sexta-feira, 29 de março, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

Trincheira de Luta

- Publicidade -

Ticiano Duarte – jornalista

José Freitas Nobre era cearense, mas foi em São Paulo que ele como político e jornalista pontificou, representando o povo paulista no Congresso Nacional, presidindo o sindicato dos jornalistas daquele Estado, lecionando na USP, nos cursos de graduação, mestrado e doutorado, na área de comunicação social.

Antes do movimento militar que tomou o poder, em 1964, Freitas Nobre foi vereador pelo antigo Partido Socialista Brasileiro, PSB, vice-prefeito da cidade, no governo de Prestes Maia. Exerceu muitos mandatos legislativos na Câmara Federal, a partir de 1970, pelo MDB, líder da sua bancada, enfrentando a luta contra o regime militar, denunciando a censura que o governo de então implantara em todo pais, sobretudo nos jornais de maior circulação no eixo Rio-São Paulo.

Tenho em mãos e releio agora, um dos seus discursos publicado em livro, “Debates sobre problemas brasileiros”, editado no ano de 1973. Ele denuncia a pressão do governo sobre os jornais da época, citando Diderot, em certa fase da França: “cobrí, senhor, todas vossas fronteiras de soldados; armai-os de baionetas para impedir a entrada dos livros inconvenientes e estes livros passarão sobre as pernas ou soltarão sobre suas cabeças e chegarão até nós”.

Ele queria dizer com isso que apesar de todo rigor imposto pelos censores, os jornais driblavam seus agentes instalados nas redações: “Quando um jornalista da coragem de um Ruy Mesquita é ouvido em sindicância ou inquérito por ter publicado matéria que desagrada o governo, a notícia do seu interrogatório não pode sair em “O Estado de São Paulo”, mas driblando o censor, acaba saindo numa nota em poucas linhas do “Jornal do Brasil”…

Nesse seu discurso na Câmara Federal, nos tempos de chumbo, trata da censura oficial em todo país, não só aplicada nas grandes cidades do sul, mas, até em Natal, com a tentativa de fechamento de jornal e perseguição a jornalista, enquadrando-o na Lei de Segurança Nacional.

Dizia ele, “Além de fechamento de jornal sem qualquer procedimento na justiça, (como ocorreu com o jornal de Porto Velho no ano passado), ou a apreensão de edição de diário (como verificado com o “Estado de São Paulo”, ou de uma revista “Veja” ou o processo crime com base na Lei de Segurança Nacional e não na Lei de Informação (legislação específica para os delitos de opinião já preparada e sancionada no atual ciclo), de que são exemplos os procedimentos promovidos contra o editor-chefe da “Tribuna do Norte de Natal”, citando ainda outras violências, na Bahia e na cidade de Santos.

Aliás, o processo contra a “Tribuna do Norte”, movido pelo governo estadual da época, representando a ditadura em nosso Estado, foi julgado pela justiça militar, Conselho Permanente da Marinha, por unanimidade, como injustificável, por não se tratar de crime contra a segurança e, se por acaso existisse delito ou infração teria que ser tratado pela justiça comum, com base na Lei de Informação ou Lei de Imprensa.

São recordações de uma fase negra de nossa vida política, mas é gratificante relembrá-las, porque orgulham a todos que se envolveram na luta pela liberdade de imprensa.

Freitas Nobre foi um paladino em defesa da democracia e da liberdade de expressão. Dizia ele, citando André Gide: “A censura é um pouco como o diabo, invisivelmente porque um diabo não precisa provar sua existência para existir”.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas