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Turbulência no quintal de casa

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Darcy Crowe – Dow Jones Newswires

Bogotá (AE) – Faltam apenas duas semanas para que Juan Manuel Santos seja empossado presidente da Colômbia, mas ele já está diante de um de seus mais complicados desafios: as explosivas relações diplomáticas com a Venezuela do presidente Hugo Chávez. O presidente em fim de mandato da Colômbia, Alvaro Uribe, deixa para Santos um legado de melhora no setor de segurança e níveis recordes de investimento estrangeiro no país. Mas, de quebra, Santos herdará um histórico de confrontação com Chávez com ares de telenovela, repleto de mútuos insultos infantis, acusações de traição e denúncias de beligerância alheia.

Os problemas entre Uribe e Chávez ganharam novo capítulo na última quinta-feira, quando o líder venezuelano anunciou o rompimento das relações diplomáticas entre Caracas e Bogotá e deu aos diplomatas colombianos 72 horas para deixar a Venezuela. A decisão de Chávez veio à tona apenas algumas horas depois de a Colômbia ter denunciado a Venezuela perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) por supostamente tolerar em seu território, perto da fronteira compartilhada entre os dois países, a presença de aproximadamente 1.500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), entre os quais estariam importantes líderes do movimento armado. Para Santos, o rompimento das relações representa um desafio a seus planos para a economia e para a segurança da Colômbia.

Ao longo do último ano, os exportadores colombianos perderam bilhões de dólares por conta da deterioração das relações entre Bogotá e Caracas. Em 2009, Chávez congelou as relações comerciais bilaterais depois de a Colômbia ter anunciado um acordo com os Estados Unidos para instalação de bases militares em seu território. O congelamento levou a uma redução de 70% das exportações colombianas à Venezuela, até então o segundo maior parceiro comercial da Colômbia, atrás apenas dos Estados Unidos.

Santos tinha a esperança de que um relacionamento mais próximo com Caracas viesse a beneficiar os exportadores colombianos, o que refletiria no crescimento econômico do país. Assim como Uribe, ele deseja a ajuda venezuelana no combate às Farc. Alguns analistas acreditam que o contingente do grupo guerrilheiro chegue a 8.000 homens. Segundo a denúncia apresentada pela Colômbia perante a OEA, cerca de 1.500 deles estariam escondidos na Venezuela.

“Nos últimos três anos, Uribe tentou confrontar a Venezuela por esta não colaborar com o combate às Farc”, observa Laura Gil, uma analista política estabelecida em Bogotá. “Isto não rendeu a ele (Uribe) nenhum resultado. Portanto, Santos tentará uma nova abordagem e deseja boas relações diplomáticas”, avalia ela.

Em visita ao México quando Chávez anunciou o rompimento das relações, Santos declarou que “a melhor contribuição a ser feita é não comentar” o episódio.

O mais recente atrito diplomático não irá necessariamente sabotar os esforços de Santos, uma vez que os laços entre os dois país já estavam estremecidos antes e Chávez tem manifestado a esperança de uma melhora da situação depois que Uribe deixar o poder. E apesar de Chávez ter ordenado “alerta máximo” na fronteira e qualificado Uribe como uma “ameaça à paz”, a maior parte dos especialistas acredita ser pouco provável que as desavenças venham a resultar em um conflito armado.

É improvável que este atrito “transforme-se num conflito militar aberto entre as duas nações”, escreve Alberto Ramos, um economista do banco Goldman Sachs, em um relatório no qual aborda a crise diplomática entre Bogotá e Caracas.

Laura Gil acredita que o verdadeiro desafio para Santos será restabelecer e manter relações diplomáticas normais com a Venezuela, tarefa esta que talvez seja praticamente impossível dadas as profundas divergências ideológicas entre os dois.

Eleito manterá laços militares com os EUA

Filho de uma rica e influente família de Bogotá, Juan Manuel Santos personifica de diversas formas os “oligarcas” que Chávez e seus correligionários socialistas consideram inimigos. Graduado em Harvard e na London School of Economics, Santos defende ideias de livre mercado desprezadas por Chávez. E uma vez que Santos considera-se um pragmático, ele deseja continuar reforçando os laços econômicos e militares com os Estados Unidos, o que provavelmente descontentará Chávez, que acusa Bogotá de trabalhar em conjunto com Washington com o objetivo de derrubar seu governo.

Santos já foi alvo das críticas de Chávez no passado, tanto durante a campanha à presidência colombiana quanto na época em que trabalhou como ministro da Defesa de Uribe.

As potenciais tensões entre Chávez e Santos não escaparam à percepção do ex-jogador e atual técnico da seleção argentina de futebol, Diego Armando Maradona. Ao lado do Chávez no momento em que este anunciou o rompimento das relações com a Colômbia, Maradona perguntou ao líder venezuelano: “Mas o Santos não é igual ao Uribe?”

Chávez admitiu que já teve desentendimentos com Santos no passado, mas disse ter esperança de que as relações melhorem com ele na presidência na colombiana: “Sejamos otimistas. Esperamos que as relações possam ser restauradas.”

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