Quando ainda faltavam mais de cinco horas para o voo, por volta das 11h, os torcedores começaram a se reunir numa estação do BRT – linha expressa de ônibus articulados – próxima ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, na zona norte do Rio. Entoavam cânticos da arquibancada rubro-negra, em especial o que marcou o ano de 2019: a música em que a torcida “pede o mundo de novo”.
Àquela hora, a cerca de 60 quilômetros dali, o técnico português Jorge Jesus encerrava o último treino no CT do clube, o Ninho do Urubu, na zona oeste carioca. A atividade foi feita com portões fechados e isso, somado ao esquema de segurança montado, desestimulou um pouco o torcedor, que dessa vez fez uma festa tímida.
A delegação do Flamengo deixou o CT por volta de 13h30, momento em que centenas de torcedores já se encontravam no terminal de cargas do Galeão, de onde partiu o avião do Flamengo. Lá, o clima também foi muito mais tranquilo do que no dia em que o time embarcou para Lima, no Peru, rumo à final da Libertadores – aquele 20 de novembro era feriado no Rio.
Ontem, além de ser dia útil, pesou contra a ida dos flamenguistas ao aeroporto o anúncio do forte esquema de segurança montado pela Polícia Militar. Durante a concentração no BRT, muitos nem sequer sabiam que poderiam chegar até a entrada do terminal em que o elenco embarcaria. Achavam que só veriam o ônibus a muitos metros de distância.
As principais torcidas organizadas do Flamengo não compareceram em peso ao Galeão. Uma delas (Urubuzada), porém, levou ao aeroporto bandeiras que mostravam o time campeão da Libertadores, o herói do título, Gabriel, e o rosto de Zico, maior ídolo da história do clube, campeão do mundo em 1981.
Gabriel, inclusive, também estava presente em outro formato. Febre entre a torcida, um boneco de pelúcia que emula o artilheiro do Brasileirão era vendido por ambulantes. Outro símbolo deste Flamengo multicampeão de 2019, o funk “Os Coringas do Flamengo”, do MC Poze do Rodo, tocava por toda parte em caixas de som levadas por vendedores.
Entre os torcedores peculiares que caracterizam as festas rubro-negras, um se destacava. Vestido com trajes do super-herói Homem de Ferro, ele carregava um cartaz com os dizeres “Vão com Deus e com Jesus”, em referência ao técnico do time, Jorge Jesus “No dia 17 começa nossa caminhada para conquistar o mundo”, afirmou o homem (de ferro).
O ônibus do Flamengo chegou às 14h30 ao terminal, duas horas antes do horário previsto para o voo. A certa tranquilidade que pairava sobre a concentração dos torcedores deu lugar à euforia. Todos correram para abraçar o veículo rubro-negro ao som de fogos e da música que pede o “mundo de novo”. Muitas bandeiras também cercaram o ônibus.
Frustração
O esquema especial de segurança montado para assegurar o rápido deslocamento da delegação do Flamengo do Ninho do Urubu ao o Galeão funcionou, assim como o pedido das autoridades para que o torcedor rubro-negro evitasse aglomeração em torno do CT do clube. Mas isso frustrou, e muito, dezenas de vendedores ambulantes que esperavam faturar aproveitando a onda do “Aerofla”.
Mês passado, uma multidão foi ao Ninho do Urubu no dia em que o Flamengo embarcou para Lima. “Vim de Niterói pensando que seria igual, mas está muito fraco”, contou a ambulante Luciana Pinheiro, 43 anos, que se deslocou mais de 60 quilômetros para tentar vender refrigerantes, cervejas e balas. “Cheguei às 7h da manhã, mas não vendi nada, nada mesmo”, lamentou, por volta das 11h, quando desistiu de tentar e iniciou seu caminho de volta para casa.
O vendedor de churrasquinhos Maicol Douglas, 20 anos, também estava frustrado. “Eu vim da outra vez, vendi uns mil reais. Hoje, não deu R$ 100. Esculacharam nossa torcida”, reclamou, citando o esquema de segurança montado. “O pessoal deve ter ido tudo pro aeroporto.”
Vilmar Santana, de 42, estava mais resignado. Morador da região do Ninho do Urubu, ele costuma vender faixas e bandeiras no local. Nesta sexta, ele chegou por volta das 9h e encontrou, ao menos, um movimento melhor que o de costume. “Bandeira sempre vende bem. Tô feliz.”