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TSE vai apurar envolvimento de Lula

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ALIADO - Oswaldo Bargas foi um dos petistas que sondaram a revista Época

Brasília (AE) – O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Cesar Rocha, decidiu abrir ontem uma investigação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o ex-assessor da Presidência Freud Godoy, o empresário Valdebran Padilha e o advogado Gedimar Passos. Aberta a pedido da coligação formada por PSDB e PFL, a investigação tem o objetivo de apurar a suposta participação de cada um no episódio do dossiê Vedoin. Se ficar comprovado o envolvimento de Lula, o presidente poderá até ser declarado inelegível.

Em despacho de apenas quatro páginas, o corregedor determinou à Polícia Federal que realize perícia em dez dias no “numerário encontrado, especialmente as divisas norte-americanas, inclusive quanto a sua numeração, para saber de sua proveniência e época de confecção”. No dia 15, foram apreendidos com Padilha e Passos US$ 248,8 mil e R$ 1,168 milhão. Há evidências de que o dinheiro seria usado para comprar fotos e documentos que supostamente vinculariam tucanos ao esquema sanguessuga.

“Tenho, pelo menos nessa primeira análise, por inegável a repercussão dos fatos narrados na inicial no processo eleitoral em curso”, afirmou o corregedor, que mandou notificar Lula, Thomaz Bastos, Berzoini, Freud, Padilha e Passos, que a partir de agora já podem apresentar defesa. Além da perícia no dinheiro apreendido, Rocha pediu cópia integral do inquérito policial relativo ao episódio. O corregedor também determinou à Polícia Federal que mantenha o TSE informado sobre o resultado das diligências e investigações.

No pedido protocolado anteontem no TSE, o PSDB e o PFL acusam os petistas de abuso de poder político e econômico. Segundo a coligação, Thomaz Bastos teria agido para que fosse dado tratamento privilegiado aos interesses eleitorais de Lula em detrimento de Alckmin. Na opinião da coligação, a PF teria agido de forma parcial e dado tratamento privilegiado a Lula ao não permitir imagens do dinheiro apreendido.

A coligação argumenta que Berzoini, Padilha e Passos teriam atuado para obter o material do dossiê. De acordo com a coligação, Lula seria, “no mínimo, beneficiário das condutas dos demais”. “No entanto, o envolvimento de membro de sua Secretaria Particular, ao que se diz de seu guarda-costas Freud Godoy, denota o seu possível envolvimento pessoal”, sustenta a coligação.

Ontem, o vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse que a Comissão também vai apurar o caso. Ele quer convocar Oswaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho e responsável pelo capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo da candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dependendo do depoimento de Bargas, Jungmann disse que poderá pedir a convocação do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), para dar explicações à comissão de inquérito sobre o dossiê anti-serra.

Berzoini admite que sabia de encontro com a Época

Brasília (AE) – O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), admitiu ontem no início da noite ter sido informado de que um integrante da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia procurado a revista ‘Época’ para tratar de uma pauta de interesse jornalístico. De acordo com a revista, foi para oferecer uma denúncia contra José Serra, candidato pelo PSDB ao governo de São Paulo, e contra o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, atual prefeito de Piracicaba. O esclarecimento de Berzoini foi feito por intermédio de nota oficial.

O integrante da campanha de Lula que procurou a revista foi Oswaldo Bargas, responsável pelo setor de Trabalho e Emprego do programa de governo da reeleição de Lula. No esclarecimento, Berzoini, no entanto, não cita o nome de Bargas em nenhum momento. Ele é ex-secretário do Ministério do Trabalho.

Ainda conforme a ‘Época’, a reunião da revista com o integrante da campanha foi marcada para o dia 6 de setembro, no Hotel Crowne Plaza, em São Paulo. Bargas apareceu acompanhado de Jorge Lorenzetti, que até ontem chefiava a assessoria de risco e mídia da campanha de Lula, conhecida também por Abin do PT.

Conforme a ‘Época’, Bargas afirmou que tinha denúncias sérias contra políticos de renome. E que elas seriam suficientes para desmoralizar José Serra e o prefeito de Piracicaba. Ainda de acordo com a revista, Bargas e Lorenzetti disseram várias vezes que a reunião nada tinha a ver com o PT nem com o governo. O encontro, segundo eles, servia apenas para sondar o interesse da revista nas denúncias.

Bargas disse que Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo pelo PT, não sabia de nada. E que do PT apenas Berzoini tinha conhecimento de que ele tinha procurado a revista.

As denúncias acabaram não vingando porque, de acordo a nota da ‘Época’, Bargas telefonou no mesmo dia do encontro para avisar que a pessoa interessada na denúncia contra Serra e Barjas Negri havia desistido de fazê-la. Uma semana depois a revista ‘IstoÉ’ publicou entrevista com Darci e Luiz Antonio Vedoin, donos da Planan, com denúncias contra Serra e Barjas Negri.

Berzoini diz ainda,  na nota divulgada ontem, que não teve conhecimento do que foi tratado entre os dois petistas e o repórter da revista Época, mas ressalta: “Jamais tive ciência do conteúdo abordado nesse encontro, conforme reproduzido fielmente pelo site da revista”, afirmou no texto.

Thomaz Bastos explica posição defensiva da PF

Rio (AE) – Ao reagir ontem às queixas sobre a negativa da Polícia Federal de exibir o dinheiro apreendido com os presos suspeitos de negociar um dossiê com supostas denúncias contra os candidatos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra, o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos disse que a oposição demonstra um desejo incontrolável de explorar politicamente o fato e que não permitirá que a PF seja subordinada a interesses eleitorais.

“O que se quer é gerar imagens para prejudicar claramente a candidatura do presidente Lula, que está com 50% dos votos”, justificou o ministro, no Rio, depois da abertura da 75º Assembléia Geral da Interpol, no Forte de Copacabana.  Para o ministro, é preciso separar a apuração do caso do calendário eleitoral.

Juiz rejeita prisão de Freud e liberta três

Cuiabá (AE) – O juiz da 2ª Vara Federal do Mato Grosso, Marcos Alves Tavares, negou ontem o pedido de prisão do assessor especial da Presidência, Freud Godoy, demitido do cargo por envolvimento com a compra de dossiê. Independente de Freud ter culpa ou não no episódio, o juiz entendeu que prisão, solicitada pelo Ministério Público Federal, só cabe quando é imprescindível à investigação e o acusado tem residência fixa e se apresentou espontaneamente à polícia.

Conforme o juiz deixou claro no despacho, o pedido de prisão de Freud será reavaliado se, em algum momento, ficar demonstrada a necessidade de acareação entre ele e os demais envolvidos. Mas essa hipótese ficou remota porque, ontem mesmo, Tavares mandou soltar o empresário Paulo Roberto Trevisan, tio do dono da Planam, Luiz Vedoin, principal operador do esquema dos sanguessugas. O juiz mandou soltar também os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, presos num hotel em São Paulo com R$ 1,75 milhão.

PF busca origem de dinheiro

Cuiabá (AE) – A Polícia Federal deu início ontem a uma missão para tentar chegar à origem do dinheiro que um núcleo petista, até agora parcialmente identificado, iria usar para compra e distribuição do dossiê que atribui aos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin supostas ligações com a máfia dos sanguessugas. Em Cuiabá, São Paulo e Brasília, equipes policiais começaram a percorrer casas de câmbio, escritórios de doleiros e factorings no rastro de pistas sobre as notas em série – com dois suspeitos, capturados na madrugada de sexta-feira no Hotel Ibis, próximo ao Aeroporto de Congonhas, foram recolhidos US$ 248 mil e R$ 1,16 milhão em dinheiro vivo.

A estrutura e a logística do grupo petista impressionou até os policiais mais tarimbados em investigações dessa natureza. “Temos que descobrir dentro da hierarquia desse grupo de onde veio tanto dinheiro”, disse o delegado. “A operação foi toda compartimentada, cada um teve uma participação decisiva na montagem do negócio.” A PF está convencida de que a soma foi resgatada “pelo baixo escalão da organização”.

Querem melar a eleição, afirma Lula

Nova York (AE) – Sem esconder o aborrecimento com a nova crise que tomou conta de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem a oposição de querer “melar” a eleição no Brasil ao tentar associá-lo ao escândalo do dossiê Vedoin. Nos corredores da Organização das Nações Unidas (ONU), onde abriu os debates da 61.ª Assembléia-Geral, Lula repetiu duas vezes que acha “abominável” a prática de montar dossiês contra rivais, disse que seus adversários querem “criar confusão” e sugeriu que “eles” são golpistas por não se conformarem com um provável segundo mandato do PT. 

“A quem interessa, nesta altura do campeonato, melar o processo eleitoral”, questionou o presidente, ao lembrar que está a 12 dias da eleição e em situação “altamente favorável”. “Por que haveria alguém que quer me ajudar de fazer um ato insano desses?”, perguntou. Embora sem mencionar o nome, Lula se referia a Freud Godoy, seu assessor especial no Planalto que acabou defenestrado após ser acusado de intermediar a compra, por R$ 1,7 milhão, de um dossiê ligando os candidatos do PSDB ao governo paulista, José Serra, e à Presidência, Geraldo Alckmin, à máfia dos sanguessugas.

O dossiê foi montado por Luiz Antônio Vedoin, um dos sócios da Planam, empresa que vendia ambulâncias superfaturadas para prefeituras e contava com a ajuda de parlamentares para inflar emendas ao Orçamento. Lula respondeu a apenas uma pergunta dos jornalistas, na ONU, antes de se dirigir à cerimônia para receber o prêmio “Estadista do Ano” de 2006, que lhe foi concedido pela Appeal of Conscience Foundation (Fundação Apelo da Consciência). Parecia querer mandar um recado. Quando os jornalistas quiseram saber a quem se referia quando falava em “melar o jogo”, virou as costas e foi embora, encerrando a entrevista.

Houve empurra-empurra entre repórteres e seguranças da ONU.  Ao falar sobre a tentativa da oposição de atrapalhar o processo eleitoral, fez uma analogia com uma partida de futebol. “Eu, de vez em quando, fico vendo as notícias e fico lembrando de um goleiro chileno que, na disputa final com o Brasil, finge que está machucado para tentar melar o jogo. Graças a Deus as investigações mostraram que ele estava fingindo”, comparou o presidente. 

Sempre se referindo aos opositores do PSDB e do PFL como “eles”, Lula disse que os adversários querem impedir a sua reeleição a qualquer custo e, por isso, fazem acusações infundadas. “Faz mais ou menos dois anos que eles querem que eu não participe da reeleição. Faz dois anos que eles dizem que não vão permitir, faz dois anos que eles tentam criar todo tipo de confusão para evitar que o nosso governo tenha o resultado que está tendo”, comentou. Na ONU, Lula reiterou que mandou apurar as denúncias e aguarda os resultados do trabalho da Polícia Federal. “A mim, como presidente da República, só cabe fazer uma coisa: investigar a fundo quem estiver envolvido, doa a quem doer. Eu acho que as pessoas que praticaram coisas ilícitas têm de pagar”, disse.

Tarso Genro sugere que ex-assessor pode retornar

Brasília (AE) – O chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Tarso Genro, sugeriu ontem que o ex-assessor especial da Secretaria Particular da Presidência Freud Godoy poderá retornar ao cargo, caso seja provado que ele não teve participação na dossiê contra candidatos tucanos. Ao defender o governo de qualquer envolvimento na elaboração e venda de dossiês, Genro sinalizou que poderiam existir informações que inocentem Godoy.

“Quero dizer que vocês devem estar se precipitando, fazendo julgamento prematuro. Esperem a apuração. Não julguem e executem antes qualquer pessoa porque a Polícia Federal (PF) vai aprofundar as investigações e os responsáveis serão identificados e punidos”, disse, acrescentando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ordens à PF para que faça a mais “rigorosa” investigação. “Freud, que é funcionário comissionado do governo, vai permanecer demitido enquanto não se esclarecer, completamente, se ele teve ou não algum tipo de papel nesse episódio”, comentou.

Sobre se afirmava que a saída de Godoy seria temporária, respondeu: “Não estou dizendo que a saída seja temporária. O que pode ocorrer é se chegar ao final do processo e verificar que foi um engano a acusação contra ele – e ontem já houve uma acareação sobre isso -; evidentemente, isso será reexaminado.” Mas avisou que “a postura do presidente a respeito deste servidor é esta: ele deve ficar à disposição da PF, para prestar todos os esclarecimentos e colaborar com as investigações”.

Ontem, o “Diário Oficial” da União (DOU) publicou a exoneração, a pedido, da função. A portaria de exoneração foi assinada pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, sobre se o ex-assessor especial da Secretaria Particular da Presidência da República, por ter uma íntima relação com Lula, para quem trabalha há mais de 20 anos, não faria nada sem autorização dele, respondeu: “Absolutamente. O Freud é uma pessoa que trabalhava numa estrutura próxima ao presidente, nunca participou de reunião do governo, não tem qualquer discussão política com o presidente”disse.

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