
No ano passado, o governo chinês chegou a garantir que as transmissões ao vivo estariam liberadas a partir da Praça Tiananmen. Mas, há poucos dias, diante dos protestos e conflitos no Tibete, a autorização foi revista.
Não é apenas a Olimpíada que está senda controlada de perto. Há poucas semanas, a cantora islandesa Bjork lançou um grito de apoio ao Tibete no final de seu concerto em Xangai. Desde então, todas as manifestações públicas estão sendo vigiadas pelos chineses.
Enquanto isso, o diretor de esportes da rede France Televisions, Daniel Bilalian, insinuou que poderia rever seus planos de transmissão da Olimpíada se algum tipo de medida de censura fosse imposta às tevês estrangeiras. Já o Comitê Olímpico Internacional (COI) estaria agindo nos bastidores para evitar a censura e garantir todas as transmissões ao vivo. Mas, ainda assim, a entidade continua ignorando os protestos dos ativistas e, na próxima sexta, promove em sua sede, na Suíça, uma festa chinesa em homenagem à Pequim.
Marta promove o turismo em Pequim
Pequim (AE) – A ministra do Turismo, Marta Suplicy, afirmou nesta terça-feira em Pequim que “há indignação frente à violência e desrespeito aos direitos humanos” no Tibete e que os Jogos Olímpicos serão uma oportunidade para a imprensa estrangeira “conhecer melhor” o que acontece na região. Em entrevista coletiva em Pequim, Marta ressaltou que falava como “pessoa privada e não como governo”. A ministra disse ainda que “não há grande questionamento em relação ao Tibete ser parte da China”.
O Brasil, como a maioria dos demais países, respeita a política de “uma só China”, que considera o Tibete como parte integrante do território chinês. Marta chegou a Pequim na sexta-feira à noite, com o objetivo de divulgar o turismo no Brasil e buscar apoio da China à pretensão brasileira de sediar a Olimpíada de 2016 – a ministra tem esperança de conseguir o apoio chinês, já que o país é detentor de dois votos no Comitê Olímpico Internacional (COI).
Durante a visita, a ministra recebeu a promessa de que o Ministério do Turismo da China enviará uma carta ao Comitê Olímpico chinês favorável à candidatura brasileira para os Jogos de 2016. Outro resultado da viagem foi o sinal verde do governo chinês para abertura de um escritório de representação turística do Brasil na China. A expectativa é que a medida eleve o fluxo de turistas chineses em território brasileiro, que no ano passado ficou em torno de 36 mil, uma parcela ínfima do total de 44 milhões de chineses que viajaram pelo mundo no mesmo período.
Nicolas Sarkozy já admite o boicote aos jogos
Paris (AE) – O presidente francês, Nicolas Sarkozy, fez um apelo nesta terça-feira para que a China mostre responsabilidade ao tratar as tensões tibetanas e chegou até a admitir a possibilidade de boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim. Ele revelou que pode não comparecer à cerimônia de abertura da Olimpíada, no dia 8 de agosto, caso a investida chinesa no Tibete continue.
Ao ser questionado sobre um possível boicote, nesta terça-feira, na França, Sarkozy disse que “não poderia fechar as portas para nenhuma possibilidade”. Um porta-voz do presidente francês confirmou que ele se referia a uma possível ausência na cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim. “Acho que é mais prudente reservar respostas para desdobramentos concretos da situação. Todas as opções estão abertas e eu faço um apelo para o senso de responsabilidade das autoridades chinesas”, afirmou Sarkozy, durante uma visita a um regimento militar no sudoeste da França. “Nossos amigos chineses devem entender a preocupação mundial sobre a questão do Tibete e eu adequarei minhas respostas à evolução na situação que virá, eu espero, o mais rápido possível.”
Sarkozy revelou que já conversou sobre as suas preocupações com o presidente chinês, Hu Jintao. Na ocasião, o francês teria pedido o fim da violência e o início do diálogo com o Tibete.