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Tragédia no Rio: desabamento, morte e nenhuma explicação

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Rio, 26 (AE) – O centro do Rio amanheceu hoje envolto por uma nuvem de poeira, após bombeiros terem virado a noite em busca de possíveis sobreviventes do desabamento de três prédios comerciais, na noite de ontem. Até o fim da tarde de hoje, quatro corpos tinham sido retirados da montanha de escombros que tomou a Avenida Treze de Maio e 22 pessoas continuavam desaparecidas. O desmoronamento mudou a rotina de muita gente. Ruas próximas da Cinelândia e do centro financeiro do Rio foram interditadas. Pessoas circulavam de máscara para se proteger da poeira que resultou da tragédia.
Os Bombeiros e a Defesa Civil interditaram toda a área próxima à avenida Treze de Maio, no Centro do Rio, onde aconteceu o desmoronamento. Alguns edifícios estão fechados
O primeiro corpo encontrado foi o de Celso Renato Cabral, de 44 anos. Ele estava abraçado a uma carteira de sala de aula e tinha um celular no bolso. O segundo corpo estava dilacerado, sem documentos. Cornélio Ribeiro Lopes, de 73 anos, foi identificado por parentes. O quarto corpo era de uma mulher, não identificado

Dos seis feridos na véspera, cinco foram liberados e uma mulher submetida a cirurgia reparadora no couro cabeludo continuava internada. O recém-reformado Theatro Municipal ganhou como paisagem de fundo uma parede de tijolos e uma montanha de toneladas de entulho. Nas drogarias próximas, máscaras de proteção esgotaram. A fina poeira causava irritação nos olhos.

Guardas municipais pediam aos pedestres que não ficassem por ali Motoristas eram aconselhados a acelerar. Com o passar do tempo, a esperança de encontrar vida no meio do entulho deu lugar à resignação. “As chances são muito baixas”, disse o comandante da Defesa Civil, o coronel Sérgio Simões. Na noite da tragédia, ele falara de bolsões de ar que poderiam fornecer oxigênio para soterrados.

Quando a reportagem chegou ao local do desabamento, poucos minutos após a tragédia, ainda não havia isolamento e mais de cem pessoas transitavam pelas imediações sem entender o que havia ocorrido. Uma espessa nuvem dificultava a visão da montanha que restou, e os bombeiros iniciavam o trabalho de busca. Havia cheiro de gás no ar e muitos carros encobertos pelo pó.

 Pessoas que trabalhavam nas imediações ou passavam por ali na hora do desabamento contavam o que tinham visto. “Estava levando um casal ao Rio Scenarium e o desabamento ocorreu bem na hora em que passávamos na Avenida Almirante Barroso. O carro não foi atingido, mas ficou coberto de pó”, contou o taxista Robson Pedro.

A Cinelândia e o Largo da Carioca foram ocupados por carros de imprensa e furgões de emissoras de TV. A PM isolou os dois locais para evitar o plantão de curiosos. A Câmara Municipal, onde foram reunidos parentes dos desaparecidos, foi cercada. Na Rua Senador Dantas, paralela à Treze de Maio, um prédio e onze lojas fecharam, mas a Defesa Civil negou qualquer interdição.

À tarde, quatro prédios na Avenida Almirante Barroso também foram esvaziados para facilitar o trânsito das equipes de resgate de corpos e remoção de escombros. Em meio ao caos e à fumaça, a população mostrava solidariedade. O dono do Galeto Liceu, André Tavares, abriu as portas mais cedo para servir água às equipes de resgate e cedeu o banheiro do estabelecimento para os socorristas. “Resolvi abri mais cedo depois que vi uma agente da Guarda Municipal passando muito mal com a fumaça. É minha forma de ajudar”, contou.

OPERAÇÃO

A tragédia que abalou o Rio mobilizou uma grande operação para resgatar sobreviventes, retirar corpos e remover milhares de toneladas de escombros dos três prédios na Avenida Treze de Maio, no Centro. Desde as 21h15 de ontem até a noite de ontem, uma equipe de 120 bombeiros e quatro cães farejadores – com experiência no resgate das vítimas do terremoto no Haiti em 2010 – procuravam por corpos e sobreviventes. Para viabilizar o resgate à noite, a Rioluz disponibilizou 20 homens, geradores, equipamentos de segurança e iluminação.

Até as 17 horas, a Companhia de Limpeza Urbana transportou 17 mil toneladas de escombros. Vinte minutos após os desabamentos dos três prédios, a Secretaria de Saúde do Estado já tinha um cadastro com 700 profissionais da área que poderiam ser mobilizados no caso de necessidade. Ontem, 40 agentes da Defesa Civil e Secretaria Municipal de Saúde contavam com quatro ambulâncias e quatro furgões para remoção de corpos. Equipes de assistentes sociais e psicólogos davam apoio às famílias das vítimas nos salões da Câmara dos Vereadores.

O governador Sérgio Cabral decretou luto oficial de três dias no Estado em memória das vítimas fatais dos desabamentos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro.

Conselho avalia possíveis causas

Rio de Janeiro – O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio de Janeiro, Sydnei Menezes, está perplexo com o desmoronamento dos três edifícios no centro do Rio. Segundo ele, não havia sinais de que as edificações pudessem cair. “O prédio não teve nenhum movimento pendular, não inclinou para fente ou para os lados. Ele simplesmente desmoronou e levou com ele os outros dois prédios. Houve uma ruptura violenta, um colapso fulminante da estrutura. Foi um fato inédito. A maneira como ocorreu, sob o ponto de vista técnico, é realmente assustador”.

Com relação às hipóteses mais prováveis para explicar o acidente, Sydnei Menezes considera que se a causa tivesse sido vazamento de gás, uma possibilidade praticamente descartada, haveria uma explosão muito violenta, com muito barulho, o que não ocorreu.

Quanto à possibilidade de uma reforma interna no prédio ter atingido alguma estrutura, tese defendida por engenheiros que acompanham o caso, ele preferiu ser cauteloso. “Quando se mexe nas estruturas de um prédio para reformas internas, a própria estrutura reage, dá sintomas de fadiga. Você vê, por exemplo, trincas, portas emperradas, janelas fora do prumo, vidros quebrados. Há todo um prenúncio dos sintomas de um colapso estrutural, e disso também não se tem registro”, explicou. Sidney Menezes alertou para o fato de que nem o CAU, nem o Crea têm registro de qualquer profissional técnico responsável por obras em algum dos no prédios que desabaram. “Se for constatada a existência de uma obra, ela estaria sendo feita fora dos procedimentos regulares e legais”.

Com relação a uma instabilidade do terreno onde os prédios foram construídos, uma área de charco que foi aterrada, o arquiteto explicou que a hipótese é improvável. “Os demais prédios do entorno não foram abalados, o próprio Theatro Municipal, que é uma obra de 1904 não sofreu nenhum abalo”.

Prefeito vai ao local e Dilma lamenta tragédia

Rio, (AE) – Assim como já fizera em outras tragédias no Estado, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), não compareceu ao local do desabamento dos três prédios na Avenida 13 de Maio, no Centro da capital fluminense no início dos trabalhos de resgate. Diferentemente do seu aliado, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB) – que na noite de ontem foi para o local pouco depois do colapso dos edifícios e hoje voltou às 6 horas para acompanhar a ação das equipes de bombeiros. O governador cancelou a agenda pública e se isolou no Palácio Guanabara. A atitude de Cabral provocou críticas de adversários e internautas, que cobraram, no Twitter, a presença do governador no epicentro da tragédia. Sérgio Cabral reagiu. Por e-mail, sua assessoria afirmou que, desde a noite de ontem, Cabral acompanha o trabalho de resgate. “Estamos trabalhando. Ainda resta a esperança de encontrar sobreviventes e, em última análise, resgatar corpos e, depois, retirar os escombros do que ficou”, disse.

A presidenta Dilma Rousseff manifestou solidariedade à população do Rio. “Gostaria de me solidarizar com o povo do Rio de Janeiro, principalmente com as famílias daquelas pessoas que foram atingidas por essa catástrofe, que foi a derrubada do edifício e depois a queda dos outros”, disse a presidenta que está em Porto Alegre, onde participa de um forum.

Homem liga para a noiva de debaixo dos escombros

“Oi, amor”, foram as únicas palavras que Fábio conseguiu dizer à sua noiva, Tatiana, em uma curta chamada telefônica das ruínas de um dos três prédios comerciais que desabou no centro do Rio de Janeiro, o que mantém acesas as esperanças de seus familiares de encontrá-lo vivo.

“Ele estava no prédio e às 3h chegou a falar com sua noiva por debaixo dos escombros. Por isso temos esperança”, contou Francisco Adir, 58 anos, pai de um amigo de Fábio. Tatiana ficou sem palavras e, chorando, se jogou nos braços de uma amiga. Enquanto isso, continua a longa espera por notícias das equipes de resgate.

Pelo menos 12 pessoas estão desaparecidas. Os trabalhos de busca com máquinas pesadas são realizados de maneira ininterrupta desde a noite de quarta-feira, quando três construções de 20, 10 e quatro andares desabaram por motivos ainda desconhecidos. Os prédios estavam localizados próximos à Cinelândia, no centro histórico da cidade, onde também está o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No local, familiares aguardavam notícias de seus desaparecidos. Alguns, desconsolados, foram ao Instituto Médico Legal.

Dezenas de curiosos se concentraram na área para fotografar os destroços, de onde sai uma poeira escura. Sobre as ruínas caminhavam os bombeiros com seus cães, enquanto as retroescavadeiras retiravam escombros.

Elevador salvou a vida de operário da obra

No Hospital Souza Aguiar, onde é realizado o atendimento aos feridos, Alexandro da Silva Fonseca Santos, de 31 anos, recebeu alta. Ele estava dentro do elevador do prédio maior na hora da tragédia. “Foi horrível, não sei como tive discernimento de voltar para o elevador. Foi o que me salvou. Quando eu vi aquilo tudo caindo eu falei: vou morrer.” Mas Alexandro não sofreu nenhum ferimento. “Eu estava no térreo e ia para o nono. Quando a porta se abriu, eu vi o prédio se esfacelando. Aí voltei para o elevador de novo e ele despencou, de porta aberta. Aí parou entre o 4º e 3º andar estacionado. A sorte é que estava com aparelho de celular no bolso, liguei pro meu compadre que tava do lado de fora. Ele falou: fica calmo que o bombeiro vai chegar, vai te pegar”, conta.

Cláudio de Taunay também foi salvo por pouco. Às 21h ele se preparava para deixar seu escritório, no 16º andar do Edifício Capital, quando ouviu um estrondo no edifício ao lado. “Achei que algum avião havia se chocado com o prédio”, disse o advogado. Naquele instante, a construção havia acabado de desabar. Cláudio e seus colegas tentaram descer pelas escadas, mas no 7º andar encontraram uma montanha de entulhos impedia a descida. O grupo, então, resolveu subir de volta para a cobertura e esperar o resgate. “Daí para a frente foi um alívio. Nasci de novo.”

Jovem saiu do prédio apenas meia hora antes

Na noite de quarta-feira, Leonardo Franco deixou o edifício onde trabalhava no centro do Rio meia hora antes dele desabar. Assim que chegou em casa, ligou a TV e viu o buraco no lugar onde estaria o prédio. “Foi coisa de minutos, eu podia estar lá”, diz o carioca que afirma ter nascido novamente. “Se fosse em horário comercial, teria sido uma catástrofe gigantesca. Cerca de 200 pessoas trabalham naquele prédio.” Franco costumava ser o último a sair do escritório e ficar até o horário do prédio fechar, às 20h. Na quarta-feira, saiu meia hora antes.

Futebol semanal salva empresário e sócio da morte

O empresário Gustavo Gomes e dois sócios abriram uma empresa de marketing digital, há cinco meses, em um dos prédios que desabou. Ele, um sócio e um funcionário resolveram sair mais cedo do edifício número 44 da avenida Treze de Maio, no centro do Rio. “Quarta-feira é o dia que eu jogo futebol e saí de lá por volta de 18h45. Mas normalmente ficamos trabalhando até perto das 21h. Foi muita sorte.” Sem seguro, Gustavo não quis revelar o valor do investimento, mas já começa a contabilizar os prejuízos. “Perdemos tudo, nem sei como recomeçar”.

Filha de vítima foi informada pelo celular do pai

A filha do porteiro de um dos prédios que desabaram no Centro do Rio de Janeiro na noite da última quarta-feira, Sandra Maria Ribeiro soube do acidente quando recebeu uma ligação do bombeiro que encontrou o celular de Cornélio Ribeiro Lopes, 73 anos, no bolso da vítima, um dos mortos no desmoronamento. Segundo ela, entre os 18 desaparecidos está Margarida Carvalho, atual mulher de Lopes. Sandra informou que o pai morava no prédio em que trabalhava, acompanhado de Margarida Ribeiro.

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