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Torcidas colegiais ligadas ao crime

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Carlos Júnior – especial para a TN

Ao acessar a comunidade do Orkut da Ira Jovem, Torcida da Escola Dom Marcolino Dantas (DMD), o internauta encontra  um aviso: “A Torcida Ira Jovem, não tem nada a ver com a Máfia Vermelha e nem a Garra Alvinegra”.

Talvez essa seja apenas uma forma de despistar as investigações da polícia, que tem buscado de diversas formas descobrir com antecipação as brigas marcadas pela internet entre alunos de diversas escolas. As brigas geram muita violência e há suspeitas de que até mortes aconteceram por conta da guerra entre as escolas.

Os sites de relacionamento estão sendo usados por estudantes para incitar a violência contra rivaisO aviso da Ira Jovem,  repetido em outras comunidades no intuito de despistar a realidade violenta, ao observar mais a fundo os sites, blogs e os próprios tópicos do Orkut, ficam claras as semelhanças entre as guerras das escolas e as torcidas organizadas tradicionais.

As maiores torcidas dos clubes nordestinos são, em sua maioria, divididas em dois grupos, denominados de “lado a” e “lado b”. Esses nomes são originados dos bailes funk, em que o cantor dividia o público em dois lados e autorizava uma pancadaria desenfreada entre o público.

Tanto no caso das torcidas organizadas de clubes, como nas chamadas torcidas colegiais, são feitas ‘alianças’ e os grupos brigam em bloco. Nas torcidas organizadas, o “lado A” é formado por torcidas como a Inferno Coral do Santa Cruz-PE, Torcida Uniformizada do Fortaleza e OHS do América, entre outras. Detalhe: O nome da torcida OHS surgiu pela proibição do Ministério Público ao nome Máfia Vermelha, com isso, o grupo se intitulou de “Ontem Hoje e Sempre”, deixando o nome Máfia oculto. Já o “lado B” é formado por torcidas dos times rivais, como a Cearamor, do Ceará, FaNáutico, do Náutico e Garra Alvinegra, do ABC.

Já no “lado A” colegial é formado por torcidas como a Irmoçada do Instituto Reis Magos, a Torcida Organizada Atheneu (do Colégio Atheneu), a Torcida Organizada do Walfredo (da Escola Estadual Walfredo Gurgel), entre outras. Já o “lado B” é composto por um grupo formado por cerca de 20 torcidas, que é facilmente encontrada em uma das comunidades do Orkut de alguma delas. O grupo é variado e conta, tanto com escolas da periferia, como também de colégios tradicionais, como a Torcida Organizada do Maria Auxiliadora.

A escolha dos nomes “lado A” e “lado B” não pode ter sido mera coincidência. Prova disso é que boa parte das diretorias das torcidas do “lado B” colegiais são membros da Garra Alvinegra. E no “lado A” a ligação é ainda mais comprovada, pois no blog fotográfico da torcida do Atheneu (flogao.com.br/toatheneu) há uma homenagem a um membro da OHS morto pela violência entre as torcidas dos clubes e, nos comentários consta  a promessa de vingança. Além disso, todos os blogs favoritos são de torcidas do “lado a” dos clubes, ficando clara a ligação direta das torcidas com as facções dos times de futebol.

A marginalidade também é vista no blog do Atheneu com a exposição de pichações e de materiais que eles afirmam ter  roubado das escolas do “lado b”.

Violência

Músicas criadas para brigas

As músicas das torcidas organizadas também mostram como a violência é incentivada por esses grupos escolares, denominados de torcidas colegiais. Uma prova é vista no website da Torcida Ira Jovem (torcidairajovem. rg3.net), do DMD. O cantor MC Tremor lembra de fatos de violência ao cantar “Nosso passatempo é quebrar os alemão. Se lembra em 2009, invadimos foi o DED com um verdadeiro mulão”.

A gíria alemão é utilizada por torcidas organizadas de todo o país, para intitular o suposto inimigo como derrotado, já que os alemães saíram derrotados da Segunda Guerra Mundial. As torcidas sulistas começaram a usar o termo e outros grupos também repetiram isso, sempre afirmando que membros das torcidas organizadas rivais vão morrer, assim como aconteceu com os alemães. A gíria mulão significa galera do mal.

A violência é incitada de forma clara nas descrições: “programadas para matar”.

Escolas monitoram alunos e responsabilizam as famílias

Roberta TrindadeRepórter

A internet pode ser utilizada para diversos fins, mas uma delas tem chamado a atenção dos especialistas em segurança pública. Por meio da rede de computadores, jovens integrantes de torcidas rivais estão marcando brigas, ameaçando pessoas e denegrindo a imagem de desafetos. É isso que tem sido feito por alguns alunos de escolas privadas de Natal.

O site de relacionamento  Orkut é o principal meio eletrônico utilizado para os estudantes  marcarem conflitos, ofenderem colegas de turma (bullyng) e criarem comunidade destruindo a imagem de professores. A situação é tão grave que, segundo o que foi apurado pela TRIBUNA DO NORTE há vários professores que estão incapacitados de trabalhar (estão pelo INSS) diante do constrangimento sofrido por alunos que utilizam o Orkut para desmoralizar estes profissionais.

A reportagem da TN percorreu algumas instituições de ensino particular e verificou que as escolas estão utilizado o diálogo como método para tentar evitar que as brigas se concretizem. O mais curioso é a faixa etária onde se detecta o maior número de conflitos – estudantes entre 12 e 15 anos.

A TN entrevistou profissionais ligadas à área de educação e todas são unânimes em apontar a falta de estrutura familiar como principal fator para o descontrole de alguns jovens natalenses.

Escolas católicas

Maria Isabelle Costa Pereira, 29, é assistente social do Instituto Maria Auxiliadora e do Colégio Nossa Senhora das Neves. Experiente, a profissional disse que um trabalho socioeducativo tem sido realizado onde o objetivo tem sido enfocar a paz.

Apesar disso, questionada sobre a Torcida Organizada do Auxiliadora, a assistente social enfatiza que tem acompanhado de perto toda a situação e que “os estudantes estão calmos”. Isabelle diz que verifica não somente o Orkut, mas também o MSN – outra ferramenta utilizada pelos  alunos. “Sobre a torcida, identificamos os meninos, chamamos os pais e fazemos um trabalho educativo”.

Com os novos tempos, Isabelle aponta um problema enfrentado pelas famílias. “Os pais, geralmente, não sabem utilizar a internet e os jovens  mexem em tudo”.

Isabelle destacou que, no caso do Instituto Maria Auxiliadora, as possíveis ameaças ou brigas ficaram no campo virtual. “Não se concretizaram porque agimos e conversamos com os envolvidos”.

A irmã Maria do Carmo Lira,59, é a administradora do instituto e ainda acredita em uma boa conversa. “Eu sou do parecer do diálogo com a família. Eu vejo um novo modelo de família. Não tem mais pai e mãe. É o pai e a madrasta, a mãe e o namorado.  Chamamos desarranjo familiar. Como tudo é fragmentado, o computador entra com muita força na vida das famílias”.    

Na Escola Dom  Marcolino Dantas, onde estudam 420 alunos, a diretora irmã Maria do Socorro de Lima, 60, também é de acordo com o que disse a irmã Maria do Carmo. Para a diretora, os jovens não têm mais a referência da família. “Não existe estrutura. Quase todos não têm pai e mãe juntos. Os adolescentes trazem uma carga de conflitos dentro deles”. 

O colégio também tem um grupo:  Torcida do Dom Marcolino Dantas (DMD). Maria do Socorro disse que tem informações sobre a torcida, mas que o pior no colégio é   mesmo o bullyng. “Precisamos conversar com um aluno, na semana passada,  por causa desse assunto. É um  problema que leva tempo para solucionar. Um processo educativo de todos os dias”.

Polícia

O delegado geral da Polícia Civil, Elias Nobre, afirmou que já existe uma investigação em conjunto entre a Polícia e o Ministério Público para apurar as brigas de torcidas organizadas via internet. “O delegado José Roberto (da Delegacia Especializada em Homicídios) está à frente das investigações, juntamente com o promotor de justiça Fernando Vasconcelos.

Elias disse   que,  apesar da Polícia Civil ainda não ter uma delegacia especializada em crimes cibernéticos, o serviço de inteligência da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social possui profissionais especializados  no assunto. “O delegado Raimundo Rolim é do serviço de inteligência e também é analista de sistemas. É um policial preparado que atua na área”, completou.

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