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Título aumenta pressão sobre Tiago Fernandes

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O jovem tenista está seguindo os passos do ídolo Gustavo KuertenBalneário Camboriú (AE) – Passava de 2 horas da manhã de sábado, dia 30 de janeiro, quando Tiago Fernandes fez o ace (ponto de serviço) que selou sua conquista do Aberto da Austrália juvenil, o primeiro Grand Slam da categoria vencido por um tenista brasileiro. Desde então, o garoto de 17 anos não teve mais sossego.

Precisou atender telefonemas de toda parte, convites para entrevistas, incorporar câmeras de televisão à sua rotina. Mal dormiu. Aprende na marra que, com os títulos importantes, vem o compromisso, a pressão por mais resultados.

Enquanto voltava da Oceania – demorou quase 40 horas para chegar a Balneário Camboriú, onde mora e treina na academia de Larri Passos -, sua assessora marcava compromissos atrás de compromissos. Chegou em São Paulo às 20 horas de segunda-feira (1º de fevereiro) e participou de um programa de televisão com Galvão Bueno direto do aeroporto. Perdeu o voo para Santa Catarina e só às 5 horas da manhã, depois de pegar um táxi de Curitiba, pisou em casa.

Incrivelmente, três horas depois já estava em pé para treinamentos e, claro, gravar especiais de TV e rádio e atender jornalistas da imprensa escrita. Sempre com um indisfarçável sorriso no rosto. “É melhor atender todo mundo agora e ficar tranquilo para poder treinar depois e me preparar para o próximo torneio”, entendeu o jovem tenista com uma tranquilidade de assustar muito profissional habituado a dar entrevista. “A partir de amanhã (quarta), ninguém entra mais aqui na academia. A gente perde um dia, mas consegue se concentrar para seguir adiante”, brincou Larri.

Longe de casa

Após o título, Tiago ainda não conseguiu ver a família que mora em Maceió, sua cidade natal. Faz mais de dois meses – precisou sair do Brasil para disputar outros torneios antes do Aberto da Austrália – que não dá um abraço no pai Luiz Henrique e na mãe Edna. Faz mais de três dias que convive com jornalistas no seu encalço. “A gente tem de se acostumar. É o tipo de sacrifício que todo jogador de tênis precisa fazer. Não tem jeito”, conformou-se Torózinho, como é chamado por Larri Passos.

O garoto mal pode ver a hora de chegar em Maceió. Seus pais estarão na Costa do Sauipe para o Brasil Open, na próxima semana, e depois de lá levam Tiago embora. Merecido descanso depois dos flashes, dos gravadores e das inúmeras horas em quadra ouvindo Larri pedir mais empenho. “Família é essencial para se formar um campeão”, garantiu o próprio detentor do título australiano. “Aqui (na academia) eu dou duro, sofro. Lá, com eles, que eu busco tranquilidade, equilíbrio emocional”.

A mãe só quer ver o filho satisfeito. Com frequência liga para Larri para perguntar como o rapaz está. “A pergunta que mais ouço é: ‘Ele está feliz?’ Tenho certeza que faz dois anos que está”, disse o técnico.  “Jogador que não está feliz não consegue jogar tênis”.

Tiago está sendo preparado para conquistar títulos e lidar com a pressão desde que tinha 15 anos e decidiu deixar Alagoas. Em 2008, fez dupla com Gustavo Kuerten no torneio de despedida, em Florianópolis, do maior tenista que o Brasil já teve. Ideia de Larri. Muitos ficaram com um pé atrás. “A família dele achou que eu estava completamente louco”, divertiu-se Larri. “Mas foi um risco calculado. Foi o primeiro friozinho na barriga da carreira dele”.

Alguns meses depois, Tiago estava com Larri em Londres durante o Torneio de Wimbledon. Encontrou “apenas” Roger Federer, que o viu jogar. “O Federer até brincou comigo: ‘Ensina esse garoto a bater na esquerda com uma mão igual a mim e o Guga”, lembrou o treinador. “Essas situações foram importantes para eu entrar na Rod Laver Arena (quadra central do Australian Open) e não ficar nervoso. Já senti muitos friozinhos na barriga antes”, contou Tiago.

Larri Passos ainda está em observação

A imprensa e os fãs de tênis estão impacientes. Desde que Tiago Fernandes chegou ao título do Aberto da Austrália juvenil pululam comparações a Gustavo Kuerten, o pupilo de Larri Passos que pavimentou o caminho para que novos campeões do Brasil surgissem. O técnico pede calma. Se um brasileiro não chega à final de um Grand Slam profissional há quase 10 anos – o último título de Guga em Roland Garros foi em 2001 -, não será Tiago que conquistará o feito agora. Larri diz que os próximos três anos na formação do jovem serão fundamentais.

“A transição dele já está sendo planejada desde os 15 anos”, contou o treinador. “Neste ano, ele vai mesclar mais torneios juvenis com os profissionais. Ano que vem talvez ele jogue menos juvenis. Mas não tenho bola de cristal. Pode ser que ele perca alguns torneios, precise de mais confiança e a gente acabe mudando um pouco a programação. Mas o auge dele vai chegar a partir dos 20 anos”. A fase de transição para profissional também vai ser sentida pelos pais de Tiago. Embora o tenista tenha apoio de duas empresas de material esportivo que financiam suas viagens pelo circuito juvenil, vai precisar de mais dinheiro para disputar torneios maiores.

“Profissional que perde na primeira rodada ainda tem de pagar hospedagem e alimentação”, lembrou Larri. “Não é fácil. É uma despesa muito grande. O pai dele (que é engenheiro) vai ter de construir mais prédios, a mãe (médica) tirar mais radiografias. Não tem jeito”, brincou.

Tiago não paga nada para treinar com o ex-técnico de Guga. Só precisa se esforçar. E ir à escola. “Quem não estuda não desenvolve o raciocínio. Por isso a gente faz questão que ele esteja em um colégio bom. Se não puder fazer uma prova ou outra o pessoal entende e dá um jeitinho para nos ajudar”. O plano é que Tiago possa vencer jogos contra juvenis e aprenda com as derrotas no profissional. “A gente sempre faz um trabalho para que ele esteja beliscando o título com os garotos”, explicou Larri. “Profissional é aprendizado. O circuito molda o jogador”.

Foi por isso que o treinador não aceitou um convite para o jovem entrar direto na chave principal do Brasil Open, na Costa do Sauipe, a partir da semana que vem. Terá de lutar por um lugar no qualificatório que começa no sábado. Se perder, aprende. Se ganhar, segue em frente na competição e aprende também. “Ele só tem a crescer disputando estes torneios. E vai poder chegar lá dizendo que é um vencedor porque ele já ganhou os torneios com o pessoal da idade dele”. Tiago está conformado. “O Larri está certo. Temos de manter minha rotina, fazer o que já estava planejado. Não é porque ganhei um título que tudo muda. Ainda há muito caminho pela frente”.

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