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TN homenageia professores neste 15 de outubro

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Mariana Ceci
Repórter
Mais da metade dos 43 anos vividos por Andreia Mendes transcorreram em salas de aula. Ela ministra, há 25 anos, a disciplina de História para alunos do Ensino Fundamental, principalmente dos 6º e 7º anos. Até sete meses atrás, quando a pandemia da covid-19 levou à interrupção das aulas presenciais no Rio Grande do Norte, o período mais longo que Andreia passara distante da escola foi para cursar o Doutorado e ocupar outras salas de aula, na Universidade, dessa vez no papel de aluna. 

Andreia Mendes, professora de História

Desde março, os corredores, as aulas e os alunos passaram a estar mais distantes do dia a dia da professora – mas não completamente. Membro da rede pública municipal de Parnamirim, Andreia estava ciente de que acompanhar teleaulas ou videoaulas não era uma realidade possível para muitos de seus alunos. “Eles não têm acesso às novas tecnologias mediadas pela internet, e aí começaram as angústias: como manter o direito de aprendizagem desse estudante?”, disse Andreia. 
Como manter o direito de aprendizagem dos estudantes diante das desigualdades sociais que perpassam a educação pública brasileira? Essa é a pergunta que Andreia e milhares de professores e especialistas da área da educação fazem desde março, no início da pandemia no país. Sem resposta à essa questão vinda dos níveis mais altos – apenas em Junho o Ministério da Educação (MEC) homologou as diretrizes aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação com as orientações de práticas para os Ensinos Básico e Superior -, a resposta partiu da base, de professores como Andreia, que criaram estratégias para que os alunos não ficassem abandonados durante a pandemia nos municípios de todo o Estado. 
“Eu imaginava que o isolamento duraria, no máximo, 40 dias. Porém, desde o começo, me mobilizei para manter meus estudantes em contato com a minha disciplina. Em março, criei uma página no Instagram, um perfil que chamei de ‘Aprendizes da História’, no qual comecei a compartilhar conteúdos para que eles não perdessem o contato com a disciplina”, contou Andreia. 
Lá, em vídeos curtos, é possível encontrar conteúdos que, em outras circunstâncias, os alunos estariam aprendendo em sala de aula: história da Mesopotâmia, do Egito Antigo, de antigas civilizações africanas. Dessa forma, ela relatou que se sente mais próxima dos alunos. “Tentamos minimizar o dano como conseguimos”, afirmou. 
Na rede municipal de Parnamirim, os professores optaram por continuar a oferecer aulas no ambiente da Sala de Aula Virtual e, além disso, enviar tarefas impressas para os alunos que não possuem qualquer acesso à internet. Em alguns casos, segundo a professora, os professores chegam a ir deixar pessoalmente as atividades para as famílias dos alunos. 
Vivências
Professora da rede estadual de ensino, também no município de Parnamirim, mas na disciplina de Artes Visuais, Cristiane Moura, de 35 anos, está aproveitando o fato de morar perto de uma das três escolas em que trabalha para tentar continuar a par da situação dos estudantes.

Cristiane Moura, professora de Artes Visuais

Filha de uma mãe que trabalha como babá e um pai que é pedreiro, ela contou conhecer de perto a realidade de muitos de seus alunos, que vivem na periferia da cidade. “Meu pai sempre sonhou que eu fosse médica, professora, algo assim, sabe? E eu sei o papel que a educação teve na minha vida. Por isso penso neles o tempo todo”, contou Cristiane. 
A dedicação dos professores, no entanto, não veio sem impactos físicos e psicológicos. Cristiane pensa tanto na situação dos alunos que chegou a desenvolver sintomas físicos, como ansiedade e perda de sono. “Eu tenho medo porque sei que tem alunos que sofrem violência psicológica ou verbal, e eu fico preocupada. Não é só estar em sala de aula com eles que ia salvá-los de tudo isso, mas lá podemos oferecer uma mão amiga, orientar e acionar órgãos que poderiam ajudar caso algo acontecesse”, ressaltou Cristiane Moura.
Já Andreia relatou sentir a sobrecarga de manter o vínculo com os alunos, produzir as aulas e auxiliar os três filhos pequenos, que estão tendo que acompanhar aulas remotas em diferentes momentos do dia. “Agora, imagine: eu tenho três filhos, em idades diferentes, em uma casa com dois professores. Se, para nós, é difícil fazer eles manterem a atenção na aula remota, imagine para os pais que não possuem a didática e o treinamento para isso”, comentou Andreia. 
Adaptar-se às novas tecnologias foi preciso
O acesso aos alunos às plataformas virtuais não foi a única dificuldade imposta aos professores durante a pandemia. Para muitos, acostumados ao formato tradicional de aulas presenciais, se adaptar ao ambiente virtual foi uma dificuldade até mesmo em instituições de Ensino Técnico e Superior.

Iuri Souza, professor do IFRN em Caicó

Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) no campus de Caicó, Iuri Souza, de 30 anos, conta que os momentos iniciais foram de incerteza. “Nós estávamos sem muito norte, porque era uma situação nova para todo mundo”, relembrou. 
Recentemente, o Instituto estabeleceu as diretrizes e deu início ao semestre remoto, e ele afirmou que o contato com os alunos começou a facilitar. 
“No início, era muito o WhatsApp mesmo que a gente utilizava. Alguns professores mantinham contato telefônico, ligavam para os alunos para saberem como eles estavam e tentar acompanhar”, completou.
A situação não foi muito diferente na maior instituição de ensino do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O professor Hécio Morais, de 40 anos, ensina na Escola Multicampi de Ciências Técnicas (ECMC), em Caicó, e contou que a passagem para o processo digital foi o primeiro baque da mudança de rotina proporcionada pela pandemia.

Hécio Morais, professor da EMCM/UFRN

“A primeira grande mudança que tivemos foi essa, de entrar de cabeça no ensino digital. O que os pedagogos vêm dizendo, e é o que estamos sentindo, é que estamos administrando os danos. Por mais que a Universidade Federal ofereça capacitações e nos dê a capacidade tecnológica de fazer as aulas de forma remota, você não consegue substituir o contato”, destacou o professor. 
Ele compartilhou que é como se estivesse aprendendo novamente a dar aula, dessa vez, pela internet, o que exige outro tipo de planejamento e tempo para execução das aulas. “É um modelo que exige mais elasticidade tanto dos professores como dos alunos. Eu também sou professor e sou pai de aluno, então eu acabo vendo os dois lados da situação”, frisou. 
Sobrecarga
Assim como Andreia e Cristiane, Iuri e Hécio também relatam o cansaço, a sobrecarga e a ansiedade que acompanharam essas mudanças de rotina. A pandemia, de acordo com todos, escancarou as desigualdades no ensino e a necessidade de pensar a prioridade da educação. 
No dia 15 de outubro, é celebrado no Brasil do Dia do Professor, 10 dias depois da data internacional estabelecida pela UNESCO para homenagear esses profissionais. Nesse dia 15 de outubro, a TRIBUNA DO NORTE escolheu contar a história desses quatro profissionais em homenagem à categoria, que continua trabalhando para garantir que crianças, adolescentes e adultos tenham assegurado o direito Constitucional à educação, muitas vezes sem o apoio e as condições necessárias para tal. 
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