Por Flávia Guerra
“É só entretenimento. Não é um filme que tenha necessariamente um significado social.” É a própria, e bela, Halle Berry quem resume e define seu mais novo filme, que estréia no Brasil: “A Estranha Perfeita”, com direção de James Foley (de “Caminhos Violentos”), em que vive uma linda e inteligente repórter investigativa, Rowena Price, decidida a descobrir quem matou sua melhor amiga. A trama é clássica. A forma de investigar o caso, não. Para descobrir tudo sobre o principal suspeito, e poderoso da publicidade, Harrison Hill (Bruce Willis), ela constrói uma personalidade falsa na internet, em que passa a flertar ora virtualmente (outras vezes nem tão virtualmente assim) com o patrão (Sim. Ela arranja emprego na empresa do tal Hill). Dado curioso: este é o primeiro filme a ter cenas rodadas no World Trade Center após o 11 de Setembro. “Claro, sentimos o pesar de quem perdeu entes queridos ali. Mas fiquei feliz em, de alguma forma, ajudar a devolver a vida ao lugar”, comenta a atriz.
“A Estranha Perfeita” é interessante para observar o perigo, e a tentação, que são as salas de bate-papo on line e o confortável anonimato que elas nos permitem. “Não tenho muito tempo para fazer amigos na internet. Mas os que fiz foram por meio do meu site oficial (www. hallewood.com). Lá, eles entram, falam comigo, eu os encontro depois nas pré-estréias. É ótimo, mas isso é tudo”, conta a atriz ao ser questionada se já conheceu muita gente ou já se disfarçou de simples mortal no mundo virtual. Não acha arriscado a invisibilidade que a internet pode lhe dar? “Acho! Há muita gente mal-intencionada por aí. E há muitos segredos a serem mantidos também”, diz, pedindo segredo sobre o fim do filme. “Se não, perde a graça, não é?” É. Perde-se a graça e o grande atrativo deste, que é definido pelos produtores como um thriller sensual. De fato, sensualidade nunca vai faltar a Halle, que ganhou há pouco sua própria estrela na Calçada da Fama em Hollywood. “Não tinha imaginado que iria ficar tão emocionada! Mas, quando cheguei e vi todos os meus amigos e tanta gente querida, desabei e chorei”, conta. Mesmo depois de ter confessado à revista americana “Parade” que tentou se matar após a separação do jogador de beisebol David Justice, em 1997, ela parece ter encontrado o caminho da felicidade conjugal (atualmente namora o modelo Gabriel Aubry) e do equilíbrio. “Isso é muito importante para interpretar uma mulher complexa como a Rowena. E adoro interpretar ‘personagens torturadas.’ Mas é preciso estar preparada. O sucesso de uma mulher pode atrapalhar seu relacionamento e sua vida. Aprendi isso”, diz ela, que encerrou as filmagens de “Things We Lost in the Fire”, de Susanne Bier, ao lado de Benício del Toro. Este, sim, a que tudo indica, vai suprir a falta que os fãs de Halle estão sentindo de vê-la em um papel de fato dramático e adulto. “Quando ganhei o Oscar (por ‘A Última Ceia’), dizia que sonhava trabalhar com um ator como ele. Consegui.”
Serviço:
Cotação: ruim. “A Estranha
Perfeita” (“Perfect Stranger”,
EUA/2007, 109 min.)
Crítica
A perfeita mediocridade
Luiz Carlos Merten
Talvez seja melhor o leitor deixar este texto para depois de assistir ao filme de Halle Berry, e por dois motivos. O primeiro é que será difícil escrever sobre “A Estranha Perfeita” sem antecipar revelações que fazem parte da reviravolta que fecha a trama. O segundo é que também não dá para minimizar. “A Estranha Perfeita” é a perfeita mediocridade hollywoodiana.
Halle Berry faz uma jornalista revoltada. Ela gastou meses juntando informações para desmontar a imagem pública de um político homofóbico, mas que, na verdade, é gay e não sai do armário para não perder o eleitorado. Quando tem a grande reportagem na mão, o jornal cede à pressão e o texto vai para o lixo. Na seqüência, Halle embarca em outra reportagem – e desta vez o objetivo será implicar um publicitário famoso num crime brutal. A ‘heroína’ ganha ajuda de um especialista em informática. O presumível criminoso vai a julgamento e o problema é que ninguém, nem o político nem o publicitário e muito menos a jornalista, é o que parece ser. A pirueta final fecha um ciclo cuja função é menos surpreender o público do que colocar em dúvida o papel da imprensa. Pelo amontoado de mortes e falsas evidências, é um filme muito desagradável de ver.