O clima é tenso. O passageiro não sabe se entra no alternativo, estacionado e sem perspectivas de sair do lugar, ou se desiste e simplesmente aguarda o ônibus, que não se sabe quando vai passar. Na dúvida, ele sobe no opcional, mas fica de olho na chegada do coletivo. Quando o avista ao longe, se levanta para descer e trocar de transporte. Porém o motorista da van também percebeu a aproximação do concorrente e chama o cobrador, que gritava o trajeto em meio à multidão. Este, com um salto, chega ao veículo e o condutor dispara, ainda de porta aberta, antes que o ônibus tranque sua passagem.
Essa situação é comum todo início de noite, na parada em frente ao Natal Shopping, para quem precisa chegar a bairros como Eucaliptos e Nova Parnamirim, e vem se transformando em uma disputa cheia de riscos, envolvendo alternativos e ônibus. Não bastasse a demora dos opcionais para sair e dos coletivos para chegar, a população ainda se submete a perigos como o de desembarcar no meio da pista, passar em frente aos carros, ou enfrentar as pequenas colisões que têm se tornado constantes no local.
A Secretaria de Trânsito e Transporte Urbano (STTU) reconhece o problema, mas admite as dificuldades em solucioná-lo. “Já teve confusão entre motoristas de vans e dos ônibus, quase chegaram às vias de fato. Também houve casos de fiscais nossos serem agredidos”, aponta o chefe do setor de Fiscalização, André Luiz de Medeiros. A solução seria um “reescalonamento” da parada, voltando a dividir os espaços para os transportes urbanos e interurbanos. “Já pedi um estudo à secretaria, mas sabemos que a falta de espaço é uma dificuldade.”
O problema se agravou quando a STTU definiu que todos transportes interurbanos deveriam parar em frente ao Carrefour. No entanto, abriu-se a possibilidade dos coletivos de Nova Parnamirim e Eucaliptos utilizarem a parada sob a passarela. Aos poucos, os alternativos também abandonaram o antigo ponto e passaram a usar o do Shopping.
Após muitas multas, alguns permissionários conseguiram liminares garantindo o uso da parada na passarela. A STTU decidiu, então, autorizar extra-oficialmente que todos os opcionais de Nova Parnamirim e Eucaliptos fizessem ponto no local. “Pode até parar, agora o que não pode é fazer de terminal”, diz.
Passageiros pedem maior fiscalização
Os usuários criticam a situação caótica em que se transforma o local no início da noite, mesmo assim alguns defendem o direito dos permissionários. “Cadê as promessas dos ônibus que iriam rodar a noite inteira. Acho que as vans são muito mais fiscalizadas que os ônibus. Todos têm direito a ganhar o pão, mas os alternativos são pequenos e as empresas são muito grandes”, afirmou um passageiro que se identificou apenas como Miguel.
Já para o consultor José Cosme, falta maior atenção do poder público. “Deveria ocorrer mais fiscalização, principalmente dos interurbanos, que fazem Nova Parnamirim e Eucaliptos. Além desse problema aqui na parada, essa concorrência desleal, tem ainda o de que eles muitas vezes se limitam a fazer apenas metade do percurso, ou mudam o trajeto”, afirmou.
Os passageiros, no entanto, não são os únicos prejudicados. Motoristas obrigados a passarem pelo local no início da noite também sofrem com a situação. Como os alternativos tomam boa parte do espaço da parada, às vezes enfileirando até quatro veículos ao mesmo tempo, alguns ônibus terminam parando em fila dupla. Isso obriga quem desembarca a se arriscar entre as vans e ainda provoca congestionamentos.
Multa para opcionais é de R$ 358,00
Parar em frente ao Natal Shopping pode custar caro ao proprietário do alternativo. Exatamente R$ 358,00. “Esse é o valor que pagamos por uma multa ali”, revela o presidente do Sindicato dos Transportes Opcionais de Médio Porte (Sintra), Moisaniel Almeida. A entidade representa os 19 alternativos que fazem as linhas Nova Parnamirim (12) e Eucaliptos (7) e vem lutando por um tratamento igual ao dado às empresas de ônibus.
“Colocaram todos interurbanos lá para a frente do Carrefour, depois permitiram que os ônibus voltassem ao Natal Shopping, onde fica 95% do fluxo. Quem iria querer pegar um ônibus 200 metros na frente, ninguém”, observa Moisaniel. Por isso mesmo, os permissionários começaram a “burlar” a proibição e também usar a parada sob a passarela. Depois de enfrentarem muitos problemas com os fiscais da STTU, alguns resolveram entrar na Justiça e, pelo menos três, já teriam conseguido liminares.
“Não queremos ser favorecidos, só queremos um tratamento igualitário. Se você é parte do sistema, tem esse direito”, enfatizou o representante dos donos das vans.
Ele lembrou do transtorno semelhante enfrentando na parada do Alecrim, em frente ao Banco Bradesco, na avenida Presidente Bandeira, e reconheceu o perigo que a situação vem provocando a todos os envolvidos, nos dois locais: “Tá uma confusão desgraçada.”
Moisaniel Almeida admite ainda que o maior erro dos motoristas de alternativos está em permanecerem parados por muito tempo na parada do Natal Shopping. “Realmente existe esse abuso por parte de alguns colegas e isso deve ser evitado”, declara.
