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Tudo sempre igual

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Rubens Lemos Filho
Para anestesiar a melancolia  natalina incurável, os adultos me consolavam com a proximidade do réveillon. Em uma semana, Ano Novo, tudo novo, alegria, realizações plenas, felicidade. Desconfiei da conversa quando recebi de uma quase namoradinha de escola o cartão de Natal, ainda com Papai Noel no desenho: “Que o próximo ano, seja de muitas esperanças para você.”
Essa mensagem chegou quando eu beirava os 15 anos de idade e me irritou. “Quero lá esperança! Quero mudança pra melhor!”. Me dei razão. Esperança é sonho e sonho se sonha dormindo. Esperança é o que se sente 365 dias na vã expectativa de que o tempo seguinte seja de positividade pragmática, que quer dizer alegria em atos, não em pensamentos.

Fui sincero. Falei  à remetente que ela fosse mais atenta, para não dizer  obtusa, termo bem mais adequado à sua capacidade intelectual.”Esperança é uma coisa tão bonita,” ainda insistiu, eu de cartãozinho na mão, logo despachado para a primeira caixinha de entulhos da casa de minha avó.

As duas semanas finais de todo ano são alucinógenas, tóxicas. Maltratam o espírito. Ano Novo, vida nova, é cascata, ou pelo menos sempre foi nas minhas imediações.

Durmo no dia 31 à noite, cedo, para, na manhã seguinte,  encontrar o mesmo travesseiro amarrotado. Nada novo. A hipertensão e o diabetes estão aqui, cautelosamente controlados, mas não vão embora pelo fato de 2022 estar começando exatamente neste domingo.

Vou olhar pela janela e observar o mesmo e asfixiante cinza de todos os domingos de qualquer ano. O silêncio e o movimento lento e lerdo dos carros que ousam deixar suas garagens, guiados por homens e mulheres compenetrados e confiantes no futuro próximo porque afinal vestiram branco noite passada. O branco que pode ser do babalorixá, do espírita, do defunto bem arrumado para a ultima viagem(para onde?).

O domingo, e hoje, centro batido do ano que chega será sempre igual, termina para mim pouco depois da uma da tarde. Quando o sol começa a se despedir, vem aquele ardor  dolente de  solidão. Nada cura. A imensidão em concreto dos edifícios e os fiapos da floresta que ainda luta para agasalhar o bairro são o desenho coerente do real e do ilusório das noites passadas proximamente.

No Ano Novo não há assim uma canção definitiva. No Natal, repete-se até quebrar se for um disco de vinil, aquela música com Simone. “Então é Natal”, com versinhos bem medíocres e óbvios, porque o óbvio por natureza é medíocre: “Então bom Natal/E um Ano Novo também/Que seja feliz quem/

Souber o que é o bem”.

Quem sabe, de verdade, o que é o bem? É aquele amontoado de esmoleres nas imediações da Rua Mermoz, pertinho do Viaduto do Baldo?

Aquilo é o bem? E ainda espantam os miseráveis que o clima natalino e de Ano Novo tampouco dispensa do carimbo de nulidades, indigentes, espectros sociais, invisíveis em seus mantos rotos, surrados, malcheirosos. O Ano Novo deles foi o do ano passado, retrasado e será o do próximo 1º de janeiro.

Não há espírito de cooperação, união, amor e solidariedade nos hospitais públicos, onde se preparam à morte os infelizes que, de prêmio, ganham a transformação em estatística macabra nas doenças transmitidas pela falta de socorro e a própria ignorância.

O Ano Novo também deles? Entrou pela perna de um pinto, saiu pela perna de um pato e quem quiser que conte mais quatro. Lorotas usando Deus como pretexto.

Arquive suas esperanças e espere os retornos de sua fé, seja ela qual for, do terço ao tambor. Ouça as homilias cujo resultado prático e verborrágico se repete, como o calendário de folhinhas caindo, uma a uma, a cada 24 horas em que as seguintes são as mesmas, sem nada de novo.

Experimente molhar os pés no mar. É um impulso sempre novo. Os sargaços da alma são expulsos. Mesmo que voltem, o sal e a imensidão do oceano tratam de amenizar a verdade que estabelece tudo sempre igual.

Cinco jogos
No dia 2 de janeiro de 1966 – há exatos 56 anos -, o ABC venceu o Alecrim por 2×0 e conquistou o campeonato de 1965, gols de Dão e Macrino para 4 mil torcedores no Estádio Juvenal Lamartine.

Maratona

O Alecrim era favorito, tentava o tricampeonato e deixou o ABC chegar. Foram seis jogos consecutivos até sair o campeão.

Cinquentenário

O título correspondeu ao troféu do Cinquentenário alvinegro.

Times

O ABC ganhou a  final com Erivan; Papagaio, Piaba, Gaspar e Otávio(Zagueirão); Amigo e Caçote; Rômulo Dias, Macrino, Dão e Burunga, como ex-goleiro Ribamar de técnico. Alecrim: Biro; Ivo, Orlando, Berilo Castro e Jácio; Hélio e João Paulo; Oziel Lago, Petinha, Paulo Geladeira e Capiba. Técnico:Tarcísio.

Ano Novo

Que não seja mera repetição de clichês e tenha, nos humildes, seus protagonistas. Menos desigualdade. Não sei como alguém se sente bem numa mansão sabendo que outra pessoa dorme na rua.

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