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Thiago de Mello

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Alex Medeiros 
O poeta da floresta visitou duas vezes a cidade do Sol em dois séculos diferentes. Nos anos 1950 veio a convite de Odilon Ribeiro Coutinho, e em 2013 atendeu convocação do jornalista Franklin Jorge para participar da programação do Dia Nacional da Poesia. Aliás, sua figura e obra inspiraram um “poeta alternativo” numa antiga noite do Festival de Artes, com a intervenção de um verso criminal: “na noite vaga / faz escuro e canto / e arrocho a baga”.
Em jantar na casa de Diógenes da Cunha Lima, na companhia dos casais Genibaldo e Lalinha Barros, Paulo de Tarso e Ana Maria, o autor de “Como Sou” lançado naquele mesmo 2013, presenteou o anfitrião com um pôster que destacava o seu mais universal poema, Estatuto do Homem, que foi devidamente emoldurado e afixado na parede, e agora ilustra a coluna de hoje. No ofertório, pede ao “Diógenes meu companheiro, guarde a minha ternura”.
Saiu de lá prometendo traduzir para o espanhol o Livro das Respostas feito em homenagem ao seu dileto amigo chileno Pablo Neruda, e enamorado de uma fotografia com uma vitória-régia amazonense que Leila Cunha Lima capturou.
Jamais esquecido pelas instituições de cultura e nunca ignorado pelas novas gerações que ele inspirou, Thiago de Mello norteou a Bienal de São Paulo realizada ano passado no Ibirapuera, cujo título era o verso que faz 60 anos.
É trecho do poema Madrugada Camponesa, que começou a escrever em 1962, concluiu em 1963 e botou em livro em 1965 com o título Faz Escuro, Mas eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar. Há quem veja a fonte de Cecilia Meireles.
Na semelhança com o poema Motivo, que a jornalista carioca escreveu em 1937 (Eu canto porque o instante existe) no livro Viagem, junte-se a distância do exílio dele no Chile e a morte da escritora pouco antes do seu livro de 1965.
Na via inversa, sugere-se também que outro verso de Thiago (O poeta vai com o homem por onde ele for) inspirou uma talentosa dupla mineira de uma famosa esquina que em 1981 compôs uma canção-hino, “Nos Bailes da Vida”.
No disco mais popular das SBPCs nos anos 80, Fernando Brant e Milton Nascimento escreveram “Todo artista tem de ir aonde o povo está”, que não deixa de ter a velha parêmia sobre “a ordem dos tratores não alterar o viaduto”.
A frase-poema-panfleto de Thiago de Mello fora escrita em 1977 quando ele estava em Lisboa encharcado de esperança de retornar ao Brasil após os dez anos de afastamento e de perambulação pelo Chile, Alemanha e Portugal.
Sobre distância, saudade e esperança, o poeta do Amazonas escreveu em 1960, num surto de solidão nas paragens da Bolívia, um poema carregado de dor e vislumbramento, de título Anotações de Viagens de um Pássaro Sideral.
Resgatado pelo jornalista e escritor José Alberto Gueiros, os versos ficaram por dois anos hibernados num envelope, até ser publicado no antigo Diário da Noite do Rio de Janeiro. Vejam que belas as construções verbais do poeta.
ANOTAÇÕES DE VIAGENS DE UM PÁSSARO SIDERAL
Parece que dormi: 
nas minhas asas 
descubro traços de sonho,
de um sonho feito de neve
de silêncio e de distância
que pouco a pouco será consumido
pela boca voraz de tanto azul.
Minha bagagem é o meu desejo
meu destino é uma estrela
há milênios extinta, porventura
minha desgraça é o meu canto
que já não ressoa mais
tão surda e tão gasta é 
a concha do infinito.
Minha esperança, contudo,
é a mão de Aldebarã
que traça, talvez, no velho
portulano do azul
este rumo que eu invento.
Um consolo me ameiga o coração
saber que do meu voo se desprende
para a fome dos ventos siderais
vestígios de cordilheiras
tristezas de muitos mares
angústias de céus rasteiros
ternuras de antigos pousos
e, sobretudo, o áspero gosto de chão. 
Ignorância
Não canso de lembrar Paulo Mendes Campos quando dizia que a imprensa esportiva precisava de uma semana de arte moderna. As narrativas politiqueiras nas empresas que cobrem o esporte comprovam a ignorância.
Na ESPN
Uma postagem no Twitter para criticar Djokovic disse que o tenista nega “o momento mais delicado do planeta em um século”. E negando as duas grandes guerras, a crise dos mísseis, a separação de Berlim, a Guerra do Vietnã… 
Narrativas
“Qualquer alucinação originada nos centros mundiais da sabedoria, da democracia e do politicamente correto entra no Brasil com a facilidade e a rapidez com que entra por aqui a cocaína da Bolívia”. Do decano J. R. Guzzo.
Vacinologia
Uma dúvida que tenho é sobre em que período o lobby farmacêutico vai avançar na vacinação após a faixa etária das criancinhas? Algum barnabé de crachá vai sugerir inocular a “atenuante” em bebês ainda no ventre das mães?
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