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Traficantes produzem crack na favela Beira-Rio

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FLAGRANTE - Polícia apreendeu dois quilos de crack em fase de preparo e pacotes de bicarbonato

A polícia localizou na favela Beira-Rio, na Zona Oeste de Natal, uma “boca de fumo” onde a pasta base de cocaína era transformada em crack. Os agentes da Subsecretaria de Defesa Social, sob o comando do delegado Elivaldo Bezerra Jácome, chegaram ao local no momento que traficantes fabricavam o crack numa panela sobre o fogão. Mas apesar do cerco, dois homens e uma mulher acabaram fugindo pelo mangue do Rio Potengi. As recentes apreensões da polícia comprovam que os traficantes do RN se especializaram na fabricação de crack a partir da matéria-prima, a pasta base de cocaína.

A operação da Polícia Civil aconteceu na segunda-feira, depois que uma pessoa ligou para um agente informando anonimamente sobre a chegada da droga em um carro importado cinza escuro de placas CSM-7711/SP. “A pessoa colaborou conosco e chegamos até à boca quando a droga ainda estava no fogo. O crack é vendido em pedra, mas na panela estava derretido”, confirmou o delegado. Além dele, quatro agentes participaram da operação.

Os policiais entraram na favela, mas os traficantes tinham um caminho alternativo de fuga pelo mangue, numa área de difícil acesso. Apesar de deixar escapar os bandidos, a polícia identificou os traficantes como sendo a mulher e um filho do traficante Beira-Rio, atualmente detido na Penitenciária de Segurança Máxima de Alcaçuz, em Nísia Floresta. Além deles, a pessoa conhecida como “Nilsinho” seria o dono do carro.

Foram apreendidos dois quilos de crack em fase de preparo e vários pacotes de bicarbonato de sódio. Para produzir o crack, os traficantes contratam um “especialista” conhecido no submundo do crime como “cozinheiro”. Ele é encarregado de misturar a pasta base de cocaína ao bicarbonato de sódio e a pelo menos seis produtos químicos. A mistura faz um quilo de pasta base de cocaína render de 6 a 8 quilos de crack. A droga é misturada numa panela comum, em “banho-maria”, por vários minutos num fogão. O tempo da mistura é o grande “segredo” dos traficantes. Pessoas inexperientes, segundo a polícia, costumam “queimar a droga”. Em 2004, numa fazenda em Monte Alegre, agentes federais encontraram vários quilos de crack queimados. Naquela época, a polícia já tinha certeza que no RN haviam traficantes especializados na fabricação do crack, porque a polícia passou a apreender mais matéria prima para fabricar o crack, do que a droga pronta para o consumo.

A apreensão na favela Beira-Rio será encaminhada para abertura de inquérito na Delegacia de Narcóticos (Denarc). “Como os donos da droga foram identificados e a droga foi apreendida, é possível que a prisão deles seja pedida rapidamente”, disse o delegado Elivaldo Bezerra. O carro de “Nilsinho”, um Mercedez Classe A, foi apreendido.

Duas apreensões em dois dias

A ação da Polícia Civil aconteceu dois dias depois da apreensão de 3,6 quilos de pasta base de cocaína feita por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal (DRE). Eles prenderam no último sábado o acreano Jesus Rodrigues da Silva Júnior, 24 anos, com a droga de origem boliviana. O entorpecente entrou no País pelo Acre, foi transportado de avião até Brasília e depois veio, via aérea, para Natal. A pasta base de cocaína, depois de processada, renderia de seis a oito quilos de crack, cotado, em cerca de R$ 15 mil o quilo. A droga apreendida no último sábado tinha como destino o RN, CE e PB.

O chefe da DRE, delegado federal Gil Dutra, explicou que a investigação que resultou na prisão contou com a participação de policiais federais do Distrito Federal. “Nós recebemos a informação sobre a possibilidade de uma pessoa ter embarcado com a droga”, contou.

Os policiais monitoraram o suspeito no embarque em Brasília e na chegada do vôo 3574 da TAM no Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Parnamirim. A PF optou em seguir o acusado até o receptador da droga. 

Jesus Rodrigues foi seguido por policiais à paisana até o conjunto Cohabinal, em Parnamirm, onde ele ficou à espera do traficante. O delegado acredita que o receptador da droga ficou desconfiado e desistiu de pegar o carregamento. Os policiais esperaram vários minutos até decidirem abordar o suspeito.

A droga estava escondida na mala em três pacotes com pouco mais de um quilo cada. A pasta base de cocaína estava acondicionada em bexigas, para evitar sua localização por cães farejadores.

O delegado da DRE autuou o acusado no crime previsto no artigo 33 da nova Lei 11.343/2006, que trata do tráfico de drogas e prevê pena de reclusão de cinco a 15 anos e pagamento de 500 a 1.500  dias-multa. No decorrer do inquérito, a PF vai analisar a possibilidade do acusado ter cometido, também, o crime de associação para o tráfico. Jesus Rodrigues está detido na custódia da PF, em Lagoa Nova, à disposição da Justiça Federal.

Traficantes se especializaram

Em setembro, a TRIBUNA DO NORTE publicou reportagem em que um agente da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal confirmava, com base nas apreensões feitas nos últimos anos, que traficantes do RN se especializaram na transformação da pasta base de cocaína em crack. O subproduto da cocaína, que anos atrás vinha de outros estados, passou a ser produzido em larga escala no Estado.

Segundo os dados obtidos na DRE a quantidade de crack processado no estado é suficiente para abastecer todo o mercado local e outros estados. Prova disso é que na apreensão feita no último sábado, a PF informou que o crack que veio para Natal poderia ser vendido também na Paraíba e no Ceará.

Outros exemplos que provam essa tese são os “estouros” de laboratórios para a fabricação de crack feitos pela polícia no estado e as apreensões da pasta base de cocaína, que é matéria-prima para o entorpecente.

Há de se considerar ainda a hipótese da quantidade de droga apreendida ser bem menor que  aquela que chega às “bocas-de-fumo”. A estimativa é de que chegue ao RN cerca de 20 a 30 quilos de cocaína bruta por semana.

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